Seja um canivete suíço!
Minha talk no TEDxBlumenauSalonEducação hackeada! ;-)
Esse fim de semana vivi a oportunidade incrível de palestrar no TEDxBlumenauSalonEducação, evento com um formato um pouco diferente de outros TEDxes, mas organizado pela mesma galera apaixonada do TEDxBlumenau.
Minha ideia com esse post (além de te apresentar a palestra em si) é hackear a minha experiência, trazendo insights pra outras pessoas que querem ou vão falar do seu trabalho em oportunidades semelhantes. Pessoas que estão buscando espaços de expressão, pra contar sua história e gerar mudanças a sua volta.
A verdade é que desde que passei por aquela consultoria de narrativas digitais (contei dela por aqui), algo surpreendente vem acontecendo no meu trabalho. Eu busquei ajuda das meninas da Cobalto porque sentia que trocava pouco com meus pares, sentia que outros agentes da economia criativa e da nova economia no Brasil não me reconheciam como alguém tão bacana assim pra ouvir sobre esses assuntos... Eu sentia que recebia muita legitimidade como alguém do marketing digital (o que me deixa muito feliz, claro, mas essa não é minha persona principal, é apenas uma das ferramentas que eu uso), mas talvez não recebesse tanta legitimidade como alguém da economia criativa (com a qual verdadeiramente me identifico).
O diagnóstico delas foi certeiro, direto ao ponto. Eu falava pouco sobre esses assuntos em primeira pessoa. E o que eu falava, deixava pra falar atrás ou dentro (apenas para alunos) da minha própria marca, a Espaçonave. Eu, Rafaela Cappai, me posicionava pouco sobre assuntos relevantes do meu universo de pesquisa. Faltava narrativa e posicionamento. Como é que eu poderia então querer relevância e legitimidade?
Pois bem, eu comecei a mudar. E comecei a falar mais sobre coisas relevantes também em primeira pessoa, ali mesmo no meu Facebook pessoal e por aqui no Medium. Comecei a compartilhar minha opinião pessoal, que às vezes poderia sim ser diferente da opinião da minha própria marca (essa parte especificamente deu um nó no meu cérebro). Eu passei a tentar reestabelecer contato com meus pares. E olha, tudo isso ainda muito timidamente, já que meu site pessoal está a caminho e com ele eu pretendo fechar esse ciclo e de fato me posicionar mais fortemente com a minha marca pessoal.
O mais legal disso tudo foi que, quase que instantaneamente, o mundo à minha volta reagiu. Uma simples mudança de perspectiva, gerou resultados muito relevantes. Nosso objetivo era qualitativo. Quando finalizamos a consultoria sabíamos que pra que essa mudança de atitude desse certo, reações diferentes ao meu trabalho deveriam aparecer. E elas apareceram.
Uma dessas reações veio em Novembro do ano passado, quando fui convidada pra palestrar em um TEDx, o que colocou uma baita de uma cereja em cima desse bolo. Todo mundo sabe que palestrar em um TED é uma espécie de incentivo, um “continua que tá dando certo”. E foi exatamente assim comigo. E talvez por isso eu estivesse tão nervosa, confesso!
Entre janeiro e fevereiro trabalhei pesado na apresentação, de mãos dadas com o meu coach, o Humberto Cardoso Filho, organizador do evento. Entre trocas de versões de texto no Evernote e áudios via WhatsApp a gente construiu, preparou e ensaiou a talk. Ele em Blumenau, eu em São paulo. Talvez o nervosismo viesse também do fato de que eu estava voltando pra um formato mais próximo da minha carreira como atriz, mais inspiracional e menos didático. Pra mim o palco é um lugar sagrado, capaz de transformações reais. Eu sou assumidamente uma empreendedora-de-palco (mas não só isso, claro!).
E foi assim. E foi diferente do que a gente havia planejado. E foi tão legal quanto! E na próxima parte desse texto eu te apresento o vídeo da talk, mas te mostro também o texto e sua construção... E você vai ver que partes ficaram pra trás, que outras entraram sem pedir licença. E porque a gente construiu a talk desse jeito. Se você quiser, pode assistir apenas o vídeo na sequência. Mas se quiser ir mais fundo, pode seguir e ler o resto do post. A verdade é que muitos de nós se vêem nessa situação: querendo ser ouvidos! Mas pra isso eu descobri que é preciso falar, consistentemente.
Mesmo que a sua voz estremeça, fale a partir da sua verdade. Mesmo que suas mãos tremam, fale a partir da sua verdade. Mesmo que se coração acelere, fale a partir da sua verdade. Mesmo que dê medo, fale a partir da sua verdade!
HISTÓRIA (A ideia aqui era estabelecer uma conexão instantânea com o ouvinte. Histórias têm esse poder!)
Essa história aconteceu em 2005 quando uma oportunidade incrível de curso de gestão pra artistas apareceu em Beagá, onde eu nasci. Primeiro dia de aula e aquela tradicional rodada de apresentações… Quem é você, o que você faz, quais são os seus projetos… enfim, vocês já conhecem o roteiro. Tudo muito bom, tudo muito bem e chega a minha vez. Nariguda que sou, fiz questão de não esconder nada das coisas que eu fazia (acho que eu já não queria deixar nenhuma parte de mim pra trás). E eu falei: prazer, eu sou Rafaela Cappai… sou atriz, bailarina, jornalista, professora, apresentadora de TV, produtora, escritora… e emendei também um empreendedora, pra engrossar o caldo. Na verdade eu nem me sentia empreendedora de fato, mas já tava colocando em prática aquela história do “aparenta enquanto tenta”, pra provar pra mim mesma que eu era. Uma colega de sala, lá do outro lado, me solta, em um sonoro agudo: “menina, que loucura, você tem que escolher! Ninguém pode fazer tanta coisa bem assim não. Ninguém vai acreditar em você! Pausa. Silêncio constrangedor. Oi??? Eu, meio sem graça (e sem clareza ou confiança necessárias pra argumentar) dei um sorrisinho de lado desconcertante, fiz uma piadinha qualquer e ali nasceu uma enorme pulga atrás da minha orelha. E porquê não?, eu pensava! Porque eu não posso sim ser muita coisa ao mesmo tempo e experimentar jeitos diferentes de ocupar esse mundo e trocar com as pessoas?
AVATAR — EU + NÓS (Aqui essa conexão se aprofunda ainda mais, com uma descrição emocional de como esse possível canivete suíço que abandonou as suas ferramentas se sente.)
Pois é, eu confesso. E possivelmente muitos de vocês também vão confessar junto comigo. Eu sou, na verdade, essa curiosa duma figa, que não se cansa em aprender coisas novas, que tem dificuldade de focar e lidar com rotina, que deseja constantemente conhecer e experimentar coisas diferentes e tem ideias a todo momento. Tipo agora. E outra. E mais outra. Eu não me contento em ser uma coisa só, quero mesmo é ir trocando de roupa ao longo da vida, experimentando jeitos diferentes de me expressar, usando múltiplas linguagens. Uma camaleoa abelhuda e volúvel, com um espírito investigativo pra todas as coisas desse mundo. O meu currículo (quando eu ainda tinha um) parecia um Frankenstein, com experiências diversas, em projetos diversos, com gente diversa. E quando me pedem pra colocar minha profissão na ficha do consultório médico, eu demoro alguns bons segundos e fico sempre com aquela sensação incômoda de que uma palavra só não é capaz de definir o que eu faço. Nem quem eu sou. E o mundo? Ah, o mundo! Ele muitas vezes jogou na minha cara que eu sou mesmo uma inconstante, talvez até instável, alguém que não consegue se decidir. Uma cabecinha confusa que reluta em virar gente grande e seguir o curso natural das coisas: nasce, cresce, escolhe, morre. Pra gente como eu está mais pra nasce, experimenta, cresce, experimenta, escolhe, desiste, escolhe de novo, experimenta, experimenta, experimenta… e assim vai, até que um dia morre. Mas repare bem, preste atenção. Se a gente pensar, bem no fundo, vai ver que faz até bastante sentido. Tipo: “se eu me sinto como um canivete suíço, por que tenho que me comportar como uma tesoura sem ponta, que só corta papel?” Tentar ser tesoura causa um sofrimento danado em gente assim que têm infinitos interesses e múltiplas habilidades. Além de uma gigantesca capacidade de adaptação. Nós, os multipotenciais, não temos medo de sair desbravando esse mundo do aprender. Em nossa defesa, caso você também se sinta assim, é porque dói. Dói muito. Ter que abrir mão de uma dessas possibilidades é como arrancar um braço, jogar um pouco de si no lixo.
O PROBLEMA (Daí a gente apresentou o problema de fato. Porque mesmo nos sentindo canivetes suíços a gente se comporta como tesoura?)
Só que o mundo dos negócios e da educação empreendedora (e porque não, da educação formal) nos contou, livro após livro, que é preciso ter foco. Eles vão dizer: faça o favor de escolher, o mercado quer especialistas. A palavra de ordem, meu caro amigo, é virar tesoura. E daí você trava e não consegue seguir com essa ideia de viver dos seus tantos talentos, porque não consegue escolher qual deles escolher. Mas e se você não tivesse que escolher? E se o mundo do empreendedorismo criativo e de significado pudesse abrir um portal mágico em que é possível fazer duas coisas? Ou até várias, tudo-junto-e-misturado? E se existisse um jeito de emendar tudo isso que a gente é num quebra-cabeças que faça sentido? Encontrar a trama que costura as partes dessa colcha de retalhos? E se o fato da gente ser multipotencial fosse exatamente a nossa principal vantagem competitiva (como se diz no mundo dos negócios)? Sim, eu não posso negar, esse caminho apresenta milhões de desafios, porque mesmo no mundo da multipotencialidade, é preciso foco pra empreender. Porque sem foco não há construção de nada. Mas foco não é ignorar um chamado interno, mas sim encontrar a interseção, a amálgama que cole tudo que você é. Talvez foco seja encontrar o seu porquê, despertando atenção, entregando valor e te permitindo viver dessas coisas todas, ao invés de escolher uma profissão e casar com ela até que a morte os separe.
SURPRISE FACTOR (Um fator surpresa, pra trazer as pessoas pra perto. Perguntar diretamente pra elas como se sentem com relação à questão as insere no jogo, as traz pra perto.)
A verdade é que há quase dez anos eu venho ajudando muita gente criativa e fazedora de coisas nesse mundo. E nesse período, sempre que vou a algum evento como esse eu pergunto aos presentes: quantos se consideram apenas uma coisa? Ou ilustrador. Ou músico. Ou escritor. Ou videomaker. Ou chef? Quantos de vocês, aqui nesse auditório, por exemplo, não conseguem se encaixotar em apenas uma profissão? Ficam desconfortáveis em se definirem como apenas uma coisa? Ou melhor, quantos aqui não se vêem fazendo uma só coisa pro resto da vida? Pois é. Quase sempre a resposta é essa. Uma esmagadora maioria se enxerga muito mais como canivete suíço do que como tesoura, mas o mundo continua gritando em alto e bom som: seja uma tesoura, seja um tesoura. A minha hipótese, nada corroborada por meios científicos (é preciso dizer) é que multipotencialidade é da natureza humana, assim como a criatividade e a curiosidade…
BACKGROUND HISTÓRICO (Essa parte, na minha opinião tão importante, ficou de fora! Eu simplesmente esqueci de falar! Mas ela entrou no planejamento pra legitimar a fala, explicar mesmo que rapidamente, o background histórico que deu origem a um mundo repleto de tesouras sem ponta.)
Só que a gente aprendeu a se especializar. Durante e após a revolução industrial, as universidades e escolas técnicas surgiram pra abastecer um mercado de trabalho faminto e em constante crescimento. E a educação também se industrializou. Assim como um funcionário de chão de fábrica se especializou em só apertar parafusos, muitos de nós fomos educados pra ser parafuso e conseguir se encaixar exatamente naquele buraco específico, chamado vaga de trabalho. E a gente passou a ter que se especializar, pra cobrir buracos. E a gente se esqueceu de que o buraco é mais embaixo e que foco a todo custo tem um custo: o de parar de ver o todo e ser incapaz de conectar as partes. E mais do que isso. Que somos seres humanos repletos de desejos de expressão criativa e por mais que a gente tente espremer tudo isso dentro de um crachá, uma hora a coisa sangra.
HIPÓTESE (Aqui a gente apresenta esse novo mundo! E mostra como ele pode estar pedindo gente do tipo canivete suíço)
Mas felizmente a era das profissões herméticas encontradas em catálogos e prateleiras de universidades chegou ao fim. E a era da separação entre trabalho e prazer também chegou ao fim. E a era de aprender a empreender, com planilha e plano de negócio de 200 páginas debaixo de braço também chegou ao fim. São tempos incríveis. Com revoluções que apontam novos caminhos, inclusive, sobre como a gente pode aprender diferente. E pode aprender a empreender diferente. E de como a gente pode inventar profissões novas. E de como, talvez, a gente nem precise mais de uma profissão. Nesses novos tempos, a multipotencialidade não é apenas bem-vinda, mas essencial. Pensa comigo: o mundo tá em ebulição, em constante transformação. E ele precisa de gente capaz de decodificar a bagunça, capaz de ligar os pontos. Gente capaz de olhar de maneira multifocal, com uma visão raio-x, de drone, por cima. Gente habilitada a fazer um scan do mundo, buscando conexões entre as coisas, preenchendo os vazios que os especialistas não enxergam. E falando nisso, uma salva de palmas aos especialistas que construíram uma imensidão de conhecimento vertical, aprofundando cada área da vida. A eles somos muito gratos, mas àqueles que se sentem mais canivete suíço do que tesoura, eu digo que chegou a hora. E um viva não só à multipotencialidade, mas também a multiapaixonabilidade. Não somos apenas multipotenciais, mas também multiapaixonados: capazes de nos apaixonar arrebatadoramente por assuntos diversos, aprender com eles e nos impregnar deles ao longo das nossas trajetórias.
SOLUÇÃO (Aqui vem o resultado prático da minha pesquisa. Coisas que eu aprendi nos últimos cinco anos pesquisando e ajudando canivetes suíços a empreenderem.)
Essa é, portanto, a minha pesquisa e prática, desde que comecei a aprender a empreender, ainda em 2006. E é também o que eu ensino e aprendo, diariamente. De como é possível abrir mão de uma visão empreendedora (e de uma educação empreendedora) industrial, especialista e mecanicista, pra dar lugar a um novo jeito de empreender: holístico, sistêmico, orgânico. Mais conectado com quem a gente é, com as nossas paixões, nossos múltiplos talentos, nossos valores, nossas experiências, nossos desafios pessoais e nossa criatividade. E de como é possível criar carreiras e negócios significativos e simbióticos, do nosso jeito, com a nossa cara, que vão crescer, amadurecer e evoluir com a gente. Se desenvolver como ser-humano, se tornando uma pessoa melhor, capaz de imprimir o seu carimbo pessoal no mundo e ajudando a transformá-lo, criando relações significativas com as pessoas ao nosso redor, inclusive clientes.
E esse empreendedor (ou seria apreendedor?), descobre durante essa trajetória, que:
1º — Autoconhecimento é a bússola que guia a trajetória e ajuda a definir o que é importante na sua própria cartilha de sucesso.
2º — Identidade é a fonte inesgotável de recursos e alicerce pra construção de uma voz autêntica.
3º — Criatividade é ferramenta de experimentação, que traz valor pra si mesmo e pro mundo.
4º — Cérebro e coração são parceiros de jornada, pra encontrar a simbiose entre razão e intuição, valores pessoais e estratégia.
5º — Cliente é incentivador, alguém com quem você compartilha seu melhor e que decide investir naquilo que você faz.
6º — Lucro é o resultado do valor entregue ao mundo, pra empreender com propósito e significado, melhorando o mundo enquanto se ganha dinheiro.
7º — Mão na massa é ferramenta essencial de aprendizado, gerando clareza no processo.
8º — Rede é um espaço seguro para trabalhar e evoluir junto, trocando a competição pela colaboração.
9º — Sustentabilidade é meta, pra ser capaz de fazer o que se quer, pelo tempo que se sentir vontade.
10º — Metodologia é caminho, não fórmula, pois o apreendedor precisa encontrar o seu próprio jeito, caminhar a sua própria caminhada.
CAPITAL HUMANO E CRIATIVO (Aqui eu mostro como essa metodologia teve aplicação na minha própria vida. Como eu construí um negócio baseado na minha multipotencialidade.)
E por onde começa o aprendizado? Por dentro. Pelo próprio capital humano e criativo. Abrindo e examinando o próprio canivete suíço. O estoque de tudo que faz de você, você. E que pode ser usado pra criar valor pra você e pro mundo. No meu próprio trabalho, por exemplo. Sou bailarina desde infância, me tornei atriz na adolescência, jornalista na faculdade, depois professora, depois empreendedora, depois marketeira, depois escritora, depois mentora… e felizmente, hoje eu encontrei (inventei, na verdade!) um trabalho que me permite usar todas essas potencialidade no meu dia a dia. Se eu fosse procurar emprego acho difícil encontrar uma vaga que desse lugar a tantos dos meus talentos e paixões e à minha visão de mundo. Exatamente porque meu negócio foi construído em cima desses pilares, daquilo que eu amo, daquilo que eu acredito e de quem eu sou. E quanto mais eu aprendo e continuo me apaixonando, mais o meu negócio evolui junto. Hoje convivo diariamente com várias das minhas paixões: empreendedorismo, educação, criatividade, desenvolvimento pessoal. E consigo exercer várias atividades que me deixam em fluxo, como trabalhar com gente incrível, criar coisas diferentes, estar no palco, ensinar, aprender… Levou tempo, verdade. Mas hoje eu sei qual é a cola. O porquê que gruda tudo isso junto e que me permite trocar com as pessoas a partir de quem eu sou, de uma maneira que faça sentido. Não só pra mim, mas também pras pessoas. E entregue valor, não só pra mim, mas também pras pessoas.
EXEMPLOS PRÁTICOS (Aqui a gente achou que era importante pincelar alguns outros exemplos práticos, mesmo que rapidamente, pra mostrar que essa metodologia serve pra muita gente e não só pra minha própria vida.)
Esse jeito criar e empreender, tudo junto e misturado, se materializou através da Espaçonave, o meu próprio negócio. Uma escola de empreendedorismo criativo que nasceu lá em 2010, quando eu parti pra Londres para fazer um mestrado nesse tema. Desde os primórdios da Espaçonave, seu DNA é o compartilhamento de informações. Com um projeto financiado com dinheiro público e patrocínio privado, eu ia pra sala de aula diariamente, sugava tudo que podia daquela minha experiência incrível e depois voltava pra casa e reportava em um blog. Eu fui pra Londres para aprender a empreender e acabei ensinando também, já que no final das contas a gente ensina o que precisa aprender. Assim nasceu a Espaçonave que hoje já embarcou mais de 1300 pessoas em seus cursos presenciais e online. O carro chefe da Espaçonave é o DECOLA! LAB, um programa online que durante 10 semanas guia fazedores de coisas incríveis espalhados por mais de 10 países mundo afora, nessa jornada de aprendizado, para a criação de um trabalho gostosinho pra chamar de seu. Como a Amanda Mol, ilustradora do interior de Minas que conseguiu juntar no seu trabalho o amor pela mulheres, plantas e flores, a paixão por viagens, a vontade de ficar perto da família, o talento pro desenho, a graduação em moda, o fascínio por papelaria. Tá tudo lá, impregnado no negócio dela. Ou a brasiliense Elisa Dantas, que tem o sangue costureiro na família, a facilidade de ensinar, a paixão pela costura, a vontade de ajudar as pessoas a interferirem no mundo à sua volta, através do ato criativo. Tá tudo lá. Ou a recifense Silvia Guimarães, designer-artesã louca por cores, fazedora de cadernos, que tem um humor ácido e peculiar e descobriu, durante um desafio familiar, que o ato de escrever em um diário trazia presença, calma e autoconhecimento. Tá tudo lá. O que elas têm em comum? Negócios e carreiras que respiram quem são, em toda a sua multipotencialidade e multiapaixonabilidade. E com porquês forte.
COISAS BOAS (Ah, a parte boa de ser multipotencial!)
A boa notícia é que ao se tornar um empreendedor multipotencial (ou um empreendedor-canivete), a gente se mantêm curioso, cria estímulos e sinapses diferentes no cérebro, usa habilidades racionais e emocionais. A gente vê o todo e é capaz de conectar as partes. A gente deposita no trabalho aquilo que faz o olho brilhar. E o que é mais legal: a gente consegue continuar aprendendo e experimentando, usando o que se aprende. A multipotencialidade é também um caminho incrível pro empreendedorismo e tem uma grande peso como estratégia, já que ao criar um negócio baseado na própria identidade, a gente faz com que ele seja único. Ou seja, é um diferencial forte, mas desses que vêm de dentro e que faz todo sentido.
DESAFIOS — FINAL (Essa parte é super importante pra mostrar pras pessoas que essa escolha tem suas consequências. Como sempre, acho importante apresentar vários lados da moeda, e aqui não poderia ser diferente.)
Pode até ser que quando você volta a experimentar uma ou outra ferramenta desse canivete, a coisa pareça enferrujada, porque como qualquer processo de aprendizado, leva tempo. E dá trabalho, trabalho constante. Aprendizado constante. Desafios constantes. O trabalho mental incessante pra não perder a mão entre ser criativo e fazer acontecer, a simbiose entre vida e trabalho, que às vezes é difícil de gerenciar. A necessidade interna de se reinventar a toda hora. Ou de inventar o próprio caminho, já que não existe fórmula. Ser mil e uma utilidades pode ser incrível pra viver uma vida mais plena e criativa sim, mas também é um enorme desafio pra levar uma ideia de negócio adiante ou pra manter um negócio no mundo. É possível sim reaprender a ser você mesmo, assim desse jeitinho e viver disso, mas o fato é que ser um canivete é quase como uma maldição, algo difícil de evitar. Mesmo que por anos a gente se fantasie como tesoura, em algum momento as asinhas de canivete começam a rasgar a pele querendo sair pra fora. Ser multipotencial e empreender a si mesmo é ao mesmo tempo dádiva e cruz. E é por isso que eu digo, senhoras e senhores, por mais que doa: seja um canivete suíço!