O “novo” Corinthians merece um treinador à altura do desafio

Pensando em Preto e Branco
4 min readSep 20, 2021

--

Sylvinho, no dia de sua apresentação no Corinthians (Agência Corinthians)

Por Daniel Keppler

Escrevo pouco depois de ver o Corinthians empatar sua terceira partida seguida pelo Brasileirão, dessa vez contra o América-MG, na Neo Química Arena. Apenas agora, consigo pensar com mais calma, pois durante o jogo, sendo bem honesto, mantê-la foi um exercício bastante difícil. Assim como foi inevitável sentir uma leve arritmia que só cessou um pouco depois do fim do jogo (e eu adoraria que isso fosse um exagero).

Um episódio bem especial ajudou nisso: ali pelas tantas do primeiro tempo, durante um bate-papo no banco, foi possível ouvir claramente as seguintes três frases, proferidas por Sylvinho:

“Será que aquele lado tá perigoso?” (sobre o fato de absolutamente todos os ataques agudos do América-MG serem em cima do Fábio Santos)

“Róger, apoia o Fábio Santos no setor!” (foi a solução encontrada para o problema acima citado)

“No segundo tempo a gente vê o que faz” (spoiler: não fez nada)

Traduzindo: em pleno andamento de seu 23º jogo à frente do clube, Sylvinho aparentemente — e finalmente — parece ter “descoberto” a existência da Avenida Fábio Santos, já bastante conhecida da torcida, e frequentada pelos adversários. Então, para resolver o problema, decidiu transformar Róger Guedes, contratado para ajudar o Corinthians a marcar gols, em assistente particular do nosso lateral-esquerdo. Mas não sem antes garantir que encontraria outra solução, bem na base do “na volta a gente compra” que tanto ouvimos de nossas mães. Até porque acabou ficando por isso mesmo.

Infelizmente, o momento iluminado de Sylvinho durou só aqueles segundos mesmo, e essa foi a única falha do seu modelo de jogo que foi identificada. E mesmo assim, não foi suficiente para ele se convencer de que Fábio Santos não tem mais condição de jogar pelo Corinthians. Faltou, ainda, ele perceber o quanto Jô é inoperante durante a maioria dos 90 minutos de todo santo jogo. E como Gabriel vem comprometendo na marcação, desde que passou a ocupar a posição de “5” no imutável 4–1–4–1 do treinador (o único esquema que o UEFA Pro ensina, aparentemente).

Os erros de Sylvinho se repetem continuamente. E não é como se repetisse apenas durante os jogos do Corinthians: eles se repetem mesmo ao analisarmos sua passagem pelo Lyon, e compará-la com o que ele faz por aqui. Parece, muitas vezes, o mesmo trabalho. Mas aqui, ele segue sendo inquestionável, e merecedor de todo o tempo do mundo para trabalhar. Vale questionar: por que?

É uma temeridade que a cada rodada vai se mostrando mais arriscada. Temos mais 17 jogos pela frente, e precisamos de pelo menos 60 pontos para garantir uma vaga na Libertadores (direta ou não). E para bancar o time que está sendo montado, a Libertadores, e seu dinheiro (tanto de premiação quanto de bilheteria) são simplesmente essenciais!

Impossível não pensar sobre que tipo de lealdade é essa entre Sylvinho, Duílio e companhia que faz o treinador seguir completamente incólume, mesmo com a falta de evolução no trabalho sendo tão evidente. Ou sobre de onde vem a motivação por tantos apelos de paciência ao treinador, vindos da mesma imprensa que não media o peso das críticas a cada tropeço de Carille, Tiago Nunes ou Mancini.

O Corinthians está há 7 jogos invicto. Mas não vence há 3 partidas. Foram três empates por 1x1, contra Juventude (atual 16º), Atlético-GO (11º) e América-MG (17º). Em todos, chutou menos a gol que o adversário. No campeonato inteiro, é um dos que menos finaliza. Como mandante, é um dos 3 piores! E em apenas 7 jogos (33% do total) terminou a partida sem ser vazado (essa é pra quem acha que estamos bem defensivamente). O que há de positivo para ser destacado?

Willian foi o últimos dos reforços do Corinthians, elevando bastante o nível do elenco (Agência Corinthians)

Pior: antes dos reforços, o Corinthians já detinha uma campanha abaixo do que o elenco poderia oferecer. Hoje, isso permanece, mas em um time com mais jogadores capazes de decidir individualmente: Giuliano deu assistência contra o Ceará e marcou gol contra o América-MG; Renato Augusto fez gol contra o Ceará; e Róger Guedes marcou gol contra o Juventude e deu assistência contra o Atlético-GO.

A cada rodada fica claro: temos um “novo” Corinthians no papel. Mas outra coisa também fica clara: esse “novo” Corinthians não cabe nas “velhas” ideias de Sylvinho, que transformou o 4–1–4–1 em um esquema engessado, exposto e covarde. Aceitar essa possibilidade significa não apenas um enorme desperdício de talento dos reforços, como a extensão de um trabalho que já foi reprovado e não demonstra qualquer flexibilidade ou abertura a melhorias. Então, por que insistir?

Não tenho nada contra o Sylvinho como pessoa. Mas me importo demais com o Corinthians para assistir esse sangramento do time sem dizer nada. Nosso 2022 precisa ser um ano de renascimento, e não pode ser colocado em risco por nada, nem ninguém.

Precisamos de um técnico à altura do nosso novo elenco. Com coragem para bancar qualquer jogador que esteja aquém tecnicamente e que tenha repertório para obter o melhor desempenho dos melhores atletas. Gostaria que fosse Sylvinho, mas não é. E aparentemente, nunca vai ser.

--

--

Pensando em Preto e Branco

Um espaço para compartilhar ideias e opiniões sobre o Sport Club Corinthians Paulista. Mantido por Daniel Keppler e Arthur Kartalian