Cuidados com a saúde mental durante o isolamento

Rafaela Hermes
4 min readJul 13, 2020

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O coronavírus é uma doença respiratória extremamente contagiosa que tem assolado o mundo todo. Para conter a proliferação, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso de máscara, a higienização constante e o isolamento social em todos os países que possuem o vírus. Onde há muitos casos, recomenda-se até mesmo o confinamento (lockdown). Entretanto, apesar das medidas conterem a doença física, não podem impedir — mas, sim, agravar — as doenças psicológicas. A alteração na rotina, o distanciamento de familiares e amigos e a solidão causada pelo isolamento social podem e estão afetando a saúde mental de muitas pessoas. Várias acabam adquirindo problemas como depressão e ansiedade, e aqueles que já as possuíam, bem como outras enfermidades psicossomáticas, podem ter sua situação agravada, dificultando a passagem por este período.

Por isso, é necessário tomar cuidados não apenas com a saúde física, mas também com a saúde mental.

Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Brasília, instituição vinculada ao Ministério da Saúde focada na pesquisa e desenvolvimento em saúde, sentimentos de preocupação, confusão e estresse são comuns em situações como a atual. “Estima-se que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados”, instrui em sua publicação sobre saúde mental e coronavírus. Destaca, ainda, que as reações são normais e nem todas essas preocupações serão classificadas automaticamente como patologias.

A conselheira Ana Sandra Fernandes, no podcast CFPCast, produzido pelo Conselho Federal de Psicologia do Brasil para trazer informações e debates acerca de saúde mental para a população e profissionais, afirma também que medo e ansiedade são muito comuns devido a pressões sociais e indefinições e incertezas acerca de medidas sanitárias e epidemiológicas, devido à constante mudança dessas e dos dados referentes ao vírus.

Alessandra Almeida, também conselheira federal, afirma no podcast que a informação pode acalmar as pessoas. “A comunicação é um fator extremamente importante e é o organizador inicial de todas as ações que vão fazer frente ao que está acontecendo”, conta. Entretanto, mesmo sendo importante conhecer a situação, o excesso de informação e as fake news podem causar pânico desnecessário. Por isso, a Fiocruz recomenda reduzir o consumo diário de mídia sobre a pandemia e recorrer apenas a fontes confiáveis, como o site da OMS.

Além disso, é muito importante a coletividade para enfrentar a quarentena. Porém, esta não deve ser confundida com aglomeração: coletividade é criar uma comunidade solidária, mesmo à distância, para compartilhar suas experiências durante o período e ajudar uns aos outros.

Isabela Saraiva, também conselheira, fala sobre criar uma rede socioafetiva. “Isolar o vírus não significa isolamento afetivo social”, afirma. Desenvolver formas de ajuda qualificada, como os atendimentos psicoterapeutas à distância, e incentivar o pertencimento com relatos semelhantes e estudos durante a quarentena ajudam a facilitar a passagem por este período. O conselheiro Rodrigo Acioli adiciona: “Quando a pessoa percebe que aquilo que ela sente e está passando não acontece só com ela, que existem outras histórias, outros grupos de pessoas que passam pela mesma coisa, isso traz um alívio”. Compartilhar suas vivências não apenas com quem está passando pelo mesmo momento, mas já vive em isolamento voluntário antes da pandemia, pode ajudar a lidar mais facilmente com a situação.

Sobre isso, a Fiocruz recomenda ainda reconhecer e acolher suas inseguranças durante este momento e compartilhá-las com pessoas de confiança, sejam amigos e família ou um profissional da saúde. Ademais, a desmotivação também pode ser um grande empecilho, seja para aqueles que possuem ou não histórico de algum transtorno psicológico, e deve-se usar estratégias de cuidado para esses momentos de crise para trazer maior estabilidade emocional. Embora esses variam para cada pessoa, a Fundação indica atividades como meditação, leitura e exercícios.

Confira ainda a entrevista com a psicóloga Cássia Cruz sobre cuidados psicológicos durante a epidemia.

Entrevista com a psicóloga Cássia Cruz. Entrevista feita por Wellington Marques.

Enquanto os cuidados psíquicos em casa sejam de extrema importância, é indispensável a procura por um profissional se os sentimentos são razões de grande estresse e desconforto. Mesmo que possa ser uma reação normal ao período presente, é imprescindível buscar ajuda caso esteja passando por alguma dificuldade. Há vários psicólogos e psiquiatras realizando consultas por vídeo-chamada, possibilitando uma consulta sem sair de casa, em diversas regiões do país. Além disso, há o Centro de Valorização da Vida (CVV), um grupo voluntário focado na prevenção do suicídio e auxílio em saúde mental.

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