Porque eu vou torcer para a Argentina na Copa do Mundo

O que me levou a deixar de torcer pela seleção do meu país pelo bem do seu futebol.

Pedro Turambar
Notas da arquibancada

--

Você pode perguntar para qualquer pessoa que entende um pouquinho de futebol qual seria a maior tragédia que poderia acontecer na Copa do Mundo de 2014 que a resposta seria a mesma. A Argentina vencer a final no Maracanã, contra o Brasil no dia 13 de julho do ano que vem.

Um segundo Maracanazzo, protagonizado pelo maior rival seria a pior coisa que poderia acontecer à Seleção Brasileira e, consequentemente, à Confederação Brasileira de Futebol.

[Edição 12 de Julho de 2014]
Não dizem que a realidade é mais absurda que a ficção? Pois bem, nem nos piores pesadelos, poderíamos imaginar que a maior tragédia seria perder a semi-final de 7x1 para a Alemanha, e ver a Argentina sendo campeã, se isso acontecer, claro. E ainda podemos perder mais tarde para a Holanda.

E esse é o motivo pelo qual torcerei por Messi e companhia durante o torneio.

Não dizem que ele tem que ganhar uma Copa? Pois que ganhe a maior.

Para todo menino nascido no Brasil, até a vida adulta, poucas coisas são mais importantes que a Seleção Brasileira. Para a minha geração que viu 94, 98 e 2002, a Amarelinha era aquilo tudo mesmo que a Globo nos vendia. O ufanismo exagerado me cegava para todo o lado negro da CBF e da FIFA.

Esse sentimento meio acéfalo nos fez acreditar durante anos que João Havelange era um homem de bem.

Quando Ricardo Teixeira cagou para todos — ah como é inesquecível aquela reportagem da Piauí — eu imaginei que seu reinado não iria durar muito. E como aquilo me deixava feliz! O futebol brasileiro iria renascer e enfim os ponteiros começariam a ser acertados e o Campeonato Brasileiro seria finalmente um produto digno do nosso tamanho na história desse esporte.

O "câncer" do futebol brasileiro, como muito bem definiu Romário, havia fugido com o rabo entre as pernas para Boca Raton. Renegado pela presidenta Dilma e investigado por inúmeros crimes lá na Suíça ele não teve outra saída que não a covarde. Mas como todo menino arteiro, maquiavélico ele nos deixou com seu pior legado até então: José Maria Marin.

Esse homem é sem dúvida alguma uma das maiores atrocidades que já aconteceu a nosso futebol. Eu sinto uma profunda vergonha perante todo o mundo por tê-lo como presidente do orgão que controla o futebol brasileiro. Não por ele ter roubado a medalha, ou por ser um palerma que de tão caricato é quase engraçado. Mas por ter sido Marin um bastião da Ditadura Militar que causou a morte do jornalista Vladimir Herzog.

Uma mancha na história do nosso país e do nosso futebol.

Marín é idoso, e só virou presidente por causa do regimento da CBF que diz que o vice presidente mais velho é quem assume se o presidente renunciar. Em Abril de 2014 haverá eleição para um novo presidente da entidade — antes da Copa, porque Marín não é bobo, não quer ter o seu nome lá caso aconteça uma tragédia — e Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol vencerá na maior facilidade do mundo.

A mesma facilidade com que Blatter venceu a última eleição da FIFA.

Del Nero é tão idôneo quanto seus dois antecessores. Outro dinossauro que se importa com tudo, menos futebol. O patriarcado coronelista que comanda o futebol brasileiro hoje, através das federações estaduais inúteis e estúpidas tem que acabar. E o seu fim está muito próximo.

Depois de muito tempo pensando sobre isso, lendo e acompanhando toda a insatisfação em torno do nosso futebol, eu cheguei a conclusão que esse sistema só cairia com uma revolução vinda dos dois principais responsáveis pela existência do futebol: os jogadores e os torcedores.

Bom Senso Futebol Clube. O levante dos jogadores contra os absurdos do futebol brasileiro.

A revolução dos jogadores já começou. Para o terror da CBF e meu deleite o Bom Senso Futebol Clube se tornou o clube mais importante do Brasil nos últimos anos. E eles não estão para brincadeira, vão sim até o final.

A revolução dos torcedores? Essa é mais difícil. É preciso que algo traumático aconteça para que a grande massa veja que algo precisa mudar. O que pode ser mais traumático para os 200 milhões de apaixonados pela seleção brasileira?

A Argentina precisa ganhar a Copa do Mundo de 2014. Pelo bem do futebol brasileiro…

--

--