Terço de Prata (poesia)
Juradas as flamas santas do argento
No silêncio de um nume sem Verdade,
Procura vitória na castidade
Em sacerdócio puro, mas sedento
No desespero do desgosto a glória
É muito buscada sem paga ofensa.
Funda d’alma pura a empírea sentença
Que do sepulcro não se faz simplória
Mas o Céu não desiste da vitória,
Em faíscas, amor é proferido
Embora exaurido, nunca é partido,
Tácito voto não foge à memória
E retumba o lume do sumo Rei
E espelha no objeto a sapiência
Um vago murmúrio de Sua Ciência
Guia a obra do metal de Sua lei
Como poderia haver outro guia
Além daquilo que é a Verdade?…
Complete com teu louvor a Trindade
Que o tecido da mentira desfia
Contudo por que argênteo e não áureo?
Quando a Santidade é Tudo e maior?
O ouro não seria assim melhor?
Digo que Nada seria mais sábio
Divino Poder é áureo e obscuro
É mosaico que não se pode ler
Em lampejo manifesto sem ver
Um guia oculto e sério, porém puro
Já seu louvor ditoso em sacro rito
Gera uma Luz fria como a noite
E em seu adorno não produz açoite
Mas a aguda humildade do Infinito
Um vínculo sagrado assim é feito
De espada santa, crucifixo e prata
De lascívia, sacrilégio e sonata
Onde o desígnio é mais que um conceito
A oração não é feita no discurso,
Constitui ainda mais vastidão,
Não necessita de voz ou de mão
Nem de caminho p’ra fazer percurso
A Verdade não é caminho ou vida
Não é arbusto em chamas ou a Morte
Nem p’ra falta de sentido um suporte
Não é resposta, solução, medida…
A Verdade é ligar e separar
No modo como Tudo se organiza.
Verdade não decreta nem batiza,
Mas da Ordem e do Caos faz o amar
E no âmago do Universo o nexo
‘Inda inerte em coro celestial
Rende música e clangor sem final
No lascivo sobe o vulto perplexo
Entrega e abre a alma na promessa.
E a maior de todas as criações
Enfrenta todos os dias dragões
Num sofrimento que não há quem meça
A alma não carece de valentia
Dá Tudo ao vate sem Nada pedir
Não há desate que a faça franzir
Nem males que lhe quebrem a rebeldia
Porém o alfanje seria leal?
Assim como a vaidade é retilínea,
Majestosa mas atroz é a insígnia.
Quem atém cada ponto cardeal?
A alma resigna no terço o pecado
Conhece o falso da fátua madeira
Que com fogo do Real faz fogueira
Em placidez e joelho dobrado
Mas inda perdida no pravo abismo
Arcabouço vil por anjos guardado
O trabalho sacro por furor forjado
Não derrama na taça de cinismo
De tão atilada peça a feitura
Derrama do Céu rubro como Sangue
Mas a certeza não há quem balance
Pois nela até desordem se faz pura
Nunca dantes houve mais leal luta
Que não exige pecúnia ou dor
Além de uma gratidão sem temor
E de minúcias sutis a prescruta
E esse solene objeto sem forma
É imune a todo engano de falsário
E mais divino que qualquer rosário,
Derrota qualquer arrogante horda.
Brada em estrondo que o mundo comove
Grita o sangue sincero da sua prece
Sorve, inspira o fogo que te aquece
E reza p’ra cada gota que chove