E se fosse Dilma acusada por Youssef, e não Aécio?

Pedro Zambarda de Araújo
2 min readAug 26, 2015

A moda da oposição ferrenha ao Partido dos Trabalhadores, desde as eleições do ano passado, era procurar pistas na operação Lava Jato que incriminassem a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. Ontem, foi um baque: o doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores da investigação que apura propinas na Petrobras, disse que Aécio Neves recebeu dinheiro no esquema e não os chefes do Executivo ou membros do alto escalão do PT.

A frase dele foi clara: “eu confirmo (que Aécio recebeu dinheiro de corrupção) por conta do que eu escutava do deputado José Janene, que era meu compadre e eu era operador dele”.

A propina teria vindo via contratos de Furnas, empresa de capital misto no setor de energia.

O portal UOL, do grupo Folha, deu a notícia com a manchete “Youssef e Costa confirmam repasse de propinas a Aécio Neves e Sérgio Guerra”. Horas depois, a informação foi trocada por “Em CPI, Youssef e Costa citam repasse de propinas de estatais a tucanos”.

Rolou um telefonema? Por que Aécio Neves recebe uma cobertura tão amiga da mídia?

E se a mesma coisa ocorresse com Dilma Rousseff? A presidente teria o privilégio de tantas manchetes mansas sobre uma acusação de repasse de dinheiro?

É preciso lembrar que a acusação de Youssef não é a única que pesa contra Aécio e que precisa ser investigada. Mas vamos fazer uma especulação, trocando o tucano pela petista.

Se a Dilma Rousseff tivesse um aeroporto dos seus parentes na cidade de Cláudio e aliados políticos que traficaram meia tonelada de cocaína em Minas Gerais, como ela ficaria na posição de presidente da República?

Porque essas são as acusações que Aécio Neves coleciona desde o ano passado. Não falo genericamente do PSDB, mas apenas sobre ele.

Meu palpite é que Dilma cairia logo depois de acusações graves como essas.

Se confirmada a propina citada por Alberto Youssef de Furnas ao senador Aécio Neves, ele será o único candidato à presidência do ano passado diretamente ligado às denúncias da operação Lava Jato. Não há nada do mesmo naipe envolvendo Dilma Rousseff.

Mas como a acusação não é contra alguém do PT, o tratamento é realmente diferente dentro do jornalismo político nacional.

Isso, me parece, profundamente lamentável.

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Pedro Zambarda de Araújo

É jornalista paulistano. Edita DigiClub, Drops de Jogos e Geração Gamer. É autor do livro "Internet Heroes Brasil", da Jardim dos Livros/Geração Editorial.