¡Gracias, México! Como foram as férias da minha vida (parte 2)

Paulo Pacheco
8 min readApr 26, 2017

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A visita à Cidade do México durou quatro dias. Para uma viagem dos sonhos em uma lugar que respira cultura, parece pouco. Mas aproveitamos muito bem o tempo que passamos na capital mexicana. Depois de realizar o sonho de conhecer Chaves, Seu Madruga e Bruxa do 71 e visitar os locais onde eles descansam em paz, curtimos a cidade nos três dias restantes.

Foi bem fácil aproveitar o que o México oferece. O melhor meio de transporte é, sem dúvida, o metrô. É inevitável comparar com São Paulo, afinal as duas metrópoles começaram a construir seus metrôs quase simultaneamente. Enquanto o paulista tem menos de 80km de extensão, o mexicano passa de 200km, com 12 linhas e dezenas de conexões. Ficamos perto da estação Hidalgo, das linhas 2 (usamos para ir ao estádio Azteca e à rodoviária) e 3 (usamos para ir aos cemitérios).

As estações parecem mais sujas e os trens são mais estreitos do que no Brasil. E estão sempre lotados. Como em São Paulo, não tem hora melhor para pegar metrô vazio. A diferença maior está no preço: 5 pesos mexicanos por um bilhete, o equivalente a apenas 1 real. Já na capital paulista, a tarifa custa R$ 3,80 (quase 20 pesos).

A conversão para real também ajuda a explicar como são baratas as viagens de táxi. Corridas curtas, como do metrô Tasqueña ao Estádio Azteca, custam em média de 20 a 30 pesos. O taxímetro sobe pouco por quilômetro rodado, então não pesou tanto no bolso. Em contrapartida, faltou conforto. Alguns táxis mexicanos rodam em péssimas condições.

A Jaiane Valentim e eu também planejamos outros passeios durante nossa permanência na Cidade do México. Vou contar como foi cada um deles.

Dia 2: futebol e fé

Reservamos o segundo dia de viagem para conhecer o lendário Estádio Azteca, palco de duas Copas do Mundo. Foi um orgulho pisar no local onde a seleção brasileira foi tricampeã atropelando a Itália.

Os visitantes (uns 30 ou 40, incluindo um grupo de brasileiros) Na entrada, há uma placa citando os títulos de Brasil e Argentina e outros feitos históricos do estádio, como a semifinal Itália 4 x 3 Alemanha, na Copa de 1970, considerada “Jogo do Século”.

No Azteca, Maradona fez seus dois gols mais famosos, ambos contra a Inglaterra. “La Mano De Diós”, o famoso gol de mão, tem uma foto gigante no túnel que dá acesso ao gramado. No chão deste corredor, Diego e Pelé também deixaram suas assinaturas. Na parede, estão os escudos e as partidas que clubes e seleções do mundo inteiro disputaram no Azteca. Meu time, Corinthians, perdeu para o América na única visita ao estádio, pela Libertadores de 2000 (bom lembrar que vencemos na volta, no Pacaembu).

A vista da arquibancada é incrível. O estádio parece menor do que o Maracanã, mas cabe mais gente (87 mil torcedores após a reforma). Eu, com a réplica da camisa da seleção tricampeã, imaginei o povo invadindo o campo atrás do uniforme dos jogadores brasileiros, O estádio também ambientou “El Chanfle”, primeiro longa-metragem de Roberto Gómez Bolaños com o elenco de “Chaves”. O filme é divulgado no episódio “Vamos ao Cinema?”, mas a dublagem trocou para “filme do Pelé” e eternizou o bordão no Brasil (“Teria sido melhor ir ver o filme do Pelé!”).

Na volta para o hotel, aproveitamos para conhecer o centro histórico e ir à Praça da Constituição, o Zócalo, local obrigatório para quem quiser viajar ao México. A fama tem explicação. A praça é gigante! Ponto obrigatório para fotos na cidade, foi onde trombamos muitos turistas que posaram em frente à bandeira mexicana e a Catedral Metropolitana. Vimos também muitas pessoas sentadas no chão da praça lendo ou descansando, algo impensável em uma praça da Sé, por exemplo.

Na véspera do Viernes Santo (Sexta-feira Santa em espanhol), a igreja (maravilhosa também por dentro) estava abarrotada. Fiéis e turistas não paravam de entrar (e só podiam sair por outra porta, para não prejudicar o fluxo). Do lado de fora, uma surpresa: no chão, há uma placa de vidro onde é possível ver ruínas do que existia antes, embaixo da Catedral, possivelmente do império asteca. História viva.

Dia 3: churros, mirante e revolução

Na Sexta-feira Santa, a Cidade do México estava um pouco diferente dos outros dias, mais vazia e com lojas fechadas. Acordamos dispostos a fazer mais uma tradição que aprendemos em “Chaves”: comer churros. Sim, queríamos ver com nossos próprios olhos como os churros mexicanos são diferentes dos brasileiros. Para isso, fomos até uma das churrerías mais tradicionais do país: El Moro (não é uma homenagem ao juiz da Lava Jato, que fique bem claro).

Depois de passar no meio de uma filmagem (“Placa de Acero” é o nome do filme) e sentir medo das ruas desertas, caminhamos uns 20 minutos até a churrería, que estava lotada para o café da manhã. Pedimos uma porção de quatro churros e chocolate quente, além de uma taça de minichurros. Como diria Chaves, eles vieram “açucaradinhos e douradinhos”, e são bem maiores do que os brasileiros. Também são mais finos e… não são recheados! Brasileiro adora botar recheio em tudo mesmo, dos churros às paletas (que existem de verdade, mas no México são apenas frutas congeladas em formato de picolé).

Do café, partimos para a bela Alameda Central, onde está localizado arranha-céu mais antigo do México: a Torre Latinoamericana (ou Mirador Torre Latino). Subimos até o 44o andar, onde fica o terraço, e tivemos uma vista privilegiada da capital mexicana, em 360 graus. Pudemos observar a imensidão da cidade a 181 metros de altura!

Ainda vimos outra obra imponente, o Monumento a la Revolución. Ele chamou a nossa atenção desde o primeiro dia de viagem, no caminho para o hotel. “O que será aquela construção enorme?”. O monumento de 67 metros está localizado na Plaza de la República e também oferece uma vista ótima da cidade, mas não tentamos subir por causa da longa fila. Preferimos observar a movimentação ao redor da praça. Vimos noivos preparando o álbum de fotos, formandos com direito a beca e capelo, crianças (e alguns adultos) brincando com uma bolinha que quase acertou nossas cabeças. A praça e o monumento parecem acolher qualquer pessoa que vai até lá.

Dia 4: pirâmide e mural no adeus à capital

O último dia na Cidade do México também tinha um passeio programado. Decidimos ir à zona arqueológica de Teotihuacán, onde estão duas das pirâmides mais importantes da civilização pré-hispânica: do Sol e da Lua.

Para chegar à zona arqueológica, usamos mais uma vez o metrô até a estação Autobuses del Norte, onde saem os ônibus para Teotihuacán. Após uma hora de viagem, chegamos às pirâmides. É importante chegar cedo para subir a escadaria, por causa do calor, usar roupas leves e protetor solar e beber água. Também é recomendado levar pouca bagagem para ter as mãos livres e menos peso na hora de encarar os degraus.

A Pirâmide do Sol e a vista de quem sobe seus degraus

Subimos a Pirâmide do Sol, a terceira maior do mundo (65 metros), com dificuldade. Os degraus ficam cada vez mais curtos, e é quase impossível chegar até o ponto mais alto sem usar as cordas que servem como corrimão. Ouvimos vários sotaques e idiomas diferentes. As pirâmides, marco dos povos pré-colombianos, reúnem povos e culturas do mundo inteiro.

Todos se encontraram perto do topo da construção histórica, em que mal cabe um pé no degrau. Lá do alto, o que chama a atenção é a pirâmide vizinha, da Lua. Ambas são geometricamente perfeitas. Nem parece que foram construídas no século II. A subida, as dores nas pernas, o suor, o horizonte, a paisagem deslumbrante. Tudo está gravado na memória!

De volta à capital, visitamos o Museo Mural Diego Rivera, na Alameda Central, mesmo endereço da Torre Latinoamericana e o Museo Memoria y Tolerancia (que conhecemos no dia anterior, com uma exposição sobre genocídios e tiranos como Adolf Hitler; até o discurso de ódio de Trump contra latinos estava exposto).

Companheiro de Frida Kahlo, Rivera é um dos principais artistas mexicanos, e no museu está exposto seu mural “Sueño de una tarde dominical en la Alameda Central”), com 15 metros de comprimento e quase 5 metros de altura. A obra merece um espaço só para ela (o local também tem mostras temporárias) pelos detalhes. Rivera reuniu quase todos os personagens históricos do país no mesmo espaço: do conquistador Hernán Cortés aos líderes da Revolução Mexicana; até Frida e o próprio Diego estão retratados.

Na manhã seguinte, saímos da capital e viajamos para Acapulco, onde vivemos momentos inesquecíveis. Isso fica para o próximo texto.

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Paulo Pacheco

31 anos, jornalista, apaixonado por TV, um doce de pessoa.