Minha primeira vez num bloquinho infantil

Paola Oliveira
5 min readFeb 25, 2017

--

Pêzinha feliz e contente com o Pikachu e o estandarte do Tindotetê

Quando eu soube que ia ser tia, lá em novembro de 2014, muita coisa mudou na minha vida. Eu passei a ser uma pessoa um cadinho mais responsável, pensando no exemplo que eu deixaria no mundo. Eu larguei festa pra comprar presentes pro meu sobrinho (sdds a saga do pinguim de 80 reais), eu larguei mais festas para viajar pra visitá-lo, eu dei livros meus que eu amava de presente (sdds meu Contos de Beedle, o Bardo), eu não sabia mais os funks da moda mas eu tinha aprendido todas as músicas do Show da Luna e do Palavra Cantada, eu larguei de curtir páginas de memes e comecei a curtir páginas sobre maternidade, eu parei de gastar comigo pra gastar com ele (foi assim que a gente teve camisetas iguais do Harry Potter). Mas até agora o momento mais inesperado da minha saga como tia se deu justamente sem o meu sobrinho.

Criançada tomando conta da Bateria da Cásper!

Em 2015, numa das muitas páginas que eu tava acompanhando, eu ouvi falar sobre um bloquinho infantil, o Tindotetê. Era o primeiro ano que ele ia sair, com uma proposta de ser um bloquinho família, liberado pros pais curtirem com os pequenos. Benicio só tinha seis meses, e viajar com ele pra sp, prum carnaval, era loucura, óbvio. Fiquei de longe acompanhando a organização, e quando saíram as primeiras fotos e vídeos do bloquinho, fiquei pensando em como eu queria estar lá, mesmo sem o pequeno junto.

Veio 2016, e com ele, uma formatura em sp. Quando eu soube que a formatura ia ser 18 de fevereiro, e avisei os amigos mais chegados, todo mundo veio: “pê, vamos no casa comigo/balatubloco/eita, fudeu!”. E aí eu vi que o Tindô ia ser no mesmo dia que a formatura. Lá vamos nós dar olé nos amigos. “Gente, eu vou pra outro bloquinho, um bloquinho de criança”. Claramente ninguém acreditou que eu ia num bloquinho de criança, porque né, com três bloquinhos ~normais~ acontecendo no mesmo dia, que que essa louca ia fazer, sem criança, num bloquinho de criança????

Bolhas de sabão. MUITAS bolhas de sabão!

Lá vamos nós né. Chega em sp com 7kg nas costas, uma mochila gigante, vamos achar o metrô, se perder no metrô, achar gente com criança fantasiada, descobrir que ninguém sabe onde é, e bora procurar onde fica a tal praça que cada gps indicava prum lugar. Tava sol, tava calor, meu almoço tinha sido um lanche de procedência duvidosa num boteco qualquer, mas segue em frente, achamos a praça, bora encostar a mochila em algum lugar e olhar ao redor.

E MEU DEUS QUANTA CRIANÇA. Euzinha do auge dos meus vinte e dois e meio nunca tinha visto tanta criança fantasiada junta na frente, sério! Tinha Chaves, tinha Masha, tinha Coringa, Batman, Hulk, Frozen, Galinha Pintadinha, tinha um monte de personagem que eu não conhecia também. Todo mundo ainda meio envergonhado, esperando a movimentação começar. E começou. E de repente era criança correndo prum lado, caindo pro outro. Era criança chorando, rindo, gritando que a gente num sabia se era riso ou choro. Criança entrando no meio da bateria e as pessoas tentando tirar sem atrapalhar. Era mãe e pai pedindo ajuda pra trocar fralda/olhar o pequeno/dar de comida no meio da bagunça.
E era Pêzinha sem criança perdida lá no meio.

Joaninha entregando os panfletos com o samba enredo do bloquinho

Ir num bloquinho de crianças sem criança me fez ser tia de todo mundo que quis. Quem me conhece pessoalmente sabe, mas sempre vale ressaltar: muitas vezes a minha idade mental é a mesma das crianças, o que fez coisas engraçadas ocorrerem. Me fez virar bff da Batman de tutu que tirou a máscara e me pediu pra colocar (me dando ela de presente no final), me fez ser a Monster High (por causa do cabelo) da Elsa que tava morrendo de calor mas não queria tirar a fantasia, me fez empurrar o Hulk no balanço (pra ele pular quando tava no alto, sem me avisar e me matando de susto), me fez brincar de pega-pega com o Super Homem (e perder vergonhosamente), me fez ter que me arrumar em tempo recorde porque eu não queria mais largar as crianças e tinha que estar arrumada pra formatura. Interagir com tanta criança diferente me fez ser uma pessoa muito realizada, e com certeza uma tia com um tanto mais de experiência (gente, vcs já tentaram dar comida pruma criança que não para de pular? é impossível!). Óbvio que eu senti falta do meu próprio sobrinho nesse bloquinho (como eu sinto na maior parte do tempo, já que eu vejo ele bem menos do que eu gostaria), mas eu tava ali feliz com outras crianças, sabendo que dali uma semana estaria sendo feliz com ele na Jardineira (um bloquinho um tanto menor que rola lá pro interiorr de sp). Eu não consigo mais imaginar o que seria um Carnaval sem pelo menos um bloquinho infantil pra largar as pessoas bêbadas de lado e dar atenção pras crianças querendo brincar. Ou melhor, eu não consigo mais imaginar como seria a minha vida sem a felicidade das crianças que começaram a me cercar desde novembro de 2014.

Parafraseando o mais querido bloco mirim que você respeita, a minha vida não é mais a mesma, e esse foi o amor que eu sempre quis

--

--

Paola Oliveira

Pê, 24, uma caipira em sp, Ravenclaw. tentando me achar na cidade grande enquanto me perco sozinha, mas muito bem acompanhada.