Em nome de Tupac Shakur, amém. — Parte I

Pita Junior
3 min readJul 27, 2017

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Já começo dizendo nesse texto que, se por algum acaso, você entrou nele esperando eu fazer comparações, rasgar elogios ou destacar o enorme acervo musical de Tupac Shakur, talvez você se decepcione um pouco. Mas calma aí, eu garanto que o texto é muito mais do que o RAP game e brigas de gangstas.

Era uma tarde fria de julho de 2012, eu estava sozinho em casa com o sofá-cama aberto na sala e sem muita animação pra nada. Nem pra ficar na internet, nem pra ler um livro, nem pra jogar bola, nem pra conversar com alguém, nem pra viver (juro). Eu estava realmente numa fase muito pra baixo, vivia conflitos internos o tempo todo e aquilo bagunçava a minha mente. Mas eu acredito que o universo oferece portas pra gente e a decisão de abrir — ou não — é nossa. Uma dessas portas me foi oferecida e, como eu não tinha muita coisa a perder, eu decidir abrir, entrar e foi uma das melhores coisas que fiz nos últimos anos.

Brincando de mudar o canal da TV sem muita pretensão — típico de quem não quer ver nada, mas está ali com a TV ligada — eis que percebi que ia começar a exibição do documentário “Tupac: Resurrection”, lançado dia 14 de novembro de 2003 (lembra o lance da porta?). Até então eu nunca tinha parado pra ouvir sequer um som de Tupac, só ouvia seu nome em músicas de RAP, como as do Racionais MC’s, por exemplo. Mas pra mim era só um ídolo dos caras, não esperava que um dia viria a ser um meu também.

Após assistir atentamente o documentário, que me prendeu do início ao fim, eu fiquei vendo os créditos subirem e o turbilhão de coisas em minha mente ia aos poucos encontrando o seu lugar. Cada depoimento, cada vídeo das apresentações, explicações das músicas e relatos da vida de Tupac mexeu comigo como se eu estivesse assistindo algo de um familiar muito próximo que não está mais aqui pra eu poder conversar pessoalmente. Foi uma sensação estranha no começo, mas enfim, os créditos acabaram e eu imediatamente desliguei a TV, corri pro PC e fui pesquisar o que viria a ser a primeira música de Tupac que escutei.

“Eu não sei o nome da musica, só lembro que o beat tinha um barulho de sino o tempo todo… como vou achar isso?”, pensava. Arrisquei e coloquei “2pac musicas” no Youtube. Uma lista interminável de sons, mas fui pela lógica. “Essa deve ser uma das mais famosas, ela encerrou o doc”, pensei. Tentei uma, escutei três segundos iniciais e tirei. Sabia que ia descobrir qual era assim que ela começasse a tocar. Então depois de umas três ou quatro tentativas, enfim encontrei “Hail Mary” e a sensação foi a mesma que passar de ano depois de não ter estudado nada. Incrível! Ouvi repetidamente umas cinco ou seis vezes. Levei alguns dias ouvindo apenas ela, estava satisfeito com aquele som. Que tolo! Quando me permiti ouvir outros sons, era como se eu estivesse entrando no mundo de Tupac a cada track. E é exatamente isso. Tupac traz verdade em seus sons. Mesmo sem — ainda — não ter ideia do que ele falava em suas músicas, eu sentia verdade, sentia a raiva, a dor, a emoção, o deboche, a alegria, a seriedade, o ódio e o amor que ele colocava nas suas músicas.

Eu não esperava que uma tarde fria e cinzenta fosse apresentar o que hoje pra mim é um dos ídolos que levo pro resto da vida. A partir daí me senti na obrigação de conhecer melhor aquele cara. O documentário foi muito esclarecedor, mas eu sabia que não era tudo. Eu precisava ter certeza do que eu já tinha certeza, entende? Então fui expandindo e vi que, muito mais que um MC da cultura Hip-Hop, Tupac foi uma das figuras negras mais importantes dos últimos anos. Eu tinha encontrado um Deus no qual eu pudesse me identificar. Mas essa parte eu conto depois.

(Continua…)

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