Carnaval e os diferentes mundos que dividem um mesmo espaço físico

Pedro Lira
2 min readFeb 14, 2018

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Toca o som. Segue a corda da banda, dança com o desconhecido e se pinta todo de glitter e purpurina. O pequeno grande Brasil parou para tomar as ruas, espaços públicos não tão públicos assim. Era gente de todo tipo, de toda cor, tamanho e ritmo embalando as mais diversas canções. Era gente, brasileira e estrangeira, vivendo na mesma rua ocupada.

É que a rua era a mesma, mas a gente não. De um lado, o esplendor do Olimpo. A beleza pronta, branca e magra. Os padrões alinhados dançando passos coreografados das músicas hits da rádio. De um lado, o mundo telenovela, o romance sensual e sexual que é protagonista de romances hollywoodianos a pornôs de quinta categoria.

Do outro lado, o inesperado. Do lado oposto, os opostos ao posto comum. Gente de tipo esquisito, que bate a cabeça no ritmo do tambor. Gente que pisa descalça, que dobra a barriga para dançar e mostra os peitos a luz do sol. Gente de fora daqui, que ocupa a rua com amor, urina e indiferença. Deste lado, a música não tem vez. O ritmo da batida é definido pelos passos tortos e improvisados de quem dança para ninguém, e ao mesmo tempo, para o mundo todo.

A rua, pequena, fica gigante. É que dois planos paralelos, que nunca irão se cruzar, se entrelaçam no asfalto quente. Gente de bunda dura que esbarra em povo de cabelo crespo. Bracinho forte, peitinho duro, se esfregam nas camisas Hare Krishna, anéis de coco e xuxinhas verde neon.

Foliões, que se esbarram e não se tocam, seguem o som passando por cima de quem de fato vive naquela rua. Na festa, se pula camas de papelão, se compra de pequenos humanos que vendem todo tipo de balinha. Se compra também pequenos humanos que vendem todo tipo de parte do corpo. Tem folião para tudo, inclusive comprar a folia.

O som da rua chega no cercado. Ali em cima tem gente que bebe drink caro, tira fotos em high quality e comenta sobre a última viagem ao exterior. Tem gente para cima, para os lados e para baixo. Todas as direções que se encontram, mas sem se encontrar, na pequena rua ocupada. Como pode um mundo só abraçar tantos pequenos mundos. Como pode um mundo tão pequeno guardar em si galáxias inteiras de realidades tão opostas.

Joga para o alto, grita para baixo. Sopra purpurina e toma uma cerveja. É Carnaval no pequeno gigante Brasil.

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Pedro Lira

Jornalista, social media, bruxão — escrevo de tudo um pouco, sempre jogando um LGBT no meio 🏳️‍🌈