A lição da vela

Uma reflexão de jovens sobre o sentido da vida

Pedro Henrique Catini
7 min readJul 25, 2018

Esse texto não possuí um objetivo de trazer respostas, mas de mostrar como algumas perguntas podem mexer com o nosso interior, e talvez assim, nos motivar a buscar novos questionamentos. E assim, com mais perguntas a gente entenda a necessidade de estudarmos mais, experimentarmos mais, nos relacionarmos mais e quem sabe vivermos mais.

Crédito: Myriams-Fotos / Pixabay

Nossa história começa no interior de uma vila, próxima da praia em um dia nublado, jovens liderados por um Frei se retiram de suas rotinas agitadas, para refletir qual o sentido da vida. Antes de iniciar o encontro, o Frei resolveu abrir o jogo e explicar a diferença entre Frei e Padre:

Padre é aquele que trabalha para uma comunidade e o Frei é aquele que serve a Deus dentro de uma congregação (como os franciscanos ou ainda os jesuítas). Possuímos vocações diferentes, porém colaboramos uns com os outros e pode ainda existir Frei que se torne padre.

Após o esclarecimento, o Frei abriu o encontro com o seguinte questionamento:

Qual o sentido da vida? Porque existimos? O que estamos fazendo aqui?

Essas perguntas geraram angustia e ansiedade para os jovens religiosos, mas acredito que geraria em qualquer ambiente para outros jovens também.

Isso acontece pois o mundo está muito acelerado, rápido e volátil, com as pessoas colocando sua felicidade em conquistas insaciáveis como se fosse uma meta a ser batida, elas fazem com que o tempo se torne seu maior inimigo, por ser algo cada vez mais escasso.

E assim vamos nos colocando cada vez mais distantes de encontrar o sentido para as nossas vidas, pois para isso é necessário diminuir, acalmar, quase que parar nossa rotina para entendermos o sentido da vida, pois a resposta dessa questão não está no mundo que nos rodeia, ela está dentro de nós.

O Frei então utilizou daquele retiro, o momento oportuno para conseguir colocar aqueles jovens em um ambiente favorável para descobrirem que ainda existe muito a se conhecer sobre eles, e o sentido de suas vidas.

Para entender o sentido de algo precisamos definir esse algo, quase que de forma pragmática e inteiramente racional, e assim descrever a VIDA em uma só palavra não é uma tarefa fácil. Mas de forma bem humilde o Frei trouxe aos jovens naquela tarde a seguinte definição:

A vida é movimento. Algo passageiro, como um sopro de vento que balança os galhos das árvores, exatamente como podemos ver diante de nossas janelas, agora.

Os jovens ficaram confuso, e pensando como que algo passageiro poderia então ter tanto significado, ou ainda, como que algo tão simples poderia causar tanta angústia pela falta de sua compreensão.

E então o Frei permitiu que os jovens deixassem seus corações ansiosos falarem o que entendiam sobre: Qual o sentido da vida?

As respostas foram as mais variadas possíveis, porém o grupo se satisfez ao entender que cada ser humano tem uma missão e que devemos descobrir qual é essa missão para encontrarmos o nosso sentido para a vida.

Nesse momento o Frei trouxe um novo questionamento:

Se cada um de nós temos uma missão, e devemos descobrir essa missão para vivermos mais feliz, então quem sou eu? Quem é você?

Essa é uma pergunta mais profunda e que a maioria de nós tem dificuldade para responder de maneira coerente. A pergunta é: Quem sou eu? E muitos respondem coisas como: “sou estudante de medicina”, ou ainda “sou advogado”. Como se a pergunta fosse: O que você faz?

Essas respostas podem as vezes funcionar, mas não atendem por completo a essência da pergunta feita pelo Frei.

Se você, hoje, for se apresentar para alguém como você o faria? Acredito que não seria tão sucinto quanto os exemplos acima, pois temos uma necessidade, muito grande, no mundo de hoje da aprovação dos outros. E para isso tentamos sempre impressionar as pessoas com nossos títulos ou conquistas.

Isso tudo nos colocam cada vez mais distantes, talvez, do encontro com aquele que é o nosso verdadeiro eu. Não saber como descrever o ser humano que eu sou, pode ser o primeiro passo para descobrir quem nós somos, e descrever como nos vemos foi a maneira mais simples que o Frei encontrou de explicar, aqueles jovens, quem eles poderiam ser.

O Frei proporcionou aqueles meninos e meninas um momento de autoconhecimento, mas principalmente um momento de conexão uns com os outros. Colocou todo o grupo para conversar, sem limite de tempo, porém com um único objetivo se conhecerem. O momento levou horas, alguns se até se permitiram se unir para admirar o por do sol naquele fim de tarde.

Os jovens que antes tinham a certeza sobre a vida, e que se achavam no direito de opinar sobre tudo com se tivessem o poder da verdade, julgando uns aos outros, fizeram uma experiência de conhecer o próximo e perceber que todos nós temos defeitos e qualidades, limites e dons a serem revelados.

E assim o Frei liderou aquele retiro de jovens, um encontro com algo mais puro e profundo, algo mais simples e abundante, algo que podemos entender como VIDA.

Aqueles jovens saíram do retiro com a seguinte conclusão da experiência vivida: Se a vida é movimento que nos proporciona momentos e experiências a todo instante, assim então, estamos em constante mudança e evolução. Dessa maneira se faz muito importante entender quem somos e qual o nossa missão nesse caminho, no presente. Para isso precisamos ser mais humildes e coerente com nós mesmos.

Ser humilde:

Para reconhecer que não somos perfeitos e que temos o nosso próprio tempo e não é saudável comparar o sucesso de outros com o nosso. Temos que ser, sim, positivos e utilizar das outras pessoas à fonte de inspiração que precisamos para realizarmos ações melhores. E assim sermos pessoas do bem que contribuem e agregam para o ambiente em que vivemos.

Ser coerente:

Para entender que não podemos acreditar que o nosso desejo possa estar em um lugar diferente dos nossos hábitos. Aquilo que realizamos hoje é a semente que plantamos na terra, cuidamos e após o seu desabrochar como planta, colheremos no amanhã. Assim não adianta reagirmos ao mundo com atitudes repetidas e esperar resultados diferentes. Temos que ter mais sede do que bebemos, devemos dar mais do que desejamos receber.

Então o Frei disse:

Para sabermos quem somos, basta perguntar como Deus nos vê!

Ou seja, como alguém que conhece você por inteiro iria te descrever? Se você for verdadeiro o suficiente para responder isso diante para um espelho, talvez, se aproxime de encontrar da melhor descrição de quem você é. Somos aquilo que fazemos, mas também somos tudo aquilo que podemos sonhar que podemos fazer.

A noite foi chegando e o Frei levou todos os jovens até uma capela e deu para cada um deles uma vela apagada. Chamou um deles para acender sua vela e pediu que ele acendesse a vela de outro e de outro, até que todos tivessem suas velas acessas.

Para a finalização do encontro o Frei trouxe uma reflexão belíssima sobre como aqueles jovens poderiam ver o sentido da vida:

E se nesse momento eu lhes disser que a nossa vida é como uma vela. A vela possuí o propósito de iluminar e de aquecer, mas enquanto o pavião queima a vela vai se acabando, até quando se queimar por inteira e apagar-se. E assim somos nós, podemos iluminar os caminhos, para que os outros tenham a condição de enxergar tudo, sendo pessoas que ajudam e colaboram umas com as outras, levando a luz para todos aqueles que convivemos. Podemos aquecer o ambiente, para que os outros tenham o calor que os movimente e assim continuem vivendo. Mas que para tudo isso aconteça precisamos nos esforçar, ou ainda, como a vela se desgastar. Até a última queima e a vela chega ao fim, até se apagar. E assim, também, somos nós, que ao final de nossas vidas poderemos ter cumprido com o nosso propósito.

Talvez você esteja buscando encontrar o sentido da sua vida, ou talvez não se importe muito com isso, ou ainda já até encontrou. Seja qual for a sua situação, o importante é o dia a dia, o AGORA.

Temos no momento presente a oportunidade e o poder de fazer o bem, colaborar e ajudar. Mas para qualquer que seja a nossa missão, ou para qualquer coisa ou situação que escolhemos como nossa felicidade, ainda precisaremos nos relacionar e nos conectar com as pessoas.

E se estamos buscando um sentido para as nossas vidas, se estamos nos relacionando com as pessoas, a informação mais importante que precisamos saber é quem nós somos. Pois essa é a maneira de nos colocar verdadeiramente no presente, e quem sabe assim conhecer o nosso próximo por inteiro, saborear a vida em toda sua extensão.

Hoje podemos ter dificuldade de saber qual o nosso propósito, e podemos levar uma vida toda para descobrir isso, mas somos capazes de usar nosso precioso tempo para sentir orgulho de nossas escolhas, ações e experiências. O nosso caminho é tão importante quanto a nossa conquista.

E assim eu termino esse texto, dando a você a oportunidade de se questionar mais sobre a sua vida e suas ações, na esperança que isso te ajude a perceber que somos parte de um todo, e que na maior parte da vida estaremos ao lado de alguém e podemos dar mais do que recebemos, fazer mais do que falamos e viver mais do que mostramos.

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Pedro Henrique Catini

Empreendedor comprometido em gerar novas soluções para o mercado brasileiro. Profissional apaixonado pela formação de consumidores mais conscientes.