Quando os números não contam tudo
Por Daniel Keppler
Há cerca de três semanas, escrevi nesse blog que considerava Sylvinho um técnico que não estava à altura do “novo Corinthians” que havia nascido após as contratações de Giuliano, Renato Augusto, Roger Guedes e Willian.
Muita coisa aconteceu de lá para cá, incluindo alguns lampejos de boas exibições do time, algo muito raro até então com o treinador. No Derby, a equipe foi consistente e eficaz, conquistando importante vitória. Já contra o Red Bull, foi bom ver o Corinthians com poder de reação, empatando no fim do jogo uma partida que estava 2x0 contra. E em seguida, um total domínio contra o Bahia, no jogo que marcou o reencontro com o torcedor.
Foram jogos que me motivaram a repensar esse Corinthians. E que animaram a torcida, inclusive uma parte crítica a Sylvinho. Especialmente pois essa sequência de bons rendimentos veio, principalmente, a partir de duas mexidas no time titular: as saídas de Gabriel e Jô para a entrada de Cantillo e a escalação do quarteto de reforços.
Mas no jogo seguinte a essa sequência, quando o Corinthians foi a Pernambuco enfrentar o Sport, a surpresa: muito embora o “time ideal” aparentasse ter sido descoberto, Jô voltaria ao time titular — e com ele, velhos vícios da equipe, que voltou a produzir pouco (apenas três chutes a gol nessa partida). A derrota por 1x0, apesar de frustrante, se mostrou merecida.
E no jogo seguinte a esse, contra o Fluminense, que ocorreu nessa quarta-feira, o time até voltou ao esquema bem-sucedido de antes, mas com desempenho muito abaixo. Se contra o Red Bull, Palmeiras e Bahia a média de chutes no gol foi de 7 por jogo, contra o Fluminense a equipe acertou a meta carioca apenas uma vez, no lance do gol que decretou a vitória do Corinthians pelo placar mínimo. Muito pouco para a equipe que entrou em campo.
No final das contas, apesar da vitória, o que fica é essa sensação de futebol insuficiente. De que o material humano nas mãos de Sylvinho poderia (e deveria) render mais. E mais importante: de que esse raciocínio não vale apenas para a fase de seu trabalho pós-reforços, mas desde sempre.
Sim, o Corinthians já rendia muito pouco com o técnico antes de Giuliano e companhia: 4 vitórias e 6 derrotas em 16 jogos, com 12 gols marcados e 16 sofridos. Um aproveitamento de apenas 37,5% - com o “plus” de ser o técnico com pior desempenho da história da Neo Química Arena.
Após as contratações, os números revelam outro Corinthians: 6 vitórias e 1 derrota em 12 jogos, com 16 marcados e 9 sofridos. Um aproveitamento de 63,9% - o terceiro melhor da Série A no período. Então está tudo bem?
Pois é, não está. Sobretudo por conta do que os números não dizem: o futebol sempre se mostra insuficiente, chegando a nos custar pontos que poderão ser importantes em dezembro.
Como esquecer, por exemplo, dos três empates seguidos contra Juventude, Atlético-GO e América-MG? Três jogos onde o Corinthians apresentou um futebol pobre, passivo, e escapou de perder por conta de importantes intervenções dos novos jogadores, como o gol de falta de Roger Guedes contra os gaúchos?
Além disso, dá para desprezar o fato de que, na primeira oportunidade que teve, Sylvinho reverteu a mudança que havia sido forçado a fazer no ataque (e que estava dado certo) para recolocar Jô como titular? O que lhe é mais importante, suas convicções como treinador ou o desempenho dos atletas?
Podemos ainda citar a oportunidade-surpresa concedida a Lucas Piton, que não atuava há quatro meses, de jogar contra o Bahia, o primeiro com torcida após um ano e meio. Por que nesse jogo? Por que tanto tempo depois? E por que outros atletas seguem sem uma oportunidade? O que um atleta ganha ao permanecer tanto tempo na temporada sem minutagem?
A realidade é que, três semanas após meu texto sobre Sylvinho não estar à altura do “novo Corinthians”, pensei e cheguei a uma outra conclusão. O problema, na verdade, não é sabermos se ele é ou não é suficiente para o que o Corinthians almeja para seu futuro. Mas sabermos se as pessoas à sua volta tem senso crítico o suficiente para fazer essa avaliação.
As declarações de jogadores e diretoria tem pipocado aos montes no sentido de que Sylvinho é uma excelente pessoa e tem muito potencial. Além disso, a identificação com o Corinthians é clara e inquestionável. Mas, até que ponto isso realmente ajuda em seu trabalho? Não é mais difícil avaliar com isenção um profissional, quando ele é próximo demais de si?
Me preocupo que, na esperança de que, uma hora, o trabalho de Sylvinho “deslanche”, a tolerância com seus poucos recursos táticos e teimosia em excesso acabe prejudicando o Corinthians. As comparações com Tite, feitas em apelo a uma memória afetiva muito cara ao torcedor corinthiano, só tornam tudo mais perigoso. Não é uma aposta arriscada (e cara) demais para um treinador que ainda não se provou?
Ainda temos 12 rodadas de Brasileirão. E como o Corinthians não elevou suas metas, mesmo tendo elevado o nível do elenco (o que parece um erro), busca o G6 como objetivo — e deve conquistá-lo. Isso significaria carimbar o trabalho de Sylvinho como um sucesso, e acarretaria em uma renovação. Seria a confiança de Duílio no treinador tão grande assim?
Sigo muito preocupado com o futuro. Especialmente porque, no presente, muito pouco do que Sylvinho apresenta me anima.