Cenário: As regiões selvagem antes da Invasão.

Porakê Munduruku
Brasil na escuridão
14 min readFeb 2, 2019

Nesta quarta e última parte de nossa série especial propondo um background histórico para o cenário latino americano de Lobisomem: O Apocalipse, nosso anfitrião, o Sol Oculto da Ninhada do Pico da Neblina, Jurandir “Névoa-sob-as-Matas”, finalmente se concentra nas planícies e planaltos da porção oriental do subcontinente, onde hoje estão localizados os territórios do Brasil. Confira!

A esta altura, você, filhote impaciente que nasceu no Brasil e que considera distante toda essa conversa sobre impérios andinos e meso-americanos, já deve estar aborrecido, querendo saber sobre o passado das regiões selvagens na porção oriental da América do Sul, aquela que viria a ser controlada pela coroa portuguesa durante a maior parte do tempo que se seguiu a invasão europeia.

Sua paciência será recompensada, mas antes é importante que você se lembre de que as fronteiras das atuais nações latino-americanas são uma arbitrariedade recente, meros séculos em uma história que compreende milhares de anos para os povos nativos e milhões de anos para a maioria das demais criaturas que chamam esse lugar de lar. As grandes civilizações urbanas, como incas nas montanhas andinas, os maias nas florestas da América Central e os Astecas nas planícies pantanosas ao extremo sul da América do Norte, e são uma exceção no passado recente do mundo, não é diferente na América Latina.

Do sul do México à Patagônia, uma densa cobertura florestal costumava se estender por milhões de quilômetros, hegemonizando a paisagem de Ambalasokei. Florestas tropicais e subtropicais, mas também, porções de florestas temperadas, serrados, caatinga e até mesmo desertos. Na maior parte desses territórios, povos humanos prosperaram sem a necessidade de erigir grandes centros urbanos. O olhar contemporâneo costuma se referir a eles como bárbaros, selvagens, primitivos, foi assim também que os chamaram os colonos europeus antes, durante e depois de lhes mostrar a face branca e civilizada de sua própria barbárie, selvageria e primitivismo.

Mas não me julgue como um velho tolo e amargurado que idealiza o passado. No coração das áreas selvagens os povos nativos aprenderam a conviver em relativa harmonia com a natureza, não por serem muito melhores que os invasores vindos do “Velho Mundo”, mas apenas por serem um pouco menos estúpidos do que aqueles.

Para um ianomâmi, aqui no interior escaldante da floresta tropical, ou um selk’nam no gelado arquipélago de Tierra del Fuego, no extremo sul da Patagônia, buscar uma convivência harmônica com a natureza sempre foi uma questão de mera sobrevivência. A tecnologia e a ilusão individualista, para esses povos nativos, não havia se desenvolvido o suficiente para alimentar a arrogância insana tão comum à humanidade nos dias de hoje. O que talvez se explique pela fartura e exuberância da natureza local, afinal, com a presença de diversas espécies vegetais nativas como milho, feijão, chia, batata, mandioca e cacau, cuja semente nos oferece o chocolate que parece ter seduzido o paladar dos humanos, além de uma prodigiosa diversidade de peixes, presas até mesmo animais domésticos como llamas e chinchilas para fornecer peles, carne e leite, o “Novo Mundo” também poderia ser descrito como um Paraíso, nos seus próprios termos.

Por milhares de anos, os humanos se curvaram ante as forças da natureza e viveram felizes suas próprias tragédias e conquistas, como coube a todas as demais criaturas. É verdade, porém, que muito antes da invasão europeia, o orgulho e ambição das civilizações urbanas na América Central e nos Andes as fizeram voltar seus olhares aos povos do interior da floresta em busca de saciar seu apetite por expandir as fronteiras de seus impérios, o que trouxe guerras, pragas e morte.

Porém, a divisão entre a América pré-hispânica dita civilizada e os povos tidos como selvagens é muito mais tênue do que costuma parecer aos olhos contemporâneos. Durante milênios, povos meso-americanos, andinos e amazônicos mantiveram intensos fluxos de migração e comércio, compartilhando sangue, costumes, línguas, canções, histórias e sabedorias, de maneira nem sempre pacífica. Sim, as regiões selvagens já conheciam a guerra e o toque da Decompositora muito antes da chegada dos invasores europeus, a novidade foi a real ameaça de ver destruídos ecossistemas inteiros que veio depois disso.

O olhar estrangeiro, e mesmo o de muitos moradores ignorantes da região na atualidade, costuma ser incapaz de discernir a imensa diversidade dos povos nativos que habitavam, e ainda resistem, nas regiões selvagens da América do Sul.

Aqueles a quem o mundo contemporâneo se acostumou a chamar de “indígenas”, jamais foram um único povo, nem mesmo uma única nação, eles eram milhares de povos, milhares de nações, com igual número de línguas, dialetos e culturas tão diversas entre si como as plantas que se pode encontrar em um hectare de floresta.

A maior parte dessa rica diversidade étnica e cultural desapareceu sem deixar vestígios, sendo lembradas apenas pela Mnese e algumas antigas e raras canções Balam. Não há como condenar o imenso ódio que domina o coração dos jaguares, diante do maior genocídio que a história humana já presenciou. Quando olhamos para trás no tempo, muitos de nosso próprio povo, compartilham com eles esse ódio contra os Estrangeiros da Wyrm e os Garou.

Nestas regiões selvagens nós, os Bêtes, éramos reverenciados como intermediários entre a humanidade e o mundo dos espíritos. Mokolé, Bastet, Ananasi, Ratkin, Nagah e Camazotz vivíamos entre disputas territoriais e longos períodos de paz, mantendo uma relação relativamente harmônica e muito mais estreita do que a maioria das tribos humanas, embora, aparentemente muito menos formal do que as “Cortes Esmeralda” no extremo Oriente, ou mesmo o recente Ahadi, em Entoban.

A capacidade de povos tradicionalmente considerados selvagens no interior da floresta ainda hoje surpreende pesquisadores e arqueólogos humanos, como a habilidade para construir grandes estradas, os chamados Peabirus, obra de povos indígenas do tronco linguístico macro-jê, que muito antes da invasão europeia ligavam o litoral sul e sudeste do que viria a ser o Brasil até o coração do império inca, onde hoje se localiza o Paraguai. Copacabana, a emblemática praia carioca, foi batizada com uma palavra de origem quéchua e não guarani, você sabia? Muito antes de ser o coração econômico e industrial a América do Sul, o litoral do Estado de São Paulo foi o ponto de convergência de uma vasta rede dessas estradas indígenas que se estendiam para o oeste e o norte desafiando a floresta.

Na própria bacia amazônica, o avanço tecnológico e social de povos nativos como os Marajoaras, no arquipélago do Marajó, e os Tapajônicos, na região do baixo Amazonas, bem diante do simbólico encontro das águas do Rio Amazonas com as do Rio Negro, deram origem a sociedades sedentárias, onde mulheres eram eram alçadas a posições de destaque como líderes, heroínas ou guerreiras e cerâmicas de alta qualidade eram produzidas para rituais religiosos elaborados. Sociedades tão grandiosas e complexas que chegam a serem comparadas às civilizações andinas e meso-americanas, embora não tenham formado grandes impérios e vivessem em maior harmonia com a natureza selvagem a sua volta. Foram todos massacrados pelo genocídio promovido pelos invasores europeus e apenas muito recentemente vem sendo redescobertas por estudiosos humanos, com a ajuda de alguns escavadores de relíquias como eu. Afinal, é nossa missão desencavar a memória.

A Grande Floresta

No interior da Grande Floresta, que se estendia continuamente das regiões selvagens da América central aos pântanos da região central da América do Sul, as tribos humanas sempre guerrearam entre si por recursos e territórios. Mesmo naquele tempo, as crias da Decompositora brotavam em áreas sombrias na profundeza das regiões selvagens. Sob as grades árvores, as fronteiras entre os mundos físico e espiritual sempre foram pouco definidas, esta região foi, talvez, a última em todo o mundo onde o mundo físico se apartou do espiritual.

A Demiurga sempre teve o controle dessa região, onde a paisagem está em permanente transformação. Cursos de água, rios e igarapés estão sempre abrindo novos caminhos pela floresta, carregando as terras das margens de um lugar para o outro e formando ilhas móveis que surgem e desaparecem no decorrer de poucos anos.

Limiares, abscessos e górgonas, áreas e criaturas imbuídas pelo poder bruto da Demiurga, sempre foram mais comuns no interior da Grande Floresta do que em qualquer outra região do planeta. E sempre houve também locais únicos, onde amálgamas do poder selvagem da Demiurga eram tocados pela corrupção da Decompositora dando origem a regiões sombrias, conhecidas como Panemas, áreas maculadas, nascidas dos pesadelos, onde não é raro encontrar os infames Fomori conhecidos como Taiaçus e as temíveis Hatar, Ananasi alinhadas a Decompositora, e de onde costumam emergir terrores monstruosos que trazem destruição por onde passam.

Antes da invasão europeia, poderosos espíritos visitavam os humanos no interior da grande floresta e eram reverenciados por eles. Nenhum deles, porém, foi maior que Boiaçu, o espírito do próprio Grande Rio Amazonas que, serpenteando pela floresta, com suas águas, nutre toda a vida sob as matas.

Os Caapuãs, o povo da Floresta, foram moldados por Boiaçu a partir dos sonhos indígenas e guiavam os humanos para que eles convivessem em harmonia com a natureza selvagem, ensinando-os a não caçar as fêmeas prenhes, nem os filhotes imaturos, honrando as presas que, com seu sacrifício, mantinham alimentados e saudáveis os homens. As crias de Boiaçu ensinavam os povos nativos a não exigirem da terra mais do que ela podia oferecer, a respeitar a época da piracema dos peixes e a não se embriagar com o êxtase da guerra, mas também puniam sem misericórdia aqueles que não observavam essas leis.

Por milênios, a grande floresta foi o domínio dos homens-jaguar, em especial dos pioneiros Hovitl Qua, foram os membros dessa antiga tribo Bastet, herdeiros diretos dos extintos Khara, que ensinaram aos primeiros humanos que pisaram nessas terras os segredos da floresta, as estratégias de caça, o uso das plantas nativas como remédio para o corpo e meio de conexão com os espíritos. Esses jaguares selvagens dividiam com os Kumoti Ananasi o posto de maiores conhecedores dos segredos da Grande Floresta, embora a relação entre as duas raças tenha sido sempre conturbada, alimentada por uma intensa disputa por territórios. Servindo a essas duas forças rivais, estavam os Camazotz, muitas vezes intermediando as interações mais amigáveis entre os Hovitl Qua e os Kumoti, cumprindo seu papel como mensageiros, como era a vontade de Gaia.

Já os Ratkins nativos sempre consideram Limiares e Abscessos locais sagrados, alguns de nós acreditam que foi em regiões como o interior da grande floresta, antes da invasão europeia, que os Videntes das Sombras Ratkin selaram o pacto que firmou o povo-rato como os Bête mais próximos da Demiurga. Eles travavam com os Ananasi sua própria guerra particular pelo controle dessas poderosas regiões selvagens, onde flui o poder do caos. Eles também mantinham de perto o controle sobre os povos humanos nativos, para que seu número não ameaçasse o delicado equilíbrio da rica vida selvagem na floresta.

Essa poderosa influência da Demiurga também parece ser a a responsável por atrair os primeiros Garou até a região. Alguns Uktena esporadicamente se aventuravam no coração da floresta, poucos deles conseguiram voltar para casa, embora, a duras penas, três irmãos que partilhavam o sangue Hovitl Qua, tenham finalmente conseguido se estabelecer no coração da floresta. Mas tarde, alguns séculos antes da invasão europeia, fêmeas Garou, vindas de Entoban e fascinadas pelo poder da entidade que conhecem como Wyld, se estabeleceram em uma ilha viva que singra as águas do mar doce, estabelecendo um pequeno enclave na região, os nativos as chamavam de Icamiabas. Com apoio dos Pumocas e do Totem da Pantera, resistindo ao assédio esporádico dos territorialistas Hovitl Qua e também de Kumoti e Ratkins, essas ousadas desbravadoras se estabeleceram por aqui.

Nós, os Mokolé-mbembe da respeitada varna Piasa, obviamente, também tínhamos nosso lugar nessa grande floresta primordial, ainda intocada pela ambição dos estrangeiros. Éramos reverenciados como sábios e conselheiros por todos os demais, presenciávamos acordos, buscávamos julgar de forma imparcial as contendas entre os outros Betês sempre que éramos chamados a intervir, e tomávamos, de forma honrosa, parceiros entre os membros das demais raças para manter vivas suas memórias, cumprindo com nosso dever sagrado. Em nosso Riacho, nas profundezas das águas turvas do grande rio sob a floresta, houve uma varna tão rara quanto desconhecida, a varna Ambala, das grandes serpentes constritoras. Muitos poucos, mesmo entre os Mokole de fora de Ambalasokai, se lembram daqueles entre os nossos que reivindicaram como Parentes as grandes serpentes constritoras. Mas nós lembramos. Os Mokole da varna Ambala não eram Nagah, eles não abriram mão de sua Mnese e do calor de Guaraci, o Sol, para receberem a bênção do veneno e a missão de julgar seus irmão. Os Ambala não possuem o veneno nem a personalidade fria e distante dos Nagah, eles são Mokolé como todos nós, apenas mais raros e um tanto diferentes, compartilham conosco e o rio, embora tenham se tornado especialmente raros desde que os Nagah nos deixaram.

Aliás, os Nagah de Ambalasokei aparentemente foram os últimos a desaparecer, mergulharam em uma épica jornada umbral para atender ao chamado de seus irmãos do outro lado do Grande Oceano, já quase ao final da grande tragédia conhecida como a Primeira Guerra da Fúria e nunca mais voltaram a ser vistos por nós. A quem acredite que tenham se juntado aos Camazotz e Grondr entre os Perdidos.

Para diversos povos da floresta os Nagah e nossos irmãos Ambala eram uma ponte direta com o espírito do Grande Rio, vivendo entre os humanos como homens e mulheres sábias, místicos iluminados, líderes e guias espirituais, reverenciados até mesmo pelos Caapuã como emissários Boiaçu. Entre os demais Betê eram vistos com respeito, mas a aparente ausência de emoções dos Nagah causava estranheza à maioria das demais raças metamórficas. Uma história sobre Caninana e Norato, uma Nagah e um Ambala que formavam uma estranha Ninhada, conta sobre o conflito entre os dois. Caninana era conhecida por sua inclemência com os humanos com a qual Norato não concordava por considerar exageradas as punições lançadas contra a humanidade por sua companheira, no trágico fim, Norato aprisionou Caninana para proteger os humanos de sua ira. Vendo o que a humanidade tem feito com o rio e a floresta, muitos se perguntam quem realmente estava certo, no fim das contas.

Os Grondr de Ambalasokei desapareceram nessas terras ainda antes de sua contraparte europeia, sem Javalis, por aqui eles tomaram como parentes selvagens os Pecari, grandes porcos do mato, conhecidos também como Queixadas, pelo barulho intimidador que fazem ao bater os dentes quando se sentem ameaçados. Aqui os Grondr não foram vítimas da Fúria Garou, mas pereceram vítimas de seu próprio orgulho, aqueles cuja missão era extirpar a mácula da Wyrm superestimaram sua capacidade para resistir à corrupção e acabaram sendo corrompidos e levados à extinção pelos Hovitl Qua, deixando para trás toda uma raça de Fomori, os chamados Taiaçus.

A Caatinga

Já no nordeste de onde hoje está localizado o Brasil, a paisagem de clima semidesértico era dominada por uma vegetação característica, espinhosa e de galhos retorcidos, que durante as longas estiagens sazonais adquiria um tom esbranquiçado, cuja aparente desolação costumava ocultar uma rica diversidade animal e espiritual, caracterizada pela resistência e persistência diante do clima agreste.

Este costumava ser o domínio de nossos irmãos Mokolé-mbembe da varna Sytra, dos resistentes jacarés do papo-amarelo, que reproduziam-se com nações humanas como Pankararé, Kantaruré, Xucuru-Kariri, Kiriri, Kaimbé, Tuxá, Tumbalalá e Payaku e dominavam a técnica de se manter enterrados sob a lama de riachos sazonais para sobreviver às grandes estiagens, permanecendo por longos períodos entregues ao sono do Dragão ou explorando as profundezas da Mnese, pelo que eram reverenciados e procurados como conselheiros por Betês de toda Ambalasokei, reconhecidos por estar entre as criaturas vivas mais antigas do continente. Alguns deles têm se mantido ativos por séculos, acordando apenas pelo curto período em que as mais fortes estações chuvosas levam água aos recônditos mais áridos do sertão.

Sem a presença Balam, a região foi sempre um importante atrativo para Pumocas peregrinos em busca de iluminação e do auxilio dos sábios e poderosos espíritos locais. Mesmo antes da invasão europeia havia histórias de lendários exploradores Pumocas que cruzavam o continente, deste Gendasi, para meditar sob o sol escaldante da caatinga, aprendendo com os espíritos locais lições sobre a persistência e a determinação necessária para sobreviver aos maiores desafios.

O Cerrado e a Mata Atlântica

Mais ao sul e ao leste da Grande Floresta a paisagem costumava ser dominada por Cerrados, enquanto pela costa se estendia a exuberante Mata Atlântica, no litoral do Brasil.

O Cerrado são as savanas sul americanas, caracterizadas por uma vegetação bem mais esparsa e menos exuberante do que aquela vista nas florestas tropicais e com um clima seco, que se estendia do centro-oeste ao sudeste de do Brasil.

Já a Mata Atlântica é um tipo especifico de floresta tropical, característico da costa leste da América do Sul, que foi quase totalmente destruído pela exploração que se seguiu a invasão europeia, sendo hoje levado à margem da extinção, foi o cenário dos primeiros confrontos entre os povos nativos e os colonizadores europeus.

Nestas regiões os Bastet Hovitl Qua aprenderam a dividir o espaço com seus primos Pumoca, disputando territórios, mas também formando alianças ocasionais, temporárias ou duradouras. E travaram sua própria guerra particular com os Ratkin nativos sob a proteção do poderoso Totem Caxingui, que sempre tiveram uma presença marcante essas regiões, tomando como parentes selvagens o imponente e adaptável ratão do banhado, e povos indígenas como Krahôs, Xavantes, Xerentes, Xacriabás e Tapuias.

Também foi nessas regiões que nossos irmãos Mokolé-mbembe da sábia e mística varna Teyuwasu, dos grandes lagartos Teiú, fixaram seus domínios, tomando como parentes entre os povos humanos os indígenas Guaranis e Aimorés, evitando conflitos com os demais Fera locais e buscando a sabedoria dos espíritos da região e a aliança com os Pumocas, muito mais amigáveis que os Hovitl Qua, precursores dos atuais Balam.

Os Pampas

Ainda mais ao sul, abarcando o extremo sul do que é hoje o território do Brasil, do Uruguai e uma parte da Argentina, desde muito tempo, se estendia a grande planície tomada por pastos naturais conhecida como Pampas. Essa região, que nunca atraiu grande atenção dos Bête, onde habitavam esparsamente povos humanos como os Charruas, Jês e Guaranis, contava com a presença de alguns poucos Mokolé-mbembe da varna Sytra e Ratkins aliados do Totem Caxingui e influenciada por sábios espíritos antárticos como a gaivota, o albatroz, a foca, o pinguim e a orca.

Os Desertos Sul-americanos

Pela fama que adquiriram as florestas sul-americanas, talvez cause algum espanto que a região possua, não apenas um, mas alguns desertos, como o deserto do Atacama, que ocupa partes do Chile e do Peru e é considerado a região mais seca de toda a Terra; o deserto de Sechura, na atual costa do Peru, lar ancestral das Ananasi Tenere que influenciaram a criação do Império Inca e construíram as renomadas linhas de Nazca; o pequeno deserto de e La Guajira, entre Colômbia e Venezuela; e o deserto da Patagônia, o maior de toda a região, localizado no extremo Sul do Subcontinente.

Os Pumocas são os legítimos e inegáveis senhores dos desertos de Ambalasokei e consideram essas regiões seus locais mais sagrados. Porém, nenhum desses territórios é mais sagrado do que o Atacama, que os Pumocas acreditam compartilhar uma conexão direta com Jaci ou Mama Quilla (a lua), e onde costumam buscam contatar poderosos espíritos lunares.

Essa sempre foi uma região onde a fronteira entre o mundo físico e espiritual é quase nula. E foi no Atacama que surgiram, pela primeira vez, os feiticeiros imortais conhecidos como Capacochas, que usufruem de um vinculo estreito com as divindades cultuadas por diversos povos nativos sul-americanos.

Caribe

O paradisíaco arquipélago do Caribe foi, um dia, o lar de nossos irmãos perdidos, a Ao, daqueles que tomavam tartarugas marinhas e os povos nativos das ilhas como seus Parentes.

Antigos, sábios e contemplativos os Ao usufruíam de um vinculo estreito com os Rokea do Oceano Atlântico e serviam de ponte entre o misterioso reflexo umbral dos Oceanos e o Mundo da Superfície, sendo reconhecidos como grandes sábios, algumas vezes subindo a foz de rios como o Amazonas e Orinoco, tomando também tartarugas de água doce como parentes.
Eles nunca foram muito numerosos e por alguma razão desconhecida desapareceram séculos antes da invasão europeia.

Muitos Mokolé-mbembe de Ambalasokei costumavam nutrir esperanças de que um dia os Ao ressurgiriam em algum entre seus Parentes humanos nas ilhas-paraíso, mas a quase completa aniquilação dos antigos povos originários do Caribe, que se seguiu a chegada dos europeus, converteu em pó essas esperanças, o que fez os Ao se juntarem aos Grond e Camazotz nos rituais onde relembramos os Perdidos.

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Porakê Munduruku
Brasil na escuridão

Mombeu’sara, griô amazônida e escritor. Administrador da Página Brasil in the Darkness e integrante da Kabiadip-Articulação Munduruku no Contexto Urbano.