A história de Eurico Lara, o craque imortal

Pedro Rosano
4 min readJun 16, 2020

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Há registros de gremistas do passado que contam que nem a vitória dos Aliados, na Segunda Guerra Mundial, levou tanta euforia ao Rio Grande do Sul como as exibições do ex-goleiro Eurico Lara, que defendeu as cores de um ainda jovem Grêmio Foot-Ball Porto-alegrense por 15 anos, de 1920 a 1935.

Eurico Lara nasceu em Uruguaiana-RS, em 1897. Bem jovem, tornou-se oficial do Exército onde começou sua trajetória no futebol. Até que então, chegou aos ouvidos de dirigentes gremistas a seguinte história: “tem um goleiro em Uruguaiana, que quando joga, o time dele não perde”. Sem dvd’s e youtube, a direção tricolor apostou e conseguiu a transferência do jogador para o Exército da capital. No dia 15 de junho de 1920, Lara estreava no gol gremista. Como “prometido”, o Grêmio não perdeu e aplicou 3 a 0 no Juventude. Neste mesmo ano, o primeiro título: a Taça Cidade de Porto Alegre.

Museu Hermínio Bittencourt/Grêmio

Em um época em que a Seleção Brasileira era composta apenas por jogadores de clubes cariocas e paulistas, mesmo merecendo, Lara jamais vestiu a camisa verde e amarela (e, na época, branca também). Porém, o arqueiro defendeu a Seleção Gaúcha, com destaque ao amistoso contra a Seleção Paulista. Mesmo com a derrota gaúcha por 4 a 2, Lara saiu ovacionado do Estádio Parque Antártica por ter defendido mais de 20 chutes de Arthur Friedereich, que segundo a lenda, marcou 1.329 gols na carreira (45 a mais do que Pelé).

Segundo o gremio.net, Lara possuía uma saída de bola perfeita e dotado de muita força nas mãos, afastava a bola para longe da grande área com facilidade. Em um década e meia no clube, disputou 217 partidas, saindo derrotado em apenas 27. Conquistou onze taças municipais e foi pentacampeão gaúcho. No último ano vestindo a camisa tricolor, também foi responsável pela primeira vitória de um clube gaúcho sobre um paulista: Grêmio 3 x 2 Santos.

Museu Hermínio Bittencourt/Grêmio

Mas o ano de 1935 reservava umas das histórias mais folclóricas do futebol gaúcho. Acometido de uma doença cardíaca, a aposentadoria de Lara era inevitável, mas contrariando o alerta dos médicos de que ele poderia até mesmo morrer em campo, decidiu atuar no GreNal decisivo pelo Campeonato Farroupilha, no Estádio da Baixada. O Grêmio precisava vencer o Internacional para ficar o título. A vitória de 2 a 0 só foi possível graças a maior atuação de Lara com a camisa tricolor, que segurou de todas as formas a pressão colorada e o placar favorável.

A parte folclórica da partida, foi que Lara defendeu um pênalti no último minuto. Era a festa do título. Porém, Lara continuava no chão, imóvel, com a bola grudada em seu peito e no símbolo do clube. Ao se aproximarem, jogadores e torcedores verificaram que o herói do título não vivia mais, tendo deixado a vida agarrado em suas duas maiores paixões: o Grêmio e a bola.

Mas não foi bem assim. Naquele 22 de setembro de 1935, de fato, Lara protagonizou uma atuação memorável, contudo, ao final da partida foi carregado nos braços pelos torcedores, que sabiam de seu sacrifício. Mas seu amor incondicional ao Grêmio e a disputa daquela partida, que além do desgaste físico, foi carregada de emoção, agravou consideravelmente sua saúde.

Museu Hermínio Bittencourt/Grêmio

Lara morreu nem dois meses depois, no dia 06 de novembro daquele mesmo 1935, com apenas 38 anos de idade. O funeral e o cortejo do corpo do ídolo gremista até o Cemitério São Miguel Almas, perto de onde mais tarde seria construído o Estádio Olímpico, parou Porto Alegre. Torcedores choravam a partida precoce do ícone que, quase que literalmente, deu a vida pelo Grêmio.

O goleiro foi eternizado na Galeria de Heróis Gremistas e em 1953, eternizou-se também no hino do clube, composto por Lupicínio Rodrigues: “Lara, o Craque Imortal / Soube o seu nome elevar / Hoje, com o mesmo ideal / Nós saberemos te honrar”. Eurico Lara, que passados 100 anos de sua estreia pelo clube, ainda é definido por muitos torcedores, antigos e contemporâneos, como um dos maiores gremistas de todos os tempos, um craque imortal que mais representa o sentimento do que é ser do Grêmio.

  • O site do oficial do Grêmio serviu como base para essa pesquisa. As imagens foram retiradas da internet e pertencem ao Museu Hermínio Bittencourt.

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Pedro Rosano

Jornalista diplomado pela UCS e pós-graduando em Ciência Política. Escrevo sobre futebol, política e amenidades.