Uma resposta ao Papa

Thinley Norbu Rinpoche

Padma Dorje
14 min readNov 13, 2017

Quando demônios invejosamente lhe atiraram cruéis e farpadas flechas
Você respondeu com suaves e delicadas pétalas de flor.
Quando demônios brutalmente usaram um canhão estrondoso contra você,
Você permaneceu no pacífico silêncio do samadi de sabedoria.
Você nem mesmo fitou com malevoência os inimigos invejosos que o odiavam. Sendo o protetor dos seres perante os horríveis fenômenos samsáricos,
Como não podemos louvá-lo e venerá-lo,
ó onisciente príncipe Sidarta, Buda Shakyamuni?
(De um erudito da terra das neves)

O Papa [João Paulo II] escreveu [em sua encíclica Além do Limiar da Esperança, preparada em conjunto com o então Cardeal Ratzinger, Papa Bento XVI]:

A iluminação vivenciada pelo Buda veio da convicção de que o mundo é ruim, de que é a fonte do mal e do sofrimento do homem.

De acordo com o ponto de vista budista, a iluminação do Buda não pode ser descrita, uma vez que está além do entendimento da mente comum. Apesar de a iluminação ser realmente inexprimível em palavras ou pensamentos, que para o benefício dos seres sencientes pode ser dito que ela é como uma indicação de suas qualidades imensuráveis, uma sabedoria sempre positiva, inconcebível e não-dual. É especialmente peculiar ouví-la sendo descrita pelo Papa como uma convicção sobre o mal, sofrimento e ruindade do mundo.

No budismo também não é dito que o Buda “vivenciou” a iluminação, ou que passou por sua experiência. A iluminação está além da experiência. A experiência ocorre dentro da dualidade de sujeito e objeto, e não há existência de sujeito ou objeto na iluminação. A experiência vem do sentimento, o sentimento pertence aos seres sencientes, não aos budas completamente iluminados. A iluminação está completamente além tanto do sentimento quando do torpor. […]

De acordo com os ensinamentos do budismo, a fonte do mal não é mundo. A fonte de mal é a mente dualista, ou o ego apegado da mente, e o mundo é apenas um reflexo de nossa mente. É preciso entender que nos ensinamentos budistas, sem contradição intelectual, uma distinção é feita entre a mente de sabedoria do Buda e a mente dualista dos seres sencientes que ainda não atingiram a iluminação. De acordo com a mente de sabedoria de Buda, não há mal, e de acordo com as mentes dualistas dos seres sencientes, a idéia de mal deve ser purificada.

Do ponto de vista budista, é um entendimento errôneo referir-se ao mundo como tendo uma ruindade real e material. Este entendimento errôneo parece refletir a própria idéia do Papa de que o mal existe seriamente em algum lugar, externa ou imutavelmente […]. Entretanto, o Papa diz que são os budistas que vêem o mundo como ruim e então tenta mostrar que este é um ponto de vista negativo. Ele escreve:

A doutrina budista da salvação constitui o ponto central, ou talvez o único ponto, deste sistema. Ainda assim, tanto a tradição budista quanto os métodos derivados dela têm uma soteriologia quase que exclusivamente negativa.

Este entendimento errôneo é a base para a crítica do Papa em tentar estabelecer que

as doutrinas de salvação do budismo e do cristianismo são opostas.

É claro que há diferenças entre as doutrinas de salvação do cristianismo e do budismo. Por exemplo, o cristianismo está preocupado com a salvação da humanidade e não de outros seres. Apesar de o cristianismo ensinar que se deve ter misericórdia diante dos animais, também geralmente usam a desculpa de que os animais podem ser usados para o benefício dos seres humanos sob quaisquer circunstâncias, para o que quer que desejem. O budismo ensina que deveríamos ter compaixão por todos os imensuráveis seres sencientes, e que todos os seres sencientes devem ser respeitados porque cada um mantém o potencial para atingir o Estado de Buda. A salvação no budismo é para todos os seres. […]

Mesmo que o Papa tenha entendido errado a visão budista do desapego, ele talvez devesse comparar sua versão de desapego com a que é apresentada pelos cristãos na televisão, que advertem os telespectadores de que se fizerem algo errado, serão punidos por Deus. É muito como cristãos dizerem que as circunstâncias ruins no mundo externo implicam que Deus está punindo as pessoas. Se o desapego pessoal dos indivíduos é considerado ruim, o que dizer do mundo se tornar ruim devido à punição de Deus? Isso é pior do que o desapego. Isso não é compaixão. Uma punição real num mundo externo é pior que o desapego pessoal.

Os budistas acreditam que as circunstâncias ruins no mundo externo são o resultado cármico das ações ruins pregressas dos seres sencientes. Quando algo ruim acontece, os budistas não acreditam que isso se deva à punição divina; eles não acreditam que se deva culpar Buda ou Deus pelos resultados das próprias ações. De acordo com o budismo, é melhor tomar consciência do próprio carma e então tentar transformar o carma ruim em carma bom pela fé em Buda ou Deus, e ao ter amor pelos seres e assim criar e acumular mérito. Fazer esta escolha depende apenas da intenção de cada indivíduo. Caso olhemos para o espelho com uma careta no rosto, o que volta para nós é o reflexo de uma careta. Caso olhemos para o espelho com uma expressão alegre, a alegria nos é refletida. Quanto aos budas e Deus, acredito que apenas enviem bênçãos para os seres, já que essa é sua natureza pura. […]

O Papa escreve que, de acordo com o budismo

Salvar-se significa, acima de tudo, livrar-se do mal tornando-se indiferente ao mundo, que é a fonte do mal. Esta é a culminação do processo espiritual.

Entretanto, esta é uma representação errônea, já que a culminação do budismo é a liberação da mente deludida — que causa o carma — e da existência cíclica. Liberar-se do ego é a meta. O Papa parece estar responsabilizando os budistas de não terem compaixão e de abandonarem o mundo pelo desapego. Esta é uma distorção absurda. […] Em suas referências ao cristianismo, o Papa sente que é correto para os cristãos reconhecer que

“O mundo inteiro está sujeito à precariedade” “está sujeito à corrupção e mortalidade” “o mundo não é a fonte da felicidade última do homem. Ao invés disso, pode se tornar a fonte de sua ruína.”

Mas quando os budistas reconhecem estas mesmas características sobre o mundo, o Papa é crítico e o chama de:

“soteriologia negativa” “A convicção de que o mundo é ruim” e “consciência do mal que existe no apego do homem ao mundo…” […]

A aspiração da prática mahayana é o de não permanecer no samsara e o de revelar o Estado de Buda completamente iluminado com a mente de sabedoria e compaixão imensuráveis, para o benefício de todos os seres sencientes. Então, sem se afastar do estado da mente de sabedoria não-dualista, e ao mesmo tempo sem apego ao nirvana da paz pessoal, os budas e bodisatvas manifestam-se continuamente para beneficiar os seres de muitas formas, não apenas de formas pequenas e grosseiras, mas mesmo com a emanação física de corpos, com a expressão da fala que revela o Darma e também com a própria mente de grande compaixão. É ilógico interpretar a palavra “desapego” em relação ao budismo como se ela significasse indiferença, particularmente à luz dos ensinamentos Mahayana na qual a compaixão é a chave. É por isso que o Buda Shakyamuni disse:

Quem quer que queira atingir o Estado de Buda completamente iluminado
Não se foca em entender muitas coisas.
Entende apenas uma coisa.
O que entende?
A grande compaixão.
Quem quer que revele grande compaixão têm todas as qualidades de sabedoria do Buda à mão.

Se o Papa não ficasse enojado com os ensinamentos do Mahayana, ele talvez pudesse olhá-los e reconhecer que o ensinamento, prática e caminho principais para a iluminação do budismo Mahayana é o amor e a compaixão, e não apenas para os seres humanos neste mundo, mas para todos os seres sencientes em toda a existência, até que todo o sofrimento cesse. Isto é assim porque até que a mente dualista dos seres sencientes cesse, eles criam incontáveis novos reinos com seus conceitos, construindo os hábitos de infelicidade e felicidade, da mesma forma que mesmo na concepção de sonho de um único indivíduo pode haver incontáveis seres sencientes. Os seres sencientes — o que significa seres com mente — projetam a existência tangível e intangível dos infinitos fenômenos dualistas. Já que os seres sencientes e suas concepções são infinitos, a compaixão dos budas é infinita. É por isso que o Buda disse para liberarmos todos os seres sencientes e não apenas os seres humanos deste mundo.

De acordo com o Caminho do Bodisatva do veículo Mahayana, até alcançar a iluminação deve-se tomar os votos de bodicita de amar todos os seres, não apenas os seres humanos deste mundo específico. Quando a iluminação é atingida, não há fenômenos de seres sencientes ordinários, que vêm do hábito dualista. Quando o hábito dualista é purificado, sem se afastar do estado da permanência inabalável na iluminação, manifestações de sabedoria ocorrem incessantemente pela compaixão não-obstruída por todos os seres sencientes ordinários, devido ao poder das preces anteriores, feitas durante muitas vidas para ajudar os seres. Quando alguém planta uma semente de maçã, mesmo que ele não esteja mais lá quando a semente se transformar numa árvore, as maçãs seguem aparecendo, novamente fazendo outras sementes, que novamente se tornam maçãs. Mesmo que a árvore não mantenha conceitos ou tenha a intenção de dar frutos ou de realizar os desejos dos seres pelo fruto que ela produz, o resultado do fruto segue presente. Do mesmo modo, o amor e a compaixão surgem naturalmente com a prática espiritual, e as qualidades da iluminação seguem inevitáveis e sem esforço. A compaixão ilimitada das atividades dos budas são o fruto espontâneo de suas aspirações anteriores por muitos éons. […]

O Papa diretamente diz que o desapego budista é uma indiferença ao mundo. Ele diz que os budistas

liberam a si mesmos apenas através do desapego ao mundo, o que é ruim. A totalidade desse desapego não é a união com Deus, mas é o que é chamado Nirvana, um estado de perfeita indiferença em relação ao mundo.

Nirvana não significa indiferença, que é uma palavra que carrega a conotação negativa de não ter qualquer interesse ou preocupação pelos outros. […] [N]irvana é iluminação, e a iluminação é o Estado de Buda. Significa o atingimento da paz sublime pela cessação de todos os fenômenos dualistas pela purificação dos obscurecimentos [kleshas, aflições mentais]. Mas o Papa acha que o desapego budista ao mundo é ruim, implicando indiretamente que ele não inclui o amor, e que o desapego cristão é bom já que ele inclui o amor. […] Aparentemente, o Papa não viu o amor budista com seus próprios olhos nem ouviu sobre o amor budista que foi visto através dos olhos de seus conselheiros, já que ele decidiu que os budistas não amam a Deus, ou ao mundo e à humanidade, e assim ele tem responsabilizado os budistas com essa acusação. A decisão do Papa — de que os budistas são despreocupados com o amor — indica uma completa falta de conhecimento ou de entendimento do budismo. Entretanto, mesmo que o Papa não tenha visto expressões do amor da realidade neste mundo da realidade pelos budistas, isso não significa que elas não existam. […]

O Papa diz:

O budismo é, em larga escala, um sistema ateísta.

Ateísmo significa não acreditar em Deus, ou mais geralmente, não ter qualquer visão espiritual. O Papa nunca deve ter entrado em nenhum templo budista, já que eles estão cheios de imagens da crença no Buda. Mesmo que o Papa não tenha visto o Buda em pessoa, devido a sua falta de devoção pelo Buda, ele deveria ser capaz de entender pela evidência de tais imagens existirem que os budistas acreditam no Buda. Mesmo que o Papa nunca tenha entrado em um templo budista em pessoa, ele poderia pelo menos ir a um museu com uma exibição cultural asiática que mostre imagens budistas como pinturas, estátuas e outras artes espirituais retratando o Buda, o que mostra que outros acreditam no Buda, e perguntar a um curador que entenda do assunto, “Por que surgiram estas imagens de Buda?” Antes de o Papa dizer que o budismo é ateísta, seria melhor que ele levasse em consideração todos os objetos de veneração budista que existem no mundo, que simplesmente atestam que o budismo não é desprovido de fé. Mesmo que o Papa não aceite o Buda, ele ainda tem de aceitar e considerar que a palavra Buda existe. Isso por si só revelaria que o budismo tem um objeto de fé e de foco, o que significa que ele não é um sistema ateísta. […]

O Papa compara Jesus a Maomé, Sócrates e Buda, e então diz sobre Jesus:

Ele é ainda menos parecido com o Buda, com sua negação de tudo o que foi criado.

A fim de elevar Jesus, o Papa denigre ao Buda ainda mais do que a Maomé ou do que a Sócrates. Entretanto, a natureza e as qualidades dos seres sublimes não podem ser colocadas em uma balança que determine seu valor, como se fossem objetos comuns. Nada com base em concepções materiais pode ser afirmado sobre os seres sublimes. É desnecessário colocar os seres sublimes ou as religiões em um campeonato uns contra os outros. Do mesmo modo, sem estudar os ensinamentos do Buda, o Papa julga todas as religiões do mundo, e parece querer classificar as religiões de acordo com a sua similaridade com o cristianismo. O Papa é como o encarregado das Olimpíadas, dando uma medalha de ouro ao cristianismo, uma medalha de prata aos judaísmo e uma medalha de bronze ao islã. O budismo está desqualificado […].

A maioria das críticas do Papa em relação ao budismo podem ser sintetizadas com a inferência de que o budismo tem um atitude negativa e de que o cristianismo tem uma atitude positiva. Mas ele usa uma forma muito flexível de argumento para tentar provar isto, enfatizando vez após vez o seu apoio à visão cristã com provas que seriam também aplicáveis ao budismo, bem como impugnando a visão budista com argumentações que, ou são também aplicáveis ao cristianismo, ou não seriam de forma alguma aplicáveis ao budismo. Ele também faz com que o mesmo tópico seja negativo caso esteja relacionado ao budismo e positivo caso esteja relacionado ao cristianismo. Assim, ao não perceber como isso é ilógico, ele apenas demonstra preocupação com algo incerto. Para mim isto só pode ser uma característica da mente de sabedoria não-dual, além de qualquer teoria ou lógica, e isso me faz ficar muito feliz e otimista em relação ao Papa. […]

Caso, no entanto, o Papa esteja intencionalmente tentando fazer com que as pessoas se voltem contra o budismomesmo que isso não signifique que todos os cristãos seguiriam suas investidas — , seria isto algo negativo ou positivo? Não é espantoso que o Papa retrate o budismo tão negativamente, seja para o propósito de converter aos pessoas ao catolicismo, seja para impedi-los de se tornarem budistas? O Papa pode ter autoridade sobre os católicos com relação a interpretação da própria doutrina do cristianismo, mas não do budismo. Ao criar debates sobre outras doutrinas, isso pode abrir a porta para contestações de sua própria tradição. […]

O Papa diz:

O misticismo carmelita começa onde o budismo termina.

Acredito que o misticismo cristão exista porque, de acordo com os diferentes fenômenos dos seres sencientes, qualquer coisa pode surgir para eles, incluindo as aparências ilimitadas da espiritualidade. Além disso, qualquer coisa, certa ou errada, pode ser dita sobre elas. Mas como o Papa sabe onde o budismo termina? Mesmo ao que apenas ler textos do Buda Shakyamuni, pode-se saber que até que toda a existência cíclica se esvazie, as manifestações dos budas não terminarão. O Buda Shakyamuni, o quarto Buda, é uma manifestação de pelo menos mil budas completamente iluminados, cada um deles com um nome. De acordo com o Mahayana, realmente há também incontáveis budas além destes que são listados pelo nome. Na medida em que seres sencientes existirem, ensinamentos budistas para estes seres surgirão. Até que os seres sencientes terminem, o budismo não terminará. Essa é a prece dos bodisatvas e a atividade dos budas. Mesmo neste mundo, apesar de o Buda Shakyamuni ter vindo e girado a roda do Darma, os seres algumas vezes podem apenas ver os budas que surgiram em lugares e tempos específicos, e não são capazes de percebê-los em outros lugares e tempos devido ao seu próprio carma e falta de fé. Ainda assim os budas estão sempre em todos os lugares. De acordo com os textos Mahayana, todo ser senciente tem uma Natureza de Buda. A Natureza de Buda pode estar dormente, mas nunca cessa até que a iluminação seja atingida, e a qualquer momento pode ser desperta devido a boas circunstâncias, tais como acreditar e ter fé no Buda e nos outros reflexos desta Natureza de Buda, ao ouvir a fala do Buda, ao ver uma imagem do Buda ou encontrar professores sublimes e seus ensinamentos. Assim s fenômenos ligados ao Buda se abrem na mente destes seres. […]

O misticismo budista existe tanto no veículo causal quanto no resultante. No misticismo do veículo Mahayana causal, a base da Natureza de Buda é intrísica dentro à mente ordinária. Só permanece oculta porque não é reconhecida, mas esta base é, desde o início, mística. Com a meta de atingir a iluminação, há muitas preces que podem ser ditas com profunda devoção a fim de beneficiar incontáveis seres, seja em grupo ou individualmente, e há muitos métodos do caminho da iluminação que podem se aplicados, que estão além do pensamento ordinário e que não são facilmente entendidos pelos seres ordinários. Então, de acordo como o nível do caminho da iluminação, o misticismo budista é extremamente vasto. Quando a natureza intrínseca de Buda se abre com preces, veneração, bênçãos e meditação, o hábito dualista se reduz, e os fenômenos da sabedoria não-dualista se expandem. Mas isto é para os seres afortunados. Os seres desafortunados que não a reconhecem ou concebem, não são capazes de pensar a Natureza de Buda deste modo.

De acordo com o ponto de vista da base, há o reconhecimento da natureza intrínseca de Buda e de seus fenômenos. Então, pratica-se de acordo com o caminho da iluminação, e os fenômenos do Buda aos poucos se tornam cada vez mais claros. Finalmente, os fenômenos do Buda, não-obstruídos, aparecerem translúcidos, e nisso não há um reconhecimento subjetivo da Natureza de Buda, uma vez que já não há um praticante subjetivo: aquele que reza e o objeto da prece se revelam inseparáveis. Nessa momento, que é atemporal, não há nenhum conceito de misticismo que permaneça, mas sim a atividade natural das manifestações de sabedoria incessantemente estáveis, o que é o resultado. Estas são a base, o caminho e o resultado do misticismo budista. Além disso, base, o caminho e o resultado são elas mesmas inseparáveis. Há muito que a estudar sobre isto, mas não é algo que apenas se estuda, mas se pratica com muitos meios hábeis. Porém, não quero dar insônia ao Papa fique com insônia. O poder da sabedoria mística dos budas não pode ser encontrado dentro dos cálculos ordinários. É impossível porque é inimaginável. […]

[C]omo um ato de generosidade, por que o Papa não pode dar aos budistas a oportunidade de serem budistas? Uma vez que o Concílio disse que o Espírito Santo trabalha efetivamente até mesmo fora da estrutura visível da Igreja, e o papa diga que ficou:

convencido disto em numerosas ocasiões, tanto visitando os países do Extremo Oriente quanto encontrando representantes dessas religiões,

por que ele não pode pensar que o budismo seja uma manifestação do Espírito Santo? Mesmo que o Papa acredite que a única salvação se dá através de Jesus, ele ainda assim pode tomar conhecimento, como ele cita de acordo com o Concílio, de que outras religiões muitas vezes refletem um raio de luz que ilumina todos os homens. […]

Apenas estou respondendo às questões que me foram feitas quanto às palavras do Papa sobre o budismo. Não tive intenção de ser desrespeitoso quanto ao catolicismo. Espero e rogo que esta resposta a idéias incorretas sobre o budismo não sejam danosas para os seguidores do Papa. Escrevi isto para o benefício dos cristãos e dos budistas, e rogo que o Papa viva bastante para aumentar o desenvolvimento da espiritualidade, sem conflito ou perturbação entre indivíduos, grupos ou religiões, devidos à interpretação errônea de quasiquer doutrinas, e que os seguidores de todas as religiões possam viver em harmonia.

(Thinley Norbu. Welcoming Flowers from across the Cleansed Thereshold of Hope: An answer to the Pope’s criticism of Buddhism. [Flores de Boas Vindas do Agora Límpido Limiar da Esperança: Uma resposta às críticas do Papa ao Budismo New York: Jewel Publishing House, 1997. Tradutor desconhecido. Revisado em 2017 por Padma Dorje.)

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