5 dicas para escrever diálogos memoráveis
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Ah, os diálogos.
Não é segredo para ninguém que sou uma leitora — e uma escritora — apaixonada por ouvir as personagens falarem.
O diálogo, quando bem feito, é uma ferramenta poderosa para gerar ainda mais imersão na história.
Na linguagem do marketing, o diálogo converte o leitor.
E ao longo de uma década estudando e praticando a escrita criativa, descobri alguns segredos valiosos sobre o ofício.
Entretanto, o principal deles, que vou dividir com você neste artigo, é a arte de criar diálogos memoráveis.
Mas antes dos detalhes, é importante deixarmos bem claro que…
“Palavras, assim como roupas, entram e saem de moda”
Encontrei essa frase num artigo que li para a faculdade e a definição, engraçada a princípio, nunca mais me abandonou.
Muito antes de falar sobre diálogos e suas construções, precisamos falar da unidade que os compõe: as palavras.
Toda e qualquer palavra tem um significado próprio, mas é importante ressaltar que todas as palavras existem num determinado tempo.
A forma que usamos para nos expressar muda constantemente. E as palavras acompanham essa mudança.
Se antigamente, diante de uma situação adversa, diríamos “que lástima!”, hoje é perfeitamente aceitável concluir com um “putz” e seguir a vida.
Portanto, antes mesmo de pensar em diálogos, pense nas palavras.
Elas são a unidade primordial, o núcleo de onde tudo se origina.
Mas antes de falarmos dos diálogos propriamente ditos, também precisamos falar sobre ele: o ritmo.
Um bate papo sobre ritmo
Na música, ritmo é definido como uma sucessão de tempos fortes e fracos que se apresentam de forma alternada e regularmente.
Se formos resumir, o ritmo pode ser percebido como um movimento coordenado, com intervalos regulares ou irregulares.
Quase como uma conversa.
Parece familiar?
A fala humana, sem ritmo, não é nada. Por isso, criar ritmo com precisão é a chave para desenvolver diálogos fortes na ficção.
A maneira como falamos e, principalmente, o ritmo da nossa fala, diz muito sobre nossos objetivos e intenções.
Sobre o ritmo, existem três coisinhas importantes de serem observadas:
I. Toda fala tem ritmo
Não adianta fugir: nada é tão musical quanto o discurso humano.
Mais importante do que aquilo que dizemos é o como dizemos.
Quer um exemplo?
Enquanto uma personagem mais assertiva tende a falar com mais clareza, outra, mais introvertida, pode balbuciar ou mesmo falar bem baixinho.
Se duas personagens estão furiosas e discutindo, talvez o ritmo do diálogo seja mais rápido, bem marcado.
Se duas personagens estão se despedindo, sem previsão para um reencontro, talvez o ritmo seja mais lento, repleto de silêncios, quase como se desejassem adiar a partida.
Conversar é ouvir o ritmo dos outros e responder de acordo.
II. Bons diálogos vêm da observação
Antes de falar, ouça.
Observar o ambiente, prestando atenção em como um determinado grupo conversa, é a chave para escrever diálogos de excelência.
Aproveite as situações do cotidiano — transporte público, salas de espera — e ouça o seu ambiente.
Os detalhes que podem ser captados em conversas alheias são uma joia rara.
Mas lembre-se: observar é sempre válido, mas não seja um abelhudo.
Discrição também faz parte das ferramentas do bom escritor.
III. Leia em voz alta (e ouça)
Ficou truncado? Reescreva.
Diálogos devem ser tão naturais quanto a fala humana, porém melhores.
Afinal, a ficção não precisa de fillers — aqueles “hmm”, “ééé” intrusos — , mas de clareza e ritmo.
Antes de escrever seu diálogo, pense na situação, no humor das personagens, na importância dessa conversa para a trama.
Discussões pedem um ritmo rápido, palavras mais grosseiras. Momentos de carinho, talvez, possam ser descritos com mais calma e palavras delicadas.
Falar é bom, mas a sua personagem — e você — precisam ouvir a história.
Na ficção, bons diálogos conquistam qualquer leitor.
Mas como construir os danados? Chegou a hora de descobrir…
5 dicas para criar diálogos memoráveis
I. Diálogo vs. Exposição
Diálogo é tudo aquilo que a personagem diz. Exposição é a sequência narrativa que vem em seguida.
Quando escrevemos, é importante entender a função de cada elemento na história.
Diálogos tendem a avançar a narrativa, enquanto momentos expositivos têm como objetivo dar uma pisada no freio.
Qual é o melhor?
A resposta, como você deve imaginar, é um grande “depende”.
O mais indicado é balancear os dois momentos para gerar diálogos mais fortes e momentos narrativos interessantes.
II. Preste atenção no período
Um mosqueteiro do século XVII entra numa taverna e diz: “E aí, meu bom? Tudo em cima?”
O diálogo cairia bem num show de comédia, mas dificilmente num romance histórico ou de época.
A maneira como falamos, assim como as roupas que vestimos e as palavras que usamos, existem num lugar de tempo.
Lembre-se: palavras, assim como roupas, entram e saem de moda.
Preste atenção ao período em que suas personagens vivem e tente ser o mais fiel possível a ele.
A menos que seu protagonista faça uma viagem no tempo e o choque seja intencional.
III. Subtexto é uma arte
O que sua personagem não diz é mais importante do que ela, de fato, fala.
Se existe uma lacuna imensa entre o que pensamos e falamos, é interessante explorar isso na ficção.
E os leitores tendem a ler o subtexto melhor do que imaginamos.
“Mas se a minha personagem disser uma coisa e pensar outra, isso não vai deixar ela falsa?”
Muito pelo contrário.
Personagens que dizem uma coisa e pensam outra não são, necessariamente, os vilões da história: eles são humanos.
IV. Saber ler a situação é fundamental
Vamos começar com um cenário hipotético?
Digamos que sua personagem chegue na portaria do prédio. Ela está com pressa, mas o porteiro acabou de começar o turno de trabalho e não está muito inclinado a ajudar.
Você acha mesmo, do fundo do seu coração, que a sua personagem daria bom dia ao porteiro e perguntaria como ele está, correndo o risco de ouvir reclamações que não poderiam interessá-la?
As chances são baixas.
O mais provável é que ela se apoie no balcão e diga: “Oi, Seu Valdir. Chegou encomenda pra mim?”
Detesto regras esculpidas em pedra — ainda mais quando o assunto é escrita criativa — , mas exclua o bom-dia do seu arsenal de diálogos.
Esses cumprimentos banais, perfeitamente aceitáveis no mundo real, são chatos de serem lidos, além de fragilizarem a sua escrita.
Certa vez, li um diálogo assim:
— Bom dia, Maria.
— Bom dia, João.
— Tudo bem?
— Tudo. E com você?
— Estou bem.
E só então a personagem dizia a que veio.
Desnecessário dizer que perdi segundos valiosos de vida.
E quando isso se repetiu outras vezes, fechei o livro e não voltei mais.
Diálogos bem escritos seguram o leitor, mas diálogos sem propósito são 100% eficazes quando o assunto é fazê-lo desistir da sua história.
V. Leia em voz alta
Lá em cima, dissemos que bons diálogos possuem ritmo.
Mas como verificar se o seu diálogo passa no teste? Simples: leia em voz alta.
Quando você transforma a escrita em som — ou melhor, quando você lê em voz alta o que escreveu —, fica fácil perceber se o ritmo funciona ou não.
Se durante a leitura você travar, errar as palavras ou mesmo pular alguma delas, é hora de reformular o seu diálogo.
Na maioria das vezes, o que você escreve funciona no papel, mas não na vida real.
E bons diálogos, aqueles que deixam o nosso coração de leitor em pleno estado de felicidade, precisam de uma forcinha da vida real para ficarem ainda melhores.
Para finalizar, lembre-se:
“Escreva com ritmo, porque a fala humana é rítmica”
Ei, deixa eu contar uma coisa pra você
Eu escrevo comédias românticas que se passam no sul do Brasil e deixam o coração dos leitores quentinho. Para conhecer meu trabalho é só acessar meu site ou assinar minha newsletter gratuita ✍🏻☕