¡Gracias, México! Como foram as férias da minha vida (parte 1)

Paulo Pacheco
7 min readApr 22, 2017

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(Leia também a parte 2)

Qual é a viagem da sua vida? Estados Unidos? Europa? África? Alguma ilha da Polinésia? Nas minhas férias, visitei o país que sempre desejei conhecer: México. Foi minha primeira vez acima da linha do Equador e no oceano Pacífico, mas para mim representou muito mais do que isso. Foi a realização de um sonho de uma década.

A vontade de visitar o México começou há 13 anos, quando Chaves entrou de vez no meu dia a dia. Sim, o Chaves do SBT! Vejo praticamente desde quando nasci (como quase toda minha geração), mas em 2004 virei de fato fã do programa mexicano, daqueles de colecionar bugigangas, pesquisar informações, gravar episódios, chegar em casa a tempo de ver as reprises pela milionésima vez, repetir as piadas na escola, na faculdade e no trabalho. Chaves move minha vida a ponto de definir para onde vou viajar nas férias.

Livros, DVDs, canecas e bonequinhos: parte da minha modesta coleção de Chaves

Antes de começar a descrever minhas férias, devo contar por que ir ao México era meu sonho. Nunca fui de viajar tanto, principalmente para o exterior. Na minha oportunidade, em 2015, poderia ter realizado meu sonho, mas para não me arriscar escolhi visitar a vizinha Argentina. Em agosto de 2016, com quase um ano de antecedência, finalmente tirei o sonho da cabeça e planejei a viagem mais importante da minha vida. Foi a época certa para concretizar o desejo, com trabalho estável e a companheira perfeita (minha namorada Jaiane Valentim, também fã de Chaves).

Fizemos as economias necessárias para comprar passagem e hospedagem e garantir o dinheiro para gastar no México. O roteiro poderia ter sido escrito por Roberto Gómez Bolaños, pois incluiu quatro dias na capital e dois no hotel de Acapulco, onde foi gravado o episódio mais famoso de Chaves. Nos meses seguintes, demos entrada no primeiro passaporte, pagamos o pacote de viagem e trocamos reais por pesos mexicanos. Mas também vivi períodos de ansiedade, às vezes me imaginando no país, às vezes pensando que tudo seria um fracasso, o que felizmente não aconteceu.

Dia 1: passeios improváveis e encontro com ídolos

Embarcamos na noite de 11 de abril e, após nove horas de voo com tentativas de sono, colocamos nosso primeiro pé em solo mexicano. Em seguida, pusemos o outro, senão cairíamos (hue). Logo nos primeiros minutos, senti os efeitos da altitude e da poluição, mesmo acostumado ao ar sujo de São Paulo. Por causa do frio matinal mexicano e do ar condicionado do avião, que entupiu meu nariz, me esforcei para puxar oxigênio como se estivesse correndo uma maratona. Mas foi só no começo. Nos dias seguintes, me acostumei aos 2.250 metros acima do nível do mar.

O primeiro dia também foi cansativo pelos deslocamentos desnecessários que fizemos. O primeiro deles foi de ônibus até o terminal 2 do aeroporto da Cidade do México, com mais voos locais, para comprar dois voos para Acapulco, mas, ao vermos os preços, desistimos. Teríamos que gastar quase todo o dinheiro que trocamos para seis dias no voo até o litoral. O jeito foi trocar o avião pelo ônibus. Deixamos as malas no hotel e fomos ao Terminal de Autobuses del Sur, integrado à estação Tasqueña, a última da linha azul do extenso metrô mexicano. Uma rodoviária colada no metrô com ônibus para o litoral me fez sentir no Jabaquara, em São Paulo. As passagens custaram dez vezes menos do que as aéreas. Apesar da viagem longa (cinco horas, contra uma do avião), foi a melhor decisão que tomamos no dia.

Com a passagem para Acapulco garantida, partimos para a realização de sonhos na viagem dos sonhos. E aí tivemos o segundo deslocamento desnecessário do dia. Saí do Brasil com a ideia de visitar os túmulos de Chespirito, Ramón Valdés e Angelines Fernández, mas o passeio foi mais extenso do que previmos. Usamos metrô e táxi para ir ao Panteón Francés, onde Bolaños estaria sepultado. Ao chegar, compramos rosas em frente ao cemitério, mas a vendedora viu minha camiseta de Chaves e lamentou meu equívoco. Disse que Chespirito havia sido enterrado em outro Panteón Francés. Foi um balde de água fria após quase uma hora atravessando a cidade, porém não desistimos. De táxi e metrô, chegamos ao local correto, onde tivemos outro desafio.

Bolaños morreu em novembro de 2014 e foi enterrado no Panteón Francés do distrito de Cuauhtémoc. Minha expectativa, além de conhecer o novo lugar sagrado para os fãs de Chaves, era saber se eram verdadeiros os boatos de que Florinda Meza, mulher dele durante mais de 30 anos, havia proibido visitas ao túmulo do marido. Ela me garantiu em entrevista coletiva no SBT, em 2015, que o rumor era falso. Constatei que tanto Florinda quanto a imprensa mexicana tinham suas parcelas de razão.

No cemitério, fui abordado por um segurança e contei minha história. Ele, então, pediu a outro funcionário que me acompanhasse até a sepultura de Bolaños. Caminhamos alguns metros até sermos apresentados ao túmulo. O rapaz, ao ver minha namorada com uma máquina fotográfica, nos interrompeu alertando que era proibido tirar fotos, exceto com uma condição: se pagássemos, ele mandaria apagar as imagens das câmeras de segurança para podermos registrar o que quiséssemos. Então era verdade que Florinda havia instalado câmeras? Bom, não vimos câmera alguma nos arredores da sepultura, mas tivemos nosso pedido atendido.

Quando vi o local onde Chespirito foi enterrado, fiquei paralisado. Não como o piripaque do Chaves. Era quase uma “animação suspensa”. Eu estava consciente, mas imóvel diante de meu ídolo. Pode ser contraditório, porque planejei fazer essa visita, mas foi como se eu o tivesse encontrado por acaso e ficasse sem reação. Com uma camiseta escrito “El Chavo vive” e um buquê de rosas, não sabia o que fazer. Nem lágrimas caíram, mesmo com tanta emoção dentro de mim. Minha vida parou durante alguns minutos. Eu parei durante alguns minutos em frente à sepultura, depositei as flores e conversei com ele. Não tenho crença formada sobre os céus e os infernos que possam existir no mundo, mas fiz questão de agradecer Chespirito por ter dado tantas alegrias para mim e tantas pessoas no Brasil e no mundo. Também disse o quanto ele era querido e idolatrado no Brasil, país onde nunca trabalhou. Enfim, fiz tudo o que teria feito se tivesse conhecido meu ídolo em vida. Não contei o tempo, mas devo ter ficado quase 20 minutos com o criador de Chaves. O túmulo, com lindos vitrais, uma foto dele sorrindo e uma lápide inspiradora, é bem cuidado pela família dele, que zelou por sua saúde até o último minuto.

A viagem seguinte, também longa e também de metrô e táxi, foi até Mausoleos del Ángel, onde estavam sepultados Ramón Valdés e Angelines Fernández (inseparáveis em Chaves, na vida e na morte). Chegamos durante um velório de alguém aparentemente importante, porque havia coroa de flores até do governo. Diferentemente do Panteón Francés, o Mausoleos é muito utilizado e enorme. Pela primeira vez fui a um cemitério com andares e vários prédios. Seu Madruga e a Bruxa do 71 estavam distantes da entrada principal, e isso descobrimos depois de andar muito, túmulo por túmulo, até encontrar os dois, infelizmente abandonados, diferentemente da sepultura de Bolaños. Sem todas as letras, o nome de Ramón Valdés estava escrito com canetinha. A data de nascimento estava errada (é 1923, não 1924). Notoriamente, o túmulo de Seu Madruga é mantido pelos fãs que o visitam e o decoram com adesivos e figurinhas.

Também mal conservado, o túmulo de Dona Clotilde tem a marca de seus admiradores, especialmente brasileiros (um fã de Mauá chegou a colar uma folha de caderno para eternizar a visita). Minha namorada depositou flores e um terço no túmulo de Angelines, e repeti os agradecimentos que fiz a Bolaños para ela e Ramón. E mais uma vez fiquei em transe, imóvel por dentro, emocionado por chegar o mais perto possível de mais dois ídolos que ainda fazem parte da minha vida.

Por causa dos longos deslocamentos, conhecemos “apenas” os cemitérios de Chespirito, Ramón Valdés e Angelines Fernández. “Apenas”, assim entre aspas, porque foi mais do que imaginei. Nunca na minha vida imaginei estar perto de três atores de Chaves na mesma tarde e no México. Foi emoção demais em um dia só, o primeiro de uma viagem que reservaria mais momentos inesquecíveis.

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Paulo Pacheco

31 anos, jornalista, apaixonado por TV, um doce de pessoa.