Dez anos: luta, conquistas e um caminho longo pela frente

Paula Estivalet
3 min readAug 24, 2016

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Ela sobreviveu para contar e tornou-se lei

Aos 71 anos, Maria da Penha continua lutando para que a lei batizada com o próprio nome ajude tantas outras mulheres. Foto: Reprodução

Maio de 1983. Enquanto dormia, uma mulher levou um tiro nas costas que a deixou paraplégica. O autor do crime? Seu próprio marido, Marco Antônio Heredia Viveros, por duas vezes julgado e condenado. No entanto, saiu em liberdade devido a recursos dos seus advogados.

7 de agosto de 2006. Nesta data, o nome dela virou lei. O Congresso aprovou a Lei 11.340/06. Um marco na luta contra a violência doméstica. Então, sua história encorajou muitas mulheres a enfrentar e denunciar seus agressores que, na maioria das vezes, são os próprios companheiros.

Em 1994, publicou o livro “Sobrevivi… Posso Contar” que em 1998 serviu de instrumento para, em parceria com o CLADEM (Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher) e CEJIL (Centro pela Justiça e o Direito Internacional) denunciar o Brasil pela maneira como eram tratados pela justiça brasileira, os casos de violência contra a mulher.

Maria da Penha Fernandes, 71 anos, é farmacêutica bioquímica pela Universidade Federal do Ceará. Atualmente, está presa em uma cadeira de rodas.

Ao prestar depoimento em uma delegacia, ela se decepcionou com a maneira em que a escrivã tratou o caso. “O que tu fez com esse homem para ele fazer tanta barbaridade contigo?” Foi uma decepção. Maria estava procurando ajuda, não esperava ser julgada e culpada pelas agressões.

O caso de Maria da Penha ganhou repercussão internacional e, em 2001, ou seja, quase 20 anos depois, o Brasil foi condenado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos por omissão e tolerância em relação à violência contra mulher.

A Lei 11.340/06 prevê a criação de uma rede de assistência psicológica, jurídica, social e até casas de apoio e abrigo às vítimas.

Em entrevista ao SBT RS, a farmacêutica reflete sobre os dez anos da lei. “A gente pode comemorar o fato das políticas públicas que fazem com que a lei saia do papel e funcione. Isso aconteceu em todas as capitais”.

É claro que ainda existe um caminho longo e cheio de lutas e conquistas para todas as mulheres. Por exemplo, só aqui no Rio Grande do Sul, de janeiro a setembro do ano passado, foram 64 mortes. 20% a mais que no mesmo período de 2014.

Esses dados são da Secretaria de Seguranca Pública do Rio Grande do Sul. E, os números mais atualizados são de 2015.

De 2012 a 2015, as denúncias de Ameaça aumentaram em 2014 e, diminuiram em 2015.
Os casos de denúncia de Estupro caíram pra menos da metade.
Já os casos de Feminicídio consumado, aumentaram 20% de 2014 para 2015.

Reflexos no Rio Grande do Sul

Em 2005, o estado possuia apenas 8 delegacias especializadas em atendimento à mulher. Atualmente, são 22. Além disso, são 19 postos voltados à mulheres.

Foi criado uma Patrulha Maria da Penha, que realiza visitas periódicas às residências de mulheres em situação de violência doméstica e familiar. E verificar o cumprimento das medidas protetivas de urgência e reprimir atos de violência. São 37 Patrulhas, em 28 cidades.

E, ainda, são 22 centros de referência a mulher que, em um só lugar, é possível encontrar serviços psicossociais e jurídicos.

Saiba mais:

Entrevista produzida para a Agência Senado em 8 de agosto de 2016.

Instituto Maria da Penha (IMP)

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