Matthias Sindelar: o craque austríaco que enfrentou o nazismo

Pedro Bulhões Camargo Kosa
3 min readNov 6, 2017

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Matthias Sindelar

Na segunda metade da década de 30, a Alemanha, liderada por Adolf Hitler, começou um processo de anexações de diversas nações vizinhas. Uma das primeiras regiões dominadas pelo regime nacional-socialista foi a Áustria, que foi incorporada ao território alemão oficialmente em 12 de março de 1938, um acontecimento que foi denominado de Anschluss.

Naquela época, a seleção de futebol dos germânicos ainda não era de grande destaque, mas o time da Áustria era um dos melhores do mundo, tendo sido vice-campeão das Olimpíadas de Berlim, em 1936, e quarto colocado na Copa do Mundo de 1934, que aconteceu na Itália. Com a anexação, a seleção austríaca se dissolveria, e os jogadores da equipe se juntariam aos alemães. Hitler viu no futebol uma oportunidade de unir e fortalecer a população de seu território, e a chegada de novos atletas para vestir a camisa do seu país era muito bem-vinda.

No entanto, um dos maiores craques da equipe da Áustria era totalmente contrário às ideias do regime nazista e contra a ocupação do território da nação. Matthias Sindelar, então jogador do Áustria Viena, encantava milhões de torcedores que se impressionavam com seu estilo de jogar. Sua leveza e velocidade lhe renderam o apelido de “Der Papierene”, o “Homem de Papel”.

Anschlauss: processo de anexação da Áustria pela Alemanha nazista

Antes da anexação por parte dos nazistas, a Áustria havia se classificado para a Copa de 1938. Quatro jogadores daquela seleção se juntariam aos Alemães para jogar no evento, mas Sindelar, que recebeu diversos convites, recusou todos.

Seu ato mais rebelde contra o regime do Partido Nacional-Socialista e Adolf Hitler foi em um amistoso entre Áustria e Alemanha, que seria a última partida antes da união das equipes. O resultado do jogo teria sido combinado antes da bola rolar, para acabar em empate. Os Austríacos dominaram o primeiro tempo inteiro e o começo do segundo, mas não chutavam a bola ao gol. No entanto, 20 minutos antes do fim da partida, Matthias Sindelar marcou um gol e comemorou com muita alegria em frente a oficiais de alto escalão da Alemanha. Karl Sesta fez outro gol e a Aústria venceu a partida por 2 a 0.

Muitos não ficaram feliz com o resultado, pois mostrava o quão despreparado estava o time alemão, apenas alguns meses antes da Copa. Sindelar voltou a jogar pelo Áustria Viena, onde ficou até pouco tempo antes do começo da Segunda Guerra.

Em uma noite do dia 23 de janeiro de 1939, o jogador austríaco, após sair com seus amigos, encontrou-se com sua namorada italiana, Camilla Castagnola. Os dois dormiram e nunca mais acordaram. Um vazamento de monóxido de carbono sufocou os e matou os dois durante a madrugada. A polícia alemã chegou a registrar o falecimento de Sindelar como suicídio, mas alterou para acidente. Muitos creem que o craque foi envenenado de propósito por desafiar o regime do Führer.

Mais de 15 mil pessoas compareceram ao velório para saudar o jogador uma última vez. Matthias Sindelar foi eleito o maior esportista da Áustria do século XX, e apesar de ter morrido jovem, conseguiu, através do futebol, enfrentar aquele que foi um dos maiores e mais cruéis regimes totalitários da história em seu auge.

Túmulo de Sindelar, no cemitério central de Viena

Originally published at medium.com on November 6, 2017.

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Pedro Bulhões Camargo Kosa

Estudante de comunicação social — jornalismo na PUC-SP | Estagiário em jornalismo na RedeTV! | Parte da equipe da página O Contra-Ataque