Psicanálise cura?

Fabrício Mesalira
5 min readJul 18, 2023

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O que esperar de uma terapia psicanalítica? Vou encontrar solução para as minhas questões? Meus sintomas tem cura?

Sou Fabrício Mesalira, psicólogo formado pela UNESP e psicanalista de orientação winnicottiana. Durante a minha trajetória como psicoterapeuta notei que é muito frequente a confusão inicial de quem busca um atendimento psicoterápico dada a diversidade de abordagens e profissionais presentes na psicologia. Dúvidas de se tal abordagem é a melhor para a minha questão, se é embasada cientificamente, e de funcionamento geral dos atendimentos são algumas das muitas dúvidas que podem aparecer. Assim pretendo esclarecer algumas coisas de maneira sucinta e apresentar a minha forma de trabalhar com a psicoterapia psicanalítica.

O que é a Psicanálise?

A psicanálise é uma das primeiras abordagens clínicas da psicologia, teve como seu pioneiro Sigmund Freud, que apresentou de maneira inédita a teoria do inconsciente. Foi essa primeira descoberta que deu início a toda tradição e debate da psicanálise sobre o caráter do inconsciente e como lidar com ele e seus processos. A psicanálise é partir de então tão diversa e rica em debates quanto a psicologia de maneira ampla, mas não deter-me-ei aqui em explorar a sua diversidade de debates e autores, afinal isso já é ostensivamente feito nos meios acadêmicos e não compete a essa curta apresentação, apenas apresentarei algumas da balizas da minha orientação teórica.

Antes de qualquer coisa, a proposta de qualquer teoria científica é abarcar a resolução para o maior conjunto de problemas simultaneamente e com a psicanálise não é diferente. Não há contra indicação para o uso da psicanálise, tampouco sintomas que ela é melhor ou pior em lidar (há ressalvas para algumas abordagens psicanalíticas, não é o caso da minha), todo tipo de questão humana está compreendida na teoria psicanalítica, e ainda, por se tratar acima de tudo de um método de intervenção e menos de uma resposta pronta para todo tipo de sofrimento humano, ela se propõe a construir, na dupla analista e analisando os caminhos por onde percorrer a vida, enfrentando suas dificuldades e sofrimento inerente.

Na abordagem psicanalítica, não se trata portanto de separar sintomas, categorizar sofrimento, e planejar como mitigá-los na vida do analisando, mas de compreender através da escuta, como e por que o sofrimento é trazido, as razões que implicam a manutenção dele e gênese dos sintomas (inconscientes em sua maioria), sempre tendo como objetivo, não a extinção do sofrimento, mas as compreensão mais clara e portanto mais consciente das escolhas que se faz na vida e de suas consequências. Em resumo, tirar os comportamentos da gênese inconsciente, para o trazê-los ao consciente, e assim fazer com que os sintomas e os comportamentos da vida sejam mais previsíveis, passíveis de mudança e menos produtores de sofrimento.

Cuidado como cura

Donal Woods Winnicott

Assim no processo de análise de orientação winnicottiana, o que se busca é um encontro entre dois humanos, que seja capaz de sustentar uma relação na qual possa se produzir um cuidado. Um cuidado que é materializado através da postura do analista em interpretar o sofrimento de seu analisando, fazendo-o entrar em contato com as suas próprias questões. Diferente das ciências médicas tradicionais na qual a cura é ofertada como uma solução pelo profissional, na psicanálise a solução e a razão do sintoma se encontra no próprio paciente, a tarefa do psicanalista é portanto elucidar o que já está latente no analisando, mas ainda encoberto.

A “cura” do sintoma para a psicanálise winnicottiana, não é como a cura de uma doença, aquela que se extingue com uma medição, procedimento ou recomendação médica, mas é obtida através do cuidado constante, da capacidade do psicanalista olhar para o seu analisando e intervir nos nós, nas incompreensões, nos sintomas, no sofrimento, de modo não diretivo, mas buscando facilitar o encontro de seu paciente com as próprias questões latentes que o trouxeram até ali. Um lugar de analista que o destitui de saber mais que o paciente sobre a própria vida. Essa postura não só valoriza a diversidade humana e de seu sofrimento, como também capacita o paciente em análise a buscar recursos mais autênticos e pessoais para lidar com a sua própria vida, recursos que, apesar de muito pessoais, vão sendo construindo juntos no processo analítico e psicoterápico.

Por fim

Se você se interessou pela psicoterapia de orientação psicanalítica, ao buscá-la, não espere nenhuma recomendação mágica, técnicas elaboradas, dispositivos terapêuticos ou aconselhamento para questões pontuais da sua vida. Vá aberto a um encontro, com alguém que você pretende confiar e construirá um laço para auxiliá-lo a lidar com a própria vida, alguém que estará disposto a uma escuta paciente e implicada dos seus sintomas. Alguém que possa ser amado e odiado, mantendo-se confiável no processo. Amado nos momentos de necessidade de amparo, e odiado nos momentos que as contradições da vida necessitaram de um retorno as questões mais primordiais e inconscientes para serem resolvidas. Será um vínculo para mergulhar nos detalhes mais profundos da sua própria história de vida, buscando nela os esclarecimentos dos seus problemas e sintomas cotidianos.

Caso você tenha interesse em começar uma análise, você pode entrar em contato comigo para marcarmos uma sessão ou sanar as dúvidas, você também pode buscar um outro psicanalista que sente que poderá ouvir sobre as suas questões, o importante é que seja um profissional o qual você confia, pelo menos inicialmente, para lidar com as suas questões e com quem você esteja disposto a construir um vínculo terapêutico.

Se você quiser conhecer mais sobre a psicanálise, deixarei algumas recomendações de livros introdutórios, e você também pode conferir meus outros artigos:

  • Sim, a psicanálise cura! — J.D. Nasio
  • Tudo sobre a psicanálise — Silvia Ons
  • O tronco e os ramos— Renato Mezan
  • O brincar e a realidade — Donald. W. Winnicott

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