Amoedo (Novo) assusta a concorrência

Paulo Buchsbaum
6 min readAug 28, 2018

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Amoedo: Vidraça da vez. Sinal que incomoda

A galera está ficando assustada com o candidato João Amoedo do partido Novo.

Aí eles estão espalhando um texto para tentar assustar seus apoiadores. que já tem 10.000 compartilhamentos e mais de 8 mil curtidas.

A tal de Steh Papaiano é bolsonarista roxa e está vestida na foto de perfil do Facebook com o candidato à deputado estadual em São Paulo, Douglas Garcia, pelo PSL, que deve ser alguma relação pessoal com ela.

Na capa do Facebook dela aparece no fundo o símbolo da organização Direita São Paulo, organização a qual ela e Douglas Garcia constam como coordenadores. Lá está ela segurando o livro “Bolsonaro: Mito ou Verdades”. Steh também se posiciona como representante nacional do Escola Sem Partido.

Para quem não sabe, o PSL é o Partido Social Liberal, número 17, a legenda de aluguel que foi tomada de assalto pelo Bolsonaro e é lar de vários pastores, incluindo nomes polêmicos como Marco Feliciano e Pastor Everaldo.

O texto tem o estilo de uma redação de esquerda e não de direita, com esse papinho raso e conspiratório de capital financeiro do mal. Portanto, no final, não sei se Steh é a autora original no texto. A Internet não traz referência mais antiga.

Há um efeito duplo nisso.

Um é o efeito pretendido, para aqueles que acreditam literalmente no teor do texto e outro é o efeito oposto, ao chamar a atenção de parte da sociedade para o nome de Amoedo, que ainda é bastante desconhecido fora de certos nichos.

Lógico que isso tudo circula muito mais na bolha de renda social mais alta das Redes Sociais, mas, no final, o saldo deverá ser positivo para João Amoedo, o candidato do Novo à presidente.

No geral, trata-se de um texto bem urdido, porque muitos dos fatos são verdadeiros, mas não aqueles que incriminam João Amoedo.

a) “ … Gustavo Franco foi presidente do Banco Central na gestão FHC e chupem a manga com caroço e tudo, um dos principais investigados no caso Banestado …”

Resposta: Falso. O link que o texto indica, não fala da ação penal nem cita Gustavo Franco, assessor econômico do Partido Novo. Gustavo Franco nunca chegou a ser réu da ação penal do Banestado.

Ele teve uma ação administrativa. a CPI do Banestado apontou o ex- presidente do BC, Gustavo Franco, como o principal responsável pela evasão de divisas através de cinco bancos com agências em Foz do Iguaçu entre 1996 e 2002 em 6 de dezembro de 2004. Só que o relator era o deputado José Mentor (PT/SP), então a conclusão não é lá muito imparcial.

Consta no Wikipedia (que não pode ser 100% atestado como verdade, já que a referência é o próprio livro do acusado), que Gustavo Franco foi inocentado de todas as acusações, tanto no TCU (Tribunal de Contas da União), onde tudo começou, quanto na ação proposta pelo Ministério Público. A consulta ao STJ pelo nome completo dele não retorna nenhum resultado.

A história do Banestado é, de fato, escabrosa, mas acabou não dando em nada porque os condenados pelo Moro, dois quais Gustavo Franco nem constava como réu, terminaram absolvidos pela segunda instância.

b) “…Obviamente, o modus operandi Tucano, que é blindagem judicial não deixou todo o caso ir pra frente, o que sobrou senhores foi dívida em cima de dívida pra gente — CONTRIBUINTES …“

Resposta: É uma afirmação meramente ideológica, sem quaisquer fatos concretos.

c)”… O BBA triplicou de patrimonio nos 4 primeiros anos do governo FHC, ao passo que a divida praticamente dobrou em montante de juros…”

Resposta: Verdade.

d) “…Recentemente, a dívida do Itaú, que somada às multas ultrapassava 20 bilhões de reais foi perdoada por uma canetada de um Conselho, o CARF…”

Resposta: Verdade, mas o governo recorreu. E o Amoedo, a princípio, nada tem a ver com isso.

e) “…Um exemplo do papel político do capital foi a compra pelo Itaú do Unibanco, no qual Amoedo era vice-Presidente …”

Resposta: Parcialmente falso. Na época da fusão em 2008, João Amoedo era membro do Conselho de Administração, o que é bem diferente de ser vice-presidente, cargo que ele saiu em 2005.

Agora a fusão do Itaú e Unibanco foi um óbvio abuso de cartelização bancária e jamais deveria ter sido aprovada pelo CADE, então controlada pelo PT.

No entanto, o ente privado tenta sempre auferir vantagens, desde que dentro da lei. Cabe ao poder público impor limites para evitar a formação de oligopólios, que é o que assistimos hoje na área bancária.

f)”… Senhores, basta a lógica agora, 425 milhões declarados pelo candidato, o que ja seria surreal em um país de livre mercado, este mesmo candidato integra associação think thank do especulador Soros …”

Resposta: De todo o modo, ganhar dinheiro em si não é crime. Participar de um think thank com o Soros, também não.

João Amoedo iniciou sua carreira no Citi e em 1988 ingressou no BBA, tornando-se depois Diretor Executivo. Em 1999 assumiu a gestão da Fináustria, financeira do banco, onde aparentemente fez uma ótima gestão, tirando a empresa do vermelho. A Fináustria foi comprada em 2002 por 3 vezes seu valor patrimonial (R$ 650 milhões) dentro do negócio de R$ 3,3 bilhões que transformou o BBA em uma empresa do Itaú. Com certeza, Amoêdo era acionista relevante da Fináustria, então essa aquisição foi um importante alavancador de sua fortuna inicial.

Depois ele assumiu a vice-presidência do Unibanco em 2004, passando em 2005 para o Conselho.

Em resumo, é um meio possível de ascensão. Não há como saber, se aqui ou ali, ele passou a perna em alguém como atalho para chegar à sua fortuna. É impossível de fora saber o que aconteceu nos bastidores.

g)”…João Amoedo gerenciou, administrou e foi sócio das maiores instituições bancárias cujas relações políticas e de especulação contribui para taxas de juros exorbitantes, aumento de divida e perdão, na base da canetada, de crimes contra o sistema financeiro… “

Resposta: Mais uma vez o texto exala ideologia ao invés de discorrer sobre fatos. Bancos não aumentam a dívida. Governos perdulários a aumentam. Isso não parece um texto típico de um Bolsonarista, assim coloco em dúvida a autoria da Steh Papaiano.

Se for por essa linha, Paulo Guedes, que foi um dos fundadores do Pactual e também foi sócio fundador da JGP Gestão de Recursos, deveria ser demitido do posto de Posto Ipiranga do Bolsonaro.

h) “ … Próceres do sistema financeiro, como Fernão Carlos Botelho Bracher e Anis Chacur ja doaram R$ 100.000,00 para a campanha de Amoedo...”

Resposta: Verdade, mas também não é crime. E, vamos combinar, que fortuna, hem! Repare que o texto é ambíguo. Cada um doou R$ 50.000 totalizando R$ 100.000.

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O nojento dessa história é ver novamente a estratégia do assassinato de reputações sendo empregada, através de falsidades e meias-verdades. Dessa ver não pela esquerda, mas pelos apoiadores do Bolsonaro, que são representantes dessa nova direita burra e tosca, que fazia parte do coro que tanto criticava essa mesma postura das mídias de esquerda.

Querem criticar o João Amoedo, levantem um fato verdadeiro sobre ele ou seu passado. Combatam as suas ideias. Ou até defendam um candidato com mais chances eleitorais.

Entretanto, produzir fake news, ainda que bem embaladas, é simplesmente abjeto.

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Não concordo com todas as ideias do João Amoedo e acho ele um pouco ingênuo diante do mar de crocodilos que é o Congresso Nacional.

Um governo é um animal muito diferente do que uma empresa.

No entanto, acredito que ele seja bem intencionado, ouve as pessoas, é inteligente o suficiente para mudar de ideia em alguns quesitos. Assim, ele teria o meu voto, caso chegasse junto a ponto de ameaçar Bolsonaro, Haddad ou Ciro.

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Paulo Buchsbaum

Consultor de negócios, empreendedor e escritor, politicamente de centro.