Foto: acervo boboca do Google Images/Reprodução Youtube

Como saltei do jornalismo para tentar começar um negócio com o meu conteúdo

Felipe Portes
5 min readJul 20, 2015

Se você espera ler uma história de sucesso no empreendedorismo, melhor fechar esse post. Aqui não vai ter nada disso.

Não, antes de mais nada, esse texto não é sobre skydiving ou esportes radicais. É sobre uma vocação profissional.

Bem, como os amigos mais próximos sabem, andei me distanciando lentamente do jornalismo nos últimos meses. Perdi o gosto pela profissão em si e não me vejo trabalhando em grandes empresas, fazendo gostosas reportagens e muito menos cumprindo plantões imbecis, os quais eu deveria ter previsto antes de entrar na faculdade.

O último mês me trouxe uma repentina queda de um avião hipotético. Neste avião grande hipotético, esta queda era iminente e aconteceria dentro de alguns minutos. E então, para evitar entrar para as estatísticas, resolvi saltar de vez. O problema é que eu não sei bem se trouxe um paraquedas. Saltei para saborear alguns momentos de liberdade pelos céus.

Chega de metáforas. Eu saí porque cansei dessa vida. Cansei de ganhar pouco para trabalhar demais, cansei de perder muitos eventos importantes na minha vida e na dos meus amigos em troca dessas mixarias de sobrevivência e escalas idiotas de trabalho. Cheguei a um ponto de enorme insatisfação com o ofício e entendi bem o que é que me atraiu ao jornalismo: a vontade de escrever. No entanto, nunca tive sede pela informação, nunca fui bom em dar furos de reportagem, tenho pavor de aparecer em vídeo e notei que até hoje não me adaptei à exaustiva rotina.

Devia ter feito letras. Devia ter estudado mais quando tive chance. Mas estava ocupado vivendo. Não sou daquelas pessoas que cospem ideais e formas de viver, justamente por acreditar que cada um sabe bem o que passa e que é egoísta tentar imprimir a nossa versão de tudo no olhar de outro alguém. Pode ser que ao tentar deixar isso claro, eu tenha parecido rebelde ou desapegado, mas não ligo. É o risco que se corre por não se prender a convenções coletivas de comportamento.

A primeira virada

Não sofri pressão de ninguém da família para seguir outra carreira. Escolhi essa e estava feliz há pouco tempo atrás. O problema passou a ser a minha incerteza em relação a ela, a faculdade e a forma como eu viveria no futuro. Fiz alguns planos para os anos que viriam, mas a vida naturalmente mudou o panorama. Trabalhei em empresas como a F451 e o Yahoo, guardo boas lembranças de lá, mas eram momentos diferentes.

Logo, a pressão por resultados e diplomas começou. E eu entendo isso perfeitamente, só não concordo que se aplique ao meu momento de vida. É hora de tentar algo novo, já que eu tenho 25 anos e sou infeliz com o meu ganha-pão. Antes recomeçar aos 25 do que aos 30, com sabe-se lá quais responsabilidades.

Resolvi tomar conta do meu site com mais dedicação. (Vocês sabem, todo dia da semana publico dois textos aqui no Medium, não preciso fazer propaganda) Lembro que o primeiro texto que li nesta rede social falava do lado problemático das startups. Como nós não vivemos num mundo de sonhos em que as coisas se ajeitam de uma hora para outra. É preciso ter paciência e calma para chegar ao sucesso.

Me condicionei a trabalhar mais sozinho e procurar algum parceiro para o site. Depois, comecei um plano de construção de uma agência de conteúdo, que será posto em prática nos próximos dias. Agora, já estou decidido a prestar o curso de Letras, o que já é um outro bom começo.

Os últimos dias foram suados, corridos e um pouco desesperançosos. Nenhuma parceria cai do céu, evidente, mas até agora recebi o total de zero respostas para os meus pedidos. Enviei e-mails com a cara e a coragem, escrevi novos textos e tenho batalhado com insistência para consolidar a audiência do meu site.

É engraçado notar a reação das pessoas a um recomeço. Muitos torceram o nariz e fizeram a pergunta clássica: mas você vai viver do quê? Em 1970, talvez não houvesse um questionamento interno sobre as nossas diretrizes de vida. Todos seguiam uma linha até o fim, felizes ou não com as suas vidas. Ninguém olhava para os lados, era como viajar de trem em uma eterna linha reta. Sem graça, sem empolgação, sem desafios. Eu não. Eu adoro desafios.

Aí o amigo leitor me pergunta: ‘mas tá, é só isso que você tem em mente?’ E eu respondo: não. As primeiras tentativas sempre são motivadas por aquilo que sabemos fazer melhor. E é possível ganhar a vida na internet ou nas ruas com essa capacidade. No meu caso, infelizmente me especializei em uma área que tem enorme concorrência, por muitas vezes desleal. Hoje as pessoas não leem muito sobre futebol. Elas consomem o noticiário e se distraem com as bundas que aparecem em galerias, com as especulações sem sentido e sobretudo com crises plantadas nos clubes.

Eu entendo que haja espaço para todos. Para as boas histórias e para visões particulares de um esporte que é apaixonante e intrigante, por mais que os escândalos recentes tentem enterrar a sua reputação. Se muita gente ganha bastante dinheiro mentindo ou falando abobrinhas disseminadas pelas redes, por que é que quem produz conteúdo de qualidade não consegue ter espaço? Será que as pessoas preferem a porcaria simples ao texto mais elaborado? Será que estamos burocratizando demais o acesso?

Não. Não temos o apoio necessário para continuar. Entendo que haja espaço de verdade para todos, não somos sites e fontes de conteúdo excludentes. Faço o que faço porque gosto e continuarei assim enquanto tiver tempo ou for saudável. Porque tenho paixão por isso, porque cresci com esse sonho e vou para a cova com ele.

Agora, se vou ser bem sucedido algum dia com o que sei/escrevo, é outra história. Vamos ver se a batalha compensa ou se será apenas mais uma porção de murros no concreto. É importante ter convicções na vida. Mas em alguns momentos, é preciso saber se livrar delas também.

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Felipe Portes

Desenhista. Estudante de Letras-PT. Adepto da autoironia. Também estou em instagram.com/draw.portes