Ele Está de Volta (Ou Porque Existe Um Hitler Dentro de Todos Nós)

Rafael Balthazar
3 min readJul 2, 2016

--

Como toda tarde sem aula, resolvi aproveitar o tempo rodando pelo Netflix procurando algo interessante de se ver. No meio de comédias do Adam Sandler, filmes românticos de adolescentes e desenhos animados ‘’Wanna-be-Simpsons’’, surge ‘’Ele está de Volta’’, uma comédia com Adolf Hitler como garoto propaganda.

Basicamente, o filme conta as aventuras do ’’ Führer’’, que magicamente acorda num parquinho no meio de Berlim em pleno 2014! — É, eu sei, mas vai por mim, vale a pena. Junto com um aspirante a jornalista que vê em sua história uma oportunidade de se dar bem na vida, Adolf cruza toda a Alemanha, vendo como a sua poderosa nação se virou após sua ‘’morte’’. Mas imagine só, um homem vestido de Hitler, agindo como Hitler, no meio de uma Alemanha em plena era da globalização! Os alemães o linchariam, não é? Bom…Nem tanto.

O filme em si não é dos melhores. Ele falha em alguns pontos da história e principalmente falha na comédia. Mas, em alguns momentos, ele realmente mostra alemães verdadeiros, interagindo com um homem afirmando com todas as forças que é o ditador alemão! E o que é mais impactante de tudo isso? Ainda há pessoas na nossa sociedade que concordam com as ideias ditas por Hitler! E toda essa história traz dois questionamentos importantes: Em um mundo com Bolsonaros e Trumps, o quão longe o mundo está de um Hitler? E, ainda mais importante, o quão longe nós estamos de um Hitler?

A nossa sociedade costuma julgar pessoas com pensamentos extremistas como loucos. ‘’Ah, Fulano odeia mulheres porque é louco!’’ ‘’Sicrano acha certo se explodir por religião porque tem problemas na cabeça!”. Porém, ao separar extremistas do nosso grupo social, esquecemos de algo crucial: Eles são todos humanos como nós. E a prova de que os extremistas e ditos ‘’loucos’’ pela sociedade estão tão próximos de nós é o número de apoiadores de Bolsonaros e Trumps. Basta ver os milhões de seguidores, vídeos e campanhas apoiando esses candidatos, mesmo eles declarando abertamente opiniões que deixariam o próprio Hitler orgulhoso! Mas, votar e apoiar loucos no poder também não te torna um louco? Não… Só mostra que você é humano, tanto quanto eles.

Todos os seres humanos, por mais que tentem esconder, são preconceituosos. Pode ser até um preconceito só com porcos da índia azuis, mas ainda existe. Temos dentro de nós uma tendência a separar da gente o que parece estranho, diferente. Não importa se você é um negro na favela ou uma filha de médico num bairro nobre, você também tem esse comportamento. Mas, na maioria das vezes, não conseguimos ‘’puxar o gatilho’’ do preconceito, precisamos de alguém que erga a bandeira, que lute pela ideia e que, se necessário, também assuma toda a culpa de uma possível má reação popular. E aí então que se justificam os votos nos ditos ‘’monstros’’ da política. Eles nada mais são do a representação de um ódio e preconceito difundido por milhões, mas que precisam de alguém para assumir o peso do jogo.

Hitler, assim como Trump e Bolsonaro, também teve apoio de parte do povo para agir. Hitler, sem toda uma massa por trás, não moveria um dedo para fazer o que fez. Assim como nossos dois amiguinhos contemporâneos ali. Mas, se todos eles precisam de apoio popular para cometer/dizer atrocidades, por que só os próprios são tachados como loucos?

A grande lição do filme não é sobre a vida de um ditador antigo no século errado ou sobre a Alemanha, é sobre o mundo em que vivemos, onde todas aquelas ideias que nós consideramos como antiguadas e ultrapassadas ainda estão na mente de muitas pessoas por aí. Por fim, o filme nos mostra — Ou nos lembra — , de que devemos sim nos preocupar com políticos como Willys, Bolso e Trump, mas que também devemos ter um olhar de preocupação para seus seguidores, que é onde todo poder e toda influência de um governante residem.

--

--