SCP Foundation: Iris Through the Looking Glass
(Seven Seas, volume único, publicado em 2018, traduzido em 2019 [Early Digital] por Jackie McClure)
Não é lá essas coisas, mas eu estava esperando algo bem pior.
Eu nunca tinha ouvido falar e não fazia ideia de o que era essa tal de “SCP Foundation”. Um amigo meu que chegou em mim no Twitter e falou “Ou, lê isso aqui pra mim e vê oq acha pls”. Fiquei curioso o bastante para checar.
É um livro com uma quantidade enorme de problemas. Vou provavelmente passar um bom tempo citando tudo que eu desgostei nele. Então, para facilitar a minha vida, e talvez a sua, vou fazer uma listinha e expandir cada um dos itens:
- Narração horrível e confusa;
- Protagonista é um dos piores que eu já vi em LNs;
- Posição esquisita que não agrada muito nem quem é recém-chegado, nem quem já é fã de longa data da “franquia”;
- Clima desconexo, indo de 8 a 80 DO NADA em diversos momentos;
- Cada capítulo parece mais uma short story do que uma continuidade narrativa;
- A questão de que aparentemente eu não sou fã desse gênero de histórias.
Ufa.
Vamos lá:
A narração é em primeira pessoa, do ponto de vista do protagonista, mas… Ela é super excêntrica, com escolhas estilísticas que eu cheguei a pensar que teriam algum motivo para ser, mas… não? Foram feitas apenas para parecer “maneiro”? Ao custo de dificultar a leitura e deixá-la mais truncada.
O protagonista é fraco. Muito mal-escrito e os poucos resquícios de personalidade que ele recebe em certos momentos acabam se contradizendo. Eu simplesmente desisti de tentar entender o moleque antes mesmo de chegar na metade da leitura, pois estava forçando minha suspensão de descrença à níveis que eu não aguento.
Como alguém que se encaixa no lado dos “recém-chegados”, estou mais confiante nessa opinião do que na do outro lado, mas ainda acho que ambas estão válidas: Pra mim, eu estava numa posição e num nível de conhecimento próximos ao do protagonista, o que, em teoria, deveria fazer com que eu aprendesse, aos poucos, sobre as coisas novas da situação que ele se encontra, e algo fosse construído em cima disso, principalmente com o uso da confusão e do esteriótipo de “peixe fora d’água” dele. Mas o que eu recebi é um protagonista que recebe uma bomba nuclear de informações de uma única vez, e ao invés de ter a reação QUE SE ESPERARIA de alguém na posição dele, temos uma das reações mais APÁTICAS que eu já vi, fazendo com que eu mesmo ficasse sem vontade de entender mais pela simples falta de interesse do personagem.
Já pra quem já conhece a franquia, acredito que ao menos metade do livro vai ser bem chato, pois não passa de descrições e explicações que a pessoa muito provavelmente já conhece. Daí fica a pergunta: Quem exatamente era o público-alvo disso? Não consigo deixar de pensar que tentaram achar um meio-termo e não conseguiram achar um ponto muito equilibrado.
Um negócio que me pegou MUITO MESMO foi a mudança drástica de clima entre capítulos (e, as vezes, até mesmo dentro de um mesmo capítulo). Os saltos entre cenas cômicas e cenas sérias, entre coisas fofas e coisas assustadoras era sempre muito brusco, como se o timing tivesse sido mal planejado. Em particular, achei o nível de gore no capítulo 3 um pouco além da conta. Já dropei coisas por menos. Acabei pulando alguns parágrafos para não precisar passar mal. E as cenas de humor nem acabaram sendo tão engraçadas assim. Me arrancaram um outro risinho aqui e ali, e olhe lá.
A questão dos capítulos serem meio independentes é algo que parece ser um “problema” de volumes únicos (que também aconteceu no isekai da pizza, por exemplo): Existe algum tipo de continuidade, mas ela é tão irrelevante para o acontecimento principal do capítulo, que muitas vezes eu cheguei a achar que elas se sairiam melhor como short stories REALMENTE independentes, ao invés de forçá-las nessa tentativa malfeita de continuidade. Acredito que cortando as partes “desnecessárias”, daria para focar melhor nos pontos legais de cada causo.
Por fim… Acabei descobrindo muito rapidamente que eu não sou fã desse tipo de história. O prólogo me deixou intrigado, pois teve uma narrativa bem próxima de um thriller, um mistério de detetive, que estava coberto de dúvidas, fazendo parecer que era impossível de entender, mas que poderia ser resolvido no final. Eu estava animado!
Mas com o passar das páginas, percebi que, por ser uma história sobre o “sobrenatural”, não existe e não existirá uma “explicação” para nada. A explicação para o sobrenatural é simplesmente “sei lá irmão kkjk”.
E isso me broxa muito, sabe? Mesmo em histórias onde existe magia, ela normalmente segue regras, tem leis que ditam como a magia funciona, etc. Mesmo sendo algo “extraordinário”, ainda tem lógica por trás. Mas isso? Mas aqui? Nada faz sentido pois não existe uma lógica. Não precisa existir uma lógica. A lógica é não ter lógica. É complicado. Eu não gosto desse tipo de narrativa.
Mas…
Nem tudo foi só tristeza.
Tirando o protagonista, eu senti que TODOS os outros personagens foram razoavelmente interessantes e bem desenvolvidos. Bem, claro, tem a questão de infodumps enormes, especialmente no começo… Mas depois que isso passa, dá pra perceber que esses personagens “originais” (confesso que não fui procurar mais a fundo, mas ao meu entender, eles foram criados pra LN? Me corrija se eu estiver errado) foram elaborados para serem legais de ler, ao mesmo tempo que exploram os seus respectivos papéis de mostrar as loucuras da Fundação.
Em particular, gostei do Dr. Goldman e da Dra. Selkie, e como o capítulo focado neles conseguiu equilibrar os diversos fatores diferentes que eles estavam tentando trazer. Acho que ficou claro que “equilíbrio” não é algo que esse livro faz bem, então preciso elogiar quando conseguem.
Por fim, embora não tenha sido uma leitura extraordinária, eu sinto que eu me diverti mais conhecendo e aprendendo sobre cada SCP pela novel do que eu poderia ter ao ler uma página numa wiki. Ser parte de uma narrativa, com personagens e acontecimentos, ao invés de simplesmente um “relatório”, torna a atividade bem mais engajada, ao menos pra mim.
Ah, uma última coisa. Desculpa, tinha tantos pontos ruins que eu acabei esquecendo de um: Eu fiquei bem decepcionado com as ilustrações. Poucas e bem fracas. Só tivemos DUAS coloridas e uma delas eu nem sei de que momento que é, de tão genérica que ficou. Não desgosto do estilo do artista, mas… Deixou a desejar.
Então é. Sei lá. Não sei muito bem o que concluir agora. Não sei nem dizer se é uma “leitura leve” ou “pesada” pois eu tive que parar de ler no meio pois eu simplesmente FIQUEI EXTREMAMENTE DOENTE de um dia pro outro. Mas é um livro curtinho (209 páginas), e cada capítulo é bem “fechado”, então dá pra ler em pedacinhos.
O final é daqueles que te faz revirar os olhos, mas ele é TÃO ÓBVIO que você nem fica bravo, só… decepcionado.
Eu recomendaria a leitura para alguém? É complicado. Acho que se você gosta de coisas curtas e gosta de coisas “sobrenaturais e sem explicação”… Uh, com certeza deve ter algo melhor pra você por aí, mas esse aqui não será ofensivamente ruim. É tipo um 5.5/10 se você curte o gênero.
Eu descobri que não curto, então…
Ao menos valeu como experimento social.
E eu não consegui encontrar essa LN no MAL para adicionar na minha lista de leituras completas… se alguém encontrar, ficaria agradecido.