e num dia, sem grandes descobertas passou da letargia para o ócio, o arroubo cego mas honesto e dado em querer sentir e repartir hálitos, garfos de comida, roupas e peles como no cinema, o deslumbramento e movimento das cores a luz e a água a acontecerem tão perto, realmente perto.
Deixou-se levar por aquela probabilidade clássica, dum mais um é igual a dois e mais nada se opõe, nem as diferenças de calcanhar, nem os contrários dos números que os distanciam, nem tão pouco a poesia sublinhada a encurtar emoções e metáforas do coração.
Tudo era pequeno e vencível…tudo parecia encaixar-se na oportunidade e no intervalo do talante. Sem a âncora do molde ideou-se mesmo assim a teia dos cérebros, o contorno dos beijos, do timbre das vozes que se prometem e dos corpos que criam a beleza do que é íntimo e fugaz.
A mudez do gira-discos e aquela música favorita deixou de tocar, talvez versasse uma comoção do passado que se cantou sem se falar, talvez fosse o primeiro sinal de toda a babel por vir…
A austereza dos cérebros, crispam pela verdade e moral, aturdidos na curva da circunstância.
Um sem razão, implacável e céreo
O outro tecia entre desgosto a suavidade de um perdão
desestimado
esquecido
sem rosto e sem a voz que deu lugar ao desencanto
e tudo em remanso foi indo nos dias passados largados ao tempo dos afazeres
não se saberá onde irá chegar todo este veneno que um dia foi enlevo e dádiva
sabe-se porém, que não chegou sequer a fundear nem a qualquer memória de salvação
restos dos restos a preto e branco e como nos filmes mudos vai-se esquecendo aos poucos,
a voz, a velocidade dos gestos
o cheiro da pele,
no corpo
sem serventia
amou-se.