Eu que não fumo, queria um cigarro ou porque não beber muito conhaque antes de dormir
Aí entrei no metrô e me sentei. Do meu lado, sem eu perceber, estava o Humberto Gessinger. Me apresentei, disse que era fã -fã naquelas né- ele me cumprimentou e fomos conversando. Falei pra ele voltar a trabalhar com o Licks e o Maltz. Se você for ver, Gessinger, Licks e Maltz foi, tipo, nosso Emerson, Lake and Palmer.
Do nada, ele começou a me contar a sua triste história de vida. Disse que seu pai faleceu quando ele ainda era jovem e deixou de herança um sítio simples e pobre no Pampa. Contou ainda que trabalhava duro no campo e um dia acordou mais cedo sem nem ver o jornal e viu que ainda era noite. Esperou o dia amanhecer, aqueceu a água sem deixar ferver e tomou sozinho o chimarrão. Procurou, em vão, a noite na memória.
Pensou que não queria deixar de herança para seu filho aquela pampa pobre que herdou do pai.
Perguntei o que ele fazia aqui em São Paulo, respondeu que tinha chegado ontem e que na saída do aeroporto acabou se perdendo.
— Essa cidade é muito grande e tão pequena — comentou.
Completou dizendo que para achar o caminho de volta tomou um taxi, pois não tinha um mapa nem sabia qual era a direção.
— Que viagem! No rádio do taxi rolava de tudo: as últimas do esporte, crime, religião, Isaac James, Bob Marley, Willie Nelson, Julio Iglesias… e todos me davam razão!
— Mas você não sabia mesmo onde estava? — perguntei.
— Não me pergunte o que eu não sei — foi a resposta.
Me perguntou em qual estação eu iria descer, respondi que seria na Liberdade.
— Uma vez fui na Liberdade, mas na verdade eram as grades da prisão — ele disse.
Então o celular despertou e eu acordei.