Pedro Kosa
6 min readNov 21, 2018
Foto: NOAA Photo Library | Flickr

Pedro Kosa e Pedro Gomes

As últimas décadas foram marcadas por uma mudança considerável no clima do planeta Terra. Pesquisadores vêm observando temperaturas cada vez mais altas e novos recordes de calor sendo quebrados anualmente. Segundo o MET Office, serviço nacional de clima britânico, sete dos 10 anos mais quentes já registrados ocorreram na última década. Em 2016, a temperatura média do planeta foi de 0,94 °C acima do normal.

Diversas regiões da terra já sofrem com problemas relacionados ao aquecimento global. Um estudo da universidade de Cambridge revelou que a África pode ser o continente mais afetado pelas mudanças no futuro. Atualmente, a zona mais afetada é o Ártico.

Segundo um relatório de 2017 da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados unidos, ou NOAA, a região do Círculo Polar Ártico está esquentando duas vezes mais rápido em relação ao resto da Terra.

Fonte: NASA-GISS (Goddard Institute for Space Studies)

A política

Em meio a tentativas de conscientização quanto ao aquecimento global e o desequilíbrio nos polos, há o debate entre cientistas e políticos quanto aos causadores do fenômeno e se discute até a veracidade das mudanças climáticas.

Em 2012, o atual presidente americano, Donald Trump, declarou em sua conta no Twitter que “O conceito de aquecimento global foi criado por e para os chineses para tonar a produção dos EUA menos competitiva”:

O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, nomeou para chefiar o Ministério das Relações Exteriores Ernesto Henrique Fraga Araújo, que defende teses similares.

Ernesto Henrique Fraga Araújo (Foto: Valter Campanato | Agência Brasil)

O novo Chanceler já declarou em seu blog que “O climatismo é basicamente apenas uma tática globalista de instilar o medo para obter mais poder”, no entanto, dados do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa (NASA-GISS) mostraram o contrário.

Fonte: NOAA/National Center for Environmental Information

Ernesto Araújo também critica a tentativa, por parte de cientistas, de relacionar o excessivo calor com a grande emissão de gases, especialmente o CO2. Para ele, “[O climatismo] ignorou dados que sugeriam o contrário, e criou um dogma ‘científico’ que ninguém mais pode contestar sob pena de ser excomungado da boa sociedade — exatamente o contrário do espírito científico”. Mesmo havendo estudos que confirmam as ideias do futuro ministro, existe um consenso entre a maior da comunidade científica de que o planeta está esquentando e humanos têm culpa. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas é uma das organizações que reconhece o problema.

O Ártico

Fotos: NOAA Photo Library e NASA Goddard Space Flight Center

Mesmo com o negacionismo climático, o fato é que as temperaturas estão subindo e as regiões com as maiores latitudes são as mais afetadas. Além do derretimento do permafrost, o aquecimento da região ártica deve desequilibrar o frágil ecossistema de lá nas próximas décadas. As mudanças estão afetando também a vida animal, e uma pesquisa publicada no Instituto Nacional de Saúde Americano sugere que novos predadores estão se dirigindo cada vez mais para locais antes considerados relativamente seguros para espécies nativas.

O gelo

O congelamento dos mares no Círculo Polar Ártico atinge seu menor ponto anualmente em setembro. Dados registrados pelo Polar Science Center e o National Snow & Ice Data Center (NSIDC) indicam que o recongelamento é menor a cada ano, e nos meses de setembro, o volume das geleiras caiu 12,8% nas últimas duas décadas.

Fonte: Polar Science Center

Incêndios florestais

Incêndio florestal na Suécia — 2018 (Foto: Mats Anderson — EPA)

A mudança climática contribuiu também para o aumento de incêndios na vegetação de taiga, tundra e polar no norte do planeta. O Centro de Emergências da União Europeia registrou mais de 10 picos de incêndios dentro do Círculo Ártico em julho de 2018. O país mais afetado foi a Suécia.

Outro grande incêndio foi registrado no território da Groenlândia em 2017 por um satélite da Agência Espacial Europeia (ESA). Trata-se do maior já registrado.

"A evolução do fogo da Groenlândia desde 29 de julho [2017] registrado pelo Sentinel 2 [sonda da ESA]"

Apesar de incêndios não serem totalmente incomuns durante invernos mais quentes no Ártico, o aumento tanto da quantidade como da frequência com que eles estão ocorrendo preocupa pesquisadores. Em uma reportagem de 2017 publicada pela NBC, uma pesquisadora da Universidade de Oxford afirma que isso não é normal.

Invernos mais quentes

O último inverno foi o segundo mais quente da história do Ártico. Diversas estações meteorológicas registraram temperaturas até 5,6ºC mais quentes que o normal para a estação. Segundo o Instituto Meteorológico Dinamarquês, uma das bases mais próximas do polo norte geográfico chegou a registrar temperaturas positivas por mais de 60 horas em fevereiro deste ano.

Foto: NOAA Photo Library | Flickr

O IPCC afirmou em seu último relatório que o aquecimento dos mares árticos afeta a Terra como um todo, pois com menos neve e gelo o planeta retém mais calor proveniente do Sol. O relatório também projeta que a temperatura do planeta podem superar os 2ºC acima da média histórica ainda neste século, o que iria viabilizar invernos sem congelamento expressivo no Polo Norte.

Fonte: Danish Meteorological Institue

Interesses Externos

Foto: NASA Goddard Space Flight Center | Flickr

A mudança climática, apesar de afetar grande parte da população mundial em um futuro próximo, vai trazer benefícios econômicos a algumas nações e empresas. O derretimento do gelo no Ártico deve abrir uma nova rota marítima nos próximos anos que vai ligar uma ponta a outra do conjunto de continentes da Europa e Ásia. Um navio de carga da MAERSKcompletou o caminho, e outras embarcações podem seguir seus passos nos próximos anos.

Dentre os países próximos à região ártica, a Rússia talvez seja o mais interessado a explorar comercialmente aquela zona. Em 2007, o país plantou sua bandeira no fundo do oceano do Polo Norte Geográfico. O ato simbólico serviu para mostrar que o Kremlin quer expandir sua presença na região e potencialmente explorar o gás e petróleo de lá.

Braço robótico de submarino russo deixa bandeira no fundo do mar no polo norte. Trecho de vídeo divulgado pelo governo russo.

O país também mantém um pequeno vilarejo no arquipélago de Svalbard, 560km ao norte da Noruega e que integra o território da nação. Apesar de Putin declarar suas intenções, acredita-se que a Rússia continue instalada lá para estabelecer presença e vigilância no Ártico.

Arquipélago de Svalbard e vilarejo russo de Barentsburgo, indicado pelo pin (Google Maps)