Efeito Borboleta

Polliana Zocche
3 min readJun 30, 2015

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Você já se perguntou: o que eu tenho a ver com isso?

Foto: Divulgação

Dia após dia nos deparamos com catástrofes ambientais cada vez maiores e inesperadas. O Brasil já deixou de ser o lugar abençoado por Deus, livre de terremotos e furacões. Enchentes, secas, escassez de água e alimentos são eventos constantes nos noticiários. Podem parecer problemas distantes, chamadas trágicas de jornal sensacionalista que desejam conquistar a atenção do leitor por mais um clique. Mas, infelizmente, a realidade é diferente. Estes eventos tornaram-se a realidade e são consequências de nossas ações individuais, que somadas, produzem um efeito emergente com resultados mais abrangentes e intensos do que quando ocorrem isoladamente. A questão chave é que nada ocorre isoladamente. Cada decisão tomada pelas pessoas está interligada a uma cadeia de decisões anteriores e que terão consequências futuras. Desta forma, a decisão de jogar o papel fora pela janela do carro enquanto está correndo pelas estradas está diretamente ligada ao sentimento de frustração, quando o próprio automóvel fica coberto pela água em um período de grandes chuvas, pois o sistema de deságue das ruas está obstruído pela sujeira. Ou quando o cidadão consegue comprar a tão sonhada casa de praia, pertinho do mar, quando não em área de dunas, que foi planejada e montada com tanto carinho pela família deixa de ser um sonho e se torna um pesadelo no momento em que a maré sobe, as ondas das ressacas carregam seus pertences e desmoronam sua felicidade como um castelo de areia. E também no momento em que se decide utilizar a mangueira para lavar o pátio e as calçadas e “varrer” com água despreocupadamente aquela folhinha que insiste em não sair do lugar, mas depois não acredita que o racionamento está sendo um tema discutido na própria cidade (quando não é feito mesmo sem notificação). Tudo está conectado. Vivemos em uma era de individualismo e conexão desconectada, onde muitos têm acesso a informação possibilidade de conhecer as consequências de suas atitudes, mas poucos se preocupam com o que acontece com o próximo. Por que vou optar por comprar algo mais caro produzido pelo comércio local se eu posso comprar pela metade do preço o mesmo produto proveniente da China e fabricado por mulheres e crianças vivendo em regime de escravidão? E por que, mesmo sabendo que quando está escrito “Made in China” na etiqueta, o produto está manchado com as lágrimas destas crianças, mas mesmo assim isso não é suficiente para se desfazer da compra? Nas últimas décadas avançamos muito em aspectos tecnológicos, suprimos necessidades de nossos antepassados e resolvemos diversos problemas que os fizeram perecer. No entanto, aparentemente perdemos a sutileza de olhar nos olhos do vizinho, de nos preocupar com o que está acontecendo na comunidade e de perceber a relação direta entre a preparação da plantação e o resultado da colheita. É preciso refletir sobre a tristeza de muitos ou simplesmente perguntar: você sabe o que temos a ver com isso?

Texto originalmente publicado na coluna de Meio Ambiente e Sociedade do canalcatarinense.com.br, em março de 2015.

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