Coronavírus: por que você precisa agir agora

Rafael Costa
25 min readMar 13, 2020

--

Tradução do artigo de Tomas Pueyo para Português.

Com tudo o que está acontecendo sobre o coronavírus, é bem difícil tomar uma decisão sobre que ações tomar hoje. É melhor aguardar por mais informação, fazer algo já hoje ou o que?

Eis o que vamos cobrir nesse artigo, com muitos gráficos, dados e modelos baseados em muitas fontes:

  • Quantos casos de Coronavírus ocorrerão em sua região?
  • O que acontecerá quando esses casos se materializarem?
  • O que você deve fazer?
  • Quando?

Quando terminar de ler esse artigo, isso é o que concluirá:

  • O coronavírus vai chegar até você.
  • Ele chegará em velocidade exponencial: gradualmente e depois de uma só vez.
  • É uma questão de dias ou semanas.
  • Quando chegar, seu sistema de saúde ficará sobrecarregado.
  • As pessoas começarão a ser tratadas nos corredores.
  • Profissionais de saúde exaustos vão começar a colapsar. Alguns morrerão.
  • Eles terão que decidir quais pacientes recebem oxigênio e quais morrem.
  • A única maneira de prevenir isso é com distanciamento social. Não amanhã. Hoje.
  • Isso significa manter o máximo de pessoas possível em casa, começando agora.

No papel de um político, líder comunitário ou de um negócio [ou simplesmente como alguém que possa influenciar o seu entorno], você tem o poder e a responsabilidade de prevenir o que pode acontecer.

Você deve ter alguns medos hoje: “E se eu estiver reagindo de forma exagerada? As pessoas vão rir de mim? Ficarão frustradas comigo? Vou parecer burro? Não é melhor esperar que outros tomem ação primeiro? Vou contribuir para um problema econômico maior?

Mas, em 2–4 semanas, quando o mundo inteiro estiver com trânsito fechado, quando alguns poucos dias de distanciamento social para os quais contribuiu tiverem salvado vidas, as pessoas lhe agradecerão por ter tomado a decisão correta.

Ok, vamos em frente.

1. Quantos casos de coronavírus acontecerão na sua região?

Crescimento por país:

O número total de casos cresceu exponencialmente até que a China o conteve. Mas, depois, vazou para outros países e tornou-se agora uma pandemia que ninguém consegue controlar.

Hoje [10 março], o grosso dos casos fora da China encontra-se na Itália, Irã e Coréia do Sul:

São tantos casos na Coréia do Sul, Itália e China que é difícil visualizar os casos nos demais países, mas vamos dar um zoom nesse canto direito da parte de baixo do gráfico:

Existem dezenas de países com taxas de crescimento exponencial. Até hoje, a maioria são países ocidentais.

Se esse tipo de taxa de crescimento se mantém por apenas uma semana, chegamos ao seguinte cenário:

Se deseja entender o que acontecerá, ou como podemos nos prevenir, você precisa olhar para os casos dos países que já passaram por isso: China, países orientais que passaram pelo SARS [síndrome respiratória aguda grave] e Itália.

China:

Esse é o mais importante dos gráficos.

Esse gráfico mostra em barras laranjas o número oficial de casos na província de Hubei: quantas pessoas foram diagnosticadas em cada dia.

As barras cinzas mostram os casos de Coronavírus verdadeiros. A CDC [centro de controle e prevenção de doenças] Chinesa identificou esses casos perguntando aos pacientes chineses, quando diagnosticados, sobre quando que começaram a sentir os sintomas.

O importante é notar que esses casos não eram conhecidos ao tempo que surgiram. Só podemos identificá-los olhando para trás: as autoridades não sabem que alguém acabou de começar a ter sintomas. Sabem apenas quando alguém vai ao médico e é diagnosticado.

Isso significa que as barras laranjas mostram o que as autoridades sabiam, enquanto as barras cinzas mostram o que realmente estava acontecendo.

Em 21 de janeiro, o número de casos diagnosticados (barra laranja) começa a explodir: existem cerca de 100 casos. Na realidade, 1500 novos casos passavam a existir naquele dia, crescendo exponencialmente. Mas as autoridades não sabiam disso. O que sabiam é que, de repente, haviam 100 novos casos dessa nova doença.

Dois dias depois, as autoridades fecharam a cidade de Wuhan. Nesse momento, o número de novos casos por dia era de aproximadamente 400.

Atenção a esse número: eles tomaram a decisão de fechar a cidade com apenas 400 novos casos por dia [a população de Wuhan é de mais de 10 milhões]. Na realidade, haviam 2500 novos casos nesse dia, mas eles não sabiam disso.

No dia seguinte, outras 15 cidades na província de Hubei foram fechadas.

Até o dia 23 de janeiro, quando isolaram Wuhan, veja no gráfico cinza: continua crescendo exponencialmente. Os casos reais continuam explodindo. Assim que Wuhan é isolada, os casos começam a diminuir em velocidade de crescimento. Em 24 de janeiro, quando as outras 15 cidades são fechadas, o número de casos reais (novamente, as barras cinza) praticamente para de crescer. Dois dias depois, atinge-se o pico de casos reais e, a partir daí, começam a diminuir.

Perceba que os casos em laranja (os oficiais) continuaram crescendo exponencialmente: por mais 12 dias parecia que a coisa continuava explodindo. Mas não estava. Era apenas devido ao fato de que os infectados, passando a ter sintomas mais fortes, começaram a procurar os médicos, assim como devido ao fato de que o sistema para a identificação dos casos começava a ficar mais forte.

Esse conceito de casos oficiais e reais é importante. Vamos mantê-lo em mente para depois.

As demais regiões da China foram bem administradas pelo governo central e tomaram medidas imediatas e drásticas. Eis o resultado:

Todas as linhas planas são regiões chinesas com casos do coronavírus. Cada uma tinha o potencial de se tornar exponencial, mas graças às medidas que aconteceram no final de janeiro, todas pararam o vírus antes que ele pudesse se espalhar.

Enquanto isso, Coréia do Sul, Itália e Irã tiveram um mês inteiro para aprender, mas não o fizeram. Acabaram por ter o mesmo crescimento exponencial de Hubei e ultrapassaram todas as regiões chinesas em número de casos antes do final de fevereiro.

Países orientais:

Os casos da Coréia do Sul explodiram, mas você já se perguntou por que Japão, Taiwan, Cingapura, Tailândia ou Hong Kong não experimentaram o mesmo crescimento?

Todos eles foram atingidos pelo SARS em 2003; e todos aprenderam com isso. Aprenderam o quão viral e letal poderia ser e que trata-se de algo para se levar a sério. É por isso que os seus gráficos, apesar de terem começado a crescer muito mais cedo, ainda não parecem exponenciais.

Até aqui, temos histórias de explosão do coronavírus, de governos percebendo a ameaça e as contendo. Para o restante dos países, no entanto, a história é completamente diferente.

Antes de pular para eles, uma observação sobre a Coréia do Sul: o país é provavelmente uma exceção. O coronavírus foi contido nos primeiros 30 casos. O paciente 31 era um” super contagiador “que o transmitiu a milhares de outras pessoas. Como o vírus se espalha antes que as pessoas apresentem sintomas, quando as autoridades perceberam o problema, o vírus já estava lá. Agora eles estão lidando com as consequências dessa particularidade. No entanto, seus esforços de contenção mostram bons resultados: a Itália já ultrapassou a Coréia do Sul em número de casos e o Irã a ultrapassará amanhã (10/3/2020).

Washington:

Você já viu como foi o crescimento nos países ocidentais e quão ruins são as previsões para apenas uma semana. Agora imagine que a contenção não tivesse acontecido em Wuhan e nos outros países do leste; teria-se uma epidemia colossal.

Vejamos alguns casos, como o estado de Washington, da baía de São Francisco, Paris e Madri.

O estado de Washington é a Wuhan dos EUA. O número de casos está crescendo exponencialmente. Atualmente, está em 140.

Mas algo interessante aconteceu logo no início. A taxa de mortalidade explodiu. Em um dado momento, o estado teve 3 casos e uma morte.

Sabemos, pelos dados de outros locais, que a taxa de mortalidade do coronavírus está entre 0,5% e 5% (mais sobre isso abaixo). Como a taxa de mortalidade pode ser de 33% lá?

Aconteceu que o vírus estava se espalhando sem ser detectado por semanas. Não é que haviam apenas três casos. É que as autoridades sabiam apenas de três e um deles já era uma morte, porque, quanto mais grave a condição, maior a probabilidade de ter sido testado.

É um pouco como as barras laranjas e cinzas da China: aqui eles só sabiam sobre as barras laranjas (casos oficiais) e parecia bom: apenas 3. Mas, na realidade, já eram centenas, talvez milhares de casos verdadeiros.

Isso é um problema: você conhece apenas os casos oficiais, não os verdadeiros. Mas você precisa conhecer os verdadeiros. Como você pode estimar os verdadeiros? Existem algumas maneiras. Fiz um modelo para ambos, para que você possa brincar com os números também (link direto para copiar o modelo).

Primeiro, através das mortes. Se existem mortes em sua região, pode usar isso para estimar o número de casos atuais verdadeiros. Sabemos aproximadamente quanto tempo leva, em média, para uma pessoa infectada vir a óbito (17,3 dias). Isso significa que a pessoa que morreu em 29/2 no estado de Washington provavelmente foi infectada por volta de 12/2.

Depois, sabe-se a taxa de mortalidade. Neste cenário, estou usando 1% (discutiremos mais tarde os detalhes). Isso significa que, por volta de 12/2, já havia cerca de 100 casos na área (dos quais apenas um terminou em morte 17,3 dias depois).

Agora, use o tempo médio de duplicação do coronavírus (tempo para dobrar os casos, em média). É 6,2. Isso significa que, nos 17 dias até essa pessoa morrer, os casos se multiplicaram por aproximadamente 8 (= 2 ^ (17/6)). Isso significa que, se você não está diagnosticando todos os casos, uma morte hoje significam 800 casos verdadeiros hoje.

Hoje, o estado de Washington tem 22 mortes. Com esse cálculo rápido, chega-se a algo em torno de 16.000 casos reais de coronavírus hoje. São tantos quanto os casos oficiais na Itália e Irã juntos.

Se analisarmos os detalhes, perceberemos que 19 destas mortes foram de um cluster [um aglomerado], que pode não ter espalhado o vírus amplamente. Portanto, se considerarmos essas 19 mortes como uma, o total de mortes no estado é quatro. Atualizando o modelo com esse número, ainda temos aproximadamente 3.000 casos hoje.

A seguinte abordagem do Trevor Bedford analisa os próprios vírus e suas mutações para avaliar a contagem atual de casos: https://twitter.com/trvrb/status/1237394739143438338

A conclusão é que provavelmente existem em torno de 1.100 casos no estado de Washington nesse momento.

Nenhuma dessas abordagens é perfeita, mas todas apontam para a mesma mensagem: não sabemos o número de casos verdadeiros, mas é muito maior que o oficial. Não está nas centenas. Está na casa dos milhares, talvez mais.

Área da Baía de São Francisco

Até 8/3, a área da baía de São Francisco não tinha mortes. Isso tornava difícil saber quantos casos verdadeiros havia. Oficialmente, eram 86 casos. Mas os EUA estão subestimando imensamente o número de casos, porque não possui kits de testes suficientes. O país decidiu criar seu próprio kit de teste, que acabou por não funcionar.

Este foi o número de testes realizados em diferentes países até 3 de março:

A Turquia, sem casos de coronavírus, teve 10 vezes mais testes por habitante do que os EUA. A situação não está muito melhor hoje, com ~ 8.000 testes realizados nos EUA, o que significa que ~ 4.000 pessoas foram testadas [mais de uma espécie do vírus é testada por paciente, o que significa que 8000 testes não correspondem a 8000 pessoas testadas].

Aqui, podemos usar apenas uma parte dos casos oficiais para casos verdadeiros. Como decidir qual? Para a área da baía de São Francisco, eles estavam testando todos que haviam viajado ou estavam em contato com um viajante, o que significa que eles conheciam a maioria dos casos relacionados a viagens, mas nenhum dos casos de disseminação comunitária. Por termos um senso da disseminação comunitária versus a propagação por viagens, podemos saber quantos casos verdadeiros existem.

Olhei para essa proporção na Coréia do Sul, que tem ótimos dados. No momento em que tiveram 86 casos, o % de disseminação comunitária era de 86% (86 e 86% são uma coincidência).

Com esse número, você pode calcular o número de casos verdadeiros. Se a área da baía tem 86 casos hoje, é provável que o número de casos verdadeiros seja em torno de 600.

França e Paris

A França reivindica 1.400 casos hoje e 30 mortes. Usando os dois métodos acima, você pode ter a quantidade de casos no seguinte intervalo: entre 24.000 e 140.000.

O número real de casos de coronavírus na França hoje é provável que esteja entre 24.000 e 140.000.

Permitam-me repetir: o número de casos verdadeiros na França provavelmente está entre uma e duas ordens de magnitude maior do que é oficialmente relatado.

Não acredita em mim? Vamos ver o gráfico de Wuhan novamente.

Se você empilhar as barras laranja até 22/Jan, você encontrará um total de 444 casos. Agora adicione todas as barras cinza. Eles somam ~ 12.000 casos. Então, quando Wuhan pensou que tinha 444 casos, tinha 27 vezes mais. Se a França pensa que tem 1.400 casos, pode ter dezenas de milhares.

A mesma matemática se aplica a Paris. Com ~ 30 casos dentro da cidade, é provável que o número real de casos esteja nas centenas, talvez milhares. Com 300 casos na região metropolitana de Paris, o total de casos na região já pode exceder dezenas de milhares.

Espanha e Madrid

A Espanha tem números muito semelhantes aos da França (1.200 casos vs. 1.400, e ambos têm 30 mortes). Isso significa que as mesmas regras são válidas: a Espanha provavelmente já tem mais de 20 mil casos verdadeiros.

Na região metropolitana de Madrid, com 600 casos oficiais e 17 mortes, o número real de casos é provavelmente entre 10.000 e 60.000.

Se você ler esses dados e se disser:” Impossível, isso não pode ser verdade “, pense no seguinte: com esse número de casos, Wuhan já estava isolada.

Com os números atuais de casos de países como EUA, Espanha, França, Irã, Alemanha, Japão ou Suíça, Wuhan já estava isolada.

E se você está dizendo a si mesmo:” Bem, Hubei é apenas uma região “, deixe-me lembrá-lo de que possui quase 60 milhões de pessoas, possui um território maior do que a Espanha e aproximadamente do tamanho da França.

2. O que acontecerá quando os casos de Coronavírus se materializarem?

Pois bem, o Coronavírus já está aqui. Está escondido e está crescendo exponencialmente.

O que vai acontecer nos nossos países quando o vírus começar a aparecer? É fácil saber pois existem vários lugares onde isso já está acontecendo. Os melhores exemplos são a Itália e Hubei.

Taxa de Mortalidade

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou uma taxa de mortalidade de 3,4% (pessoas que contraíram o vírus e morreram). Esse número necessita de contexto, então deixe-me explicar.

Esta taxa depende do país e do momento: entre 0,6% na Coréia do Sul e 4,4% no Irã, por exemplo. Então qual é a taxa correta? Podemos usar um truque para descobri-la.

As duas fórmulas para calcular a taxa de mortalidade são Morte / Total de Casos e Morte / Casos Concluídos. A primeira pode subestimar o número real, pois muitos casos que estão em aberto ainda podem resultar em mortes. Já a segunda pode superestimar o número real, pois geralmente mortes acontecem mais rápido do que recuperações.

O que eu fiz foi olhar como ambas se comportam ao longo do tempo. E as duas tendem a convergir para o mesmo resultado uma vez que os casos vão sendo concluídos, portanto, se projetamos tendências históricas para o futuro, podemos estimar qual será a taxa de mortalidade final.

E isso é o que se vê nos dados. A taxa de mortalidade na China está agora entre 3,6% e 6,1%. Se projetamos essas taxas para o futuro, elas parecem convergir para algo entre 3,8% e 4%. Isso é o dobro da estimativa atual e 30 vezes maior que o da gripe comum. Essa taxa, porém, é resultado de duas realidades completamente diferentes: Hubei e o resto da China.

A taxa de mortalidade em Hubei provavelmente irá convergir para aproximadamente 4,8%. Enquanto isso, para o resto da China, a taxa deve convergir para aproximadamente 0,9%.

Eu também coloquei em gráfico alguns números do Irã, Itália e Coréia do Sul, os únicos países com números de mortes suficientes para tornar esse estudo relevante.

A relação de Mortes / Total de Casos do Irã e da Itália estão convergindo para a faixa de 3% a 4%. Meu palpite é que os números deles também terminarão em torno desse número.

A Coréia do Sul é o exemplo mais interessante, porque esses dois números estão completamente desconectados: a taxa de Mortes / Total de Casos é de apenas 0,6%, mas a taxa de Mortes / Casos Concluídos é de 48%. Minha opinião é que o país é extremamente cauteloso: eles estão testando todo mundo (com tantos casos abertos, a taxa de mortalidade parece baixa) e deixando os casos abertos por mais tempo (e então fechando os casos rapidamente quando o paciente morre). O que é relevante é que as Mortes / Casos tenham oscilado em torno de 0,5% desde o início, sugerindo que ele permanecerá lá.

O último exemplo relevante é o do cruzeiro Diamond Princess: com 706 casos, 6 mortes e 100 recuperações, a taxa de mortalidade estará entre 1% e 6,5%.

Isto é o que se conclui, portanto:

  • Os países preparados terão uma taxa de mortalidade de aproximadamente 0,5% (Coréia do Sul) a 0,9% (restante da China).
  • Países sobrecarregados terão uma taxa de mortalidade entre aproximadamente 3% a 5%.

Em outras palavras: os países que agem rapidamente podem reduzir o número de mortes em dez vezes. E isso está contando apenas a taxa de mortalidade. Agir rápido também reduz drasticamente os casos, tornando isso ainda mais fácil.

Então, o que um país precisa para estar preparado?

Qual será a pressão no sistema?

Cerca de 20% dos casos requerem hospitalização, 5% dos casos requerem a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e cerca de 1% requerem ajuda muito intensiva, com itens como ventiladores ou ECMO (oxigenação extracorpórea).

O problema é que itens como ventiladores e ECMO não podem ser produzidos ou comprados facilmente. Alguns anos atrás, os EUA tinham um total de 250 máquinas ECMO, por exemplo.

Então, se houver de repente 100.000 pessoas infectadas, muitas delas vão querer fazer o teste. Cerca de 20.000 precisarão de hospitalização, 5.000 precisarão de UTI e 1.000 precisarão de máquinas que não temos o suficiente hoje. E isso é apenas com 100.000 casos.

Isso sem levar em conta questões como máscaras. Um país como os EUA possui apenas 1% das máscaras necessárias para cobrir as necessidades de seus profissionais de saúde (12M N95, 30M cirúrgicos vs. 3,5B necessários). Se muitos casos aparecerem ao mesmo tempo, haverá máscaras por apenas 2 semanas.

Países como Japão, Coréia do Sul, Hong Kong ou Cingapura, bem como regiões chinesas fora de Hubei, prepararam-se e têm conseguido entregar os cuidados de que os pacientes precisam.

Mas o resto dos países ocidentais está indo na direção de Hubei e Itália. Então, o que está acontecendo lá?

Como é um sistema de saúde sobrecarregado

As histórias que aconteceram em Hubei e na Itália estão começando a se tornar assustadoramente semelhantes. Hubei construiu dois hospitais em dez dias, mas mesmo assim estava completamente sobrecarregado.

Ambos reclamaram que os pacientes inundaram seus hospitais. Eles tinham que ser atendidos em qualquer lugar: nos corredores, nas salas de espera …

https://twitter.com/jasonvanschoor/status/1237142891077697538

Os profissionais de saúde passam horas em um único equipamento de proteção, porque não há o suficiente. Como resultado, eles não podem deixar as áreas infectadas por horas. Quando o fazem, desmoronam, desidratados e exaustos. Os turnos não existem mais. As pessoas são puxadas de volta de suas aposentadorias para atender às necessidades. Pessoas que não têm idéia sobre enfermagem são treinadas da noite para o dia para desempenhar funções críticas. Todo mundo está de plantão, sempre.

Isto é, até que fiquem doentes. O que acontece muito, porque eles estão em constante exposição ao vírus, sem equipamento de proteção suficiente. Quando isso acontece, eles precisam ficar em quarentena por 14 dias, durante os quais não podem ajudar. Na melhor das hipóteses, duas semanas são perdidas. Na pior das hipóteses, eles morrem.

O pior está nas UTIs, quando os pacientes precisam compartilhar ventiladores ou ECMOs. Na verdade, são impossíveis de compartilhar; portanto, os profissionais de saúde devem determinar qual paciente os usarás. Isso realmente significa escolher: quem vive e quem morre.

“Depois de alguns dias, temos que escolher. […] Nem todo mundo pode ser entubado. Nós decidimos com base na idade e estado de saúde. ” — Christian Salaroli, médico italiano.

Tudo isso é o que leva um sistema a ter uma taxa de mortalidade de ~ 4% em vez de ~ 0,5%. Se você deseja que sua cidade ou país faça parte dos 4%, não faça nada hoje.

3. O que você deve fazer?

Achatar a curva

Esta é uma pandemia agora. Não pode ser eliminada. Mas o que podemos fazer é reduzir seu impacto.

Alguns países têm sido exemplares nisso. O melhor é Taiwan, que está extremamente conectado à China e ainda hoje possui menos de 50 casos. Este artigo recente explica todas as medidas que eles tomaram desde o início, focadas na contenção.

Eles conseguiram contê-lo, mas a maioria dos países não possuía esse conhecimento e não conseguiu. Agora, estes países estão jogando um jogo diferente: mitigação. Eles precisam tornar esse vírus o mais inofensivo possível.

Se reduzirmos as infecções o máximo possível, nosso sistema de saúde poderá lidar com os casos muito melhor, reduzindo a taxa de mortalidade. E, se espalharmos isso ao longo do tempo, chegaremos a um ponto em que o resto da sociedade poderá ser vacinado, eliminando completamente o risco. Portanto, nosso objetivo não é eliminar os contágios de coronavírus. É adiá-los.

[Vale ver esse gráfico no artigo original, pois é uma animação em GIF — a curva tem que sair do formato pontilhado para esse formato mais achatado da curva preenchida pelo verde]

Quanto mais adiamos os casos, melhor o sistema de saúde pode funcionar, menor a taxa de mortalidade e maior a parcela da população que será vacinada antes de ser infectada.

E como achatamos a curva?

Distanciamento social

Há uma coisa muito simples que podemos fazer e que funciona: distanciamento social.

Se você voltar ao gráfico de Wuhan lembrará que, assim que houve a quarentena, os casos começaram a diminuir. Isso ocorre porque as pessoas não interagem entre si e o vírus não se espalha.

O consenso científico atual é que esse vírus pode se espalhar em até 2 metros se alguém tossir. Caso contrário, as gotículas caem no chão e não infectam outras pessoas.

A pior infecção então ocorre através das superfícies: o vírus sobrevive por horas ou dias em diferentes superfícies. Se ele se comportar como a gripe, poderá sobreviver por semanas com metais, cerâmicas e plásticos. Isso significa que coisas como maçanetas, mesas ou botões de elevador podem ser vetores de infecção terríveis.

A única maneira de reduzir isso de verdade é com o distanciamento social: manter as pessoas em casa o máximo possível, pelo maior tempo possível até que isso retroceda.

Isso já foi comprovado no passado. Mais precisamente, na pandemia de gripe de 1918.

Aprendendo com a pandemia de gripe de 1918:

Você pode ver como a Filadélfia não agiu rapidamente e teve um pico maciço nas taxas de mortalidade. Compare isso com St Louis, que tomou medidas rapidamente.

Então olhe para Denver, que tomou medidas e depois as atenuou. Eles tiveram um pico duplo, com o 2º maior que o primeiro.

Se você generaliza, é isso que você encontra:

Este gráfico mostra, para a gripe de 1918 nos EUA, quantas mais mortes ocorreram por cidade, dependendo da rapidez com que as medidas foram tomadas. Por exemplo, uma cidade como St. Louis tomou medidas seis dias antes de Pittsburg e teve menos da metade das mortes por cidadão. Em média, tomar medidas 20 dias antes reduziu pela metade a taxa de mortalidade.

A Itália finalmente descobriu isso. Eles primeiro trancaram a Lombardia no domingo e um dia depois, na segunda-feira, perceberam seu erro e decidiram que tinham que trancar o país inteiro.

Felizmente, veremos resultados nos próximos dias. No entanto, levará uma a duas semanas para ver. Lembre-se do gráfico de Wuhan: houve um atraso de 12 dias entre o momento em que o bloqueio foi anunciado e o momento em que os casos oficiais (barras laranjas) começaram a cair.

Como os políticos podem contribuir para o distanciamento social?

A pergunta que os políticos estão se fazendo hoje não é se devem fazer alguma coisa, mas qual é a ação apropriada a ser tomada.

Existem várias etapas para controlar uma epidemia, começando com a antecipação e terminando com a erradicação. Mas é tarde demais para a maioria das opções hoje. Com esse nível de casos, as duas únicas opções que os políticos têm pela frente são contenção e mitigação.

Contenção

A contenção é garantir que todos os casos sejam identificados, controlados e isolados. É o que Cingapura, Hong Kong, Japão e Taiwan estão fazendo tão bem: limitam muito rapidamente as pessoas que chegam, identificam os doentes, imediatamente os isolam, usam equipamentos de proteção pesados ​​para proteger seus profissionais de saúde, rastrear todos os contatos, colocar em quarentena … Isso funciona muito bem quando você está preparado e faz isso desde o início e não precisa interromper sua economia para que isso aconteça.

Eu já elogiei a abordagem de Taiwan. Mas a da China também é notável. A extensão em que foi praticada e alcançada é surpreendente. Por exemplo, eles tinham até 1.800 equipes de 5 pessoas, cada uma rastreando todas as pessoas infectadas, todos com quem interagiam, depois todos com quem essas pessoas interagiam e isolando o grupo. Foi assim que eles conseguiram conter o vírus em um país de bilhões de pessoas.

Não foi isso que os países ocidentais fizeram. E agora é tarde demais. O recente anúncio americano de que a maioria das viagens da Europa foi proibida é uma medida de contenção para um país que já tem, hoje, três vezes o número de casos que Hubei tinha ao ser isolada, crescendo exponencialmente. É contenção quando o que é necessário é mitigação.

Uma vez que existem centenas ou milhares de casos crescendo na população, impedir que mais ocorram, rastrear os existentes e isolar seus contatos não é mais suficiente. O próximo nível é a mitigação.

Mitigação

A mitigação requer grande distanciamento social. As pessoas precisam parar de sair para diminuir a taxa de transmissão (R), do R = ~ 2–3, que ocorre quando o vírus segue sem medidas contra a propagação, para abaixo de 1, para que eventualmente desapareça.

Essas medidas exigem o fechamento de empresas, lojas, transporte coletivo, escolas, imposição de bloqueios… Quanto pior a sua situação, pior o distanciamento social. Quanto mais cedo você impõe medidas pesadas, por menos tempo precisa mantê-las, mais fácil é identificar os casos de contágio e menos pessoas são infectadas.

Isto é o que Wuhan teve que fazer. Isto é o que a Itália foi forçada a aceitar. Porque quando o vírus é galopante, a única medida é que todas as áreas infectadas parem de espalhá-lo de uma só vez.

Com milhares de casos oficiais — e dezenas de milhares de casos verdadeiros — é isso que países como Irã, França, Espanha, Alemanha, Suíça e EUA precisam fazer.

Mas não estão fazendo isso.

Algumas empresas estão aderindo ao trabalho de casa, o que é fantástico.

Alguns eventos de massa estão sendo interrompidos.

Algumas áreas afetadas estão em quarentena.

Todas essas medidas desacelerarão a propagação do vírus.

Mas não é suficiente obter essa taxa de transmissão, esse R, de 2,5 a 2,2 ou até 2. Precisamos colocá-la abaixo de 1 por um período de tempo prolongado para eliminá-lo. E se não podemos fazer isso, precisamos chegar o mais próximo de 1 pelo maior tempo possível, para nivelar a curva.

Portanto, a pergunta é: quais são as compensações que poderíamos estar fazendo para diminuir o R? Este é o menu que a Itália colocou na frente de todos nós:

  • Ninguém pode entrar ou sair de áreas de bloqueio, a menos que haja motivos comprovados de família ou trabalho.
  • Os movimentos dentro das áreas devem ser evitados, a menos que sejam justificados por razões pessoais ou profissionais urgentes e não possam ser adiados.
  • É altamente recomendado que pessoas com sintomas (infecção respiratória e febre) permaneçam em casa.
  • Suspensão do horário padrão dos profissionais de saúde
  • Fechamento de todos os estabelecimentos de ensino (escolas, universidades …), academias, museus, estações de esqui, centros culturais e sociais, piscinas e teatros.
  • Bares e restaurantes têm horário de funcionamento limitado das 6h às 18h, com pelo menos um metro (~ 3 pés) de distância entre as pessoas.
  • Todos os pubs e clubes devem fechar.
  • Toda atividade comercial deve manter uma distância de um metro entre os clientes. Aqueles que não conseguem fazer isso devem fechar. Os templos podem permanecer abertos enquanto garantirem essa distância.
  • Visitas hospitalares de família e dos amigos são limitadas
  • As reuniões de trabalho devem ser adiadas. O trabalho em casa deve ser incentivado.
  • Todos os eventos e competições esportivas, públicas ou privadas, são cancelados. Eventos importantes podem ser realizados sob portas fechadas.

Dois dias depois, eles acrescentaram: "Não, de fato, você precisa fechar todos os negócios que não são cruciais. Então agora estamos fechando todas as atividades comerciais, escritórios, cafés e lojas. Somente transporte, farmácias e mantimentos permanecerão abertos."

Uma abordagem é aumentar gradualmente as medidas. Infelizmente, isso dá um tempo precioso para a propagação do vírus. Se você quer estar seguro, faça-o no estilo Wuhan. As pessoas podem reclamar agora, mas agradecerão mais tarde.

Como os líderes empresariais podem contribuir para o distanciamento social?

Se você é um líder de negócios e deseja saber o que deve fazer, o melhor recurso para você é o Staying Home Club.

É uma lista de políticas de distanciamento social que foram adotadas por empresas de tecnologia dos EUA — até agora, 138.

Variam desde permitir ou tornar obrigatório o Trabalho em Casa, até a restrição de visitas, viagens e eventos.

Há mais coisas que toda empresa deve determinar, como o que fazer com trabalhadores que trabalham por hora, manter ou não o escritório aberto, realizar entrevistas, o que fazer com as lanchonetes … Se você quiser saber como minha empresa lidou com alguns destes, juntamente com um modelo de anúncio para seus funcionários, esse é o que minha empresa usou (versão view-only aqui).

4. Quando?

É bem possível que, nesse momento, você tenha concordado com tudo o que disse e que esteja se perguntando desde o início sobre quando tomar cada decisão. Em outras palavras, quais gatilhos devemos ter para cada medida.

Modelo para gatilhos, baseado em risco

Para resolver isso, eu criei um modelo.

Esse modelo permite avaliar o número provável de casos em sua área, a probabilidade de que seus funcionários já estejam infectados, como isso evolui com o tempo e como isso deve indicar se você deve permanecer aberto.

Diz-nos coisas como:

  • Se sua empresa possui 100 funcionários na área do estado de Washington com 11 mortes por coronavírus, há 25% de chance de pelo menos um de seus funcionários estar infectado e você deve fechar imediatamente.
  • Se sua empresa possui 250 funcionários, principalmente nos bairros de South Bay (condados de San Mateo e Santa Clara, que juntos têm 22 casos oficiais e o número verdadeiro provavelmente é pelo menos 54), em 3/9, você terá ~ 2% de chances de ter pelo menos pelo menos um funcionário infectado.
  • Se sua empresa está em Paris (intramuros) e possui 250 funcionários, hoje há uma chance de 0,85% de um de seus funcionários ter o coronavírus e, amanhã, será de 1,2%, portanto, se você estiver confortável com um 1 % de chance, você deve fechar seu escritório amanhã.

O modelo usa rótulos como “empresa” e “funcionário”, mas o mesmo modelo pode ser usado para qualquer outra coisa: escolas, transporte de massa … Então, se você tem apenas 50 funcionários em Paris, mas todos eles vão usar o RER [transporte público], deparando-se com milhares de outras pessoas, de repente a probabilidade de que pelo menos uma delas seja infectada é muito maior e você deve fechar seu escritório imediatamente.

Se você ainda está hesitando porque ninguém está apresentando sintomas, saiba que 26% dos contágios acontecem antes que haja sintomas.

Você faz parte de um grupo de líderes?

Essa matemática é egoísta. Ela analisa o risco de cada empresa individualmente, assumindo o risco que queremos até que o inevitável martelo do coronavírus feche nossos escritórios.

Mas se você faz parte de uma liga de líderes empresariais ou políticos, seus cálculos não são para apenas uma empresa, mas para o todo. A matemática se torna: qual é a probabilidade de qualquer uma de nossas empresas estar infectada? Se você é um grupo de 50 empresas de 250 funcionários em média, na área da baía de SF, há 35% de chance de que pelo menos uma das empresas tenha um funcionário infectado e 97% de chance de que isso aconteça na próxima semana. Eu adicionei uma guia no modelo para brincar com isso.

Conclusão: O custo da espera

Pode parecer assustador tomar uma decisão hoje, mas você não deve pensar dessa maneira.

Esse modelo teórico mostra diferentes comunidades: uma não toma medidas de distanciamento social, uma toma no dia n de um surto, a outra no dia n + 1. Todos os números são completamente fictícios (eu os escolhi para se parecer com o que aconteceu em Hubei, com ~ 6k novos casos diários na pior das hipóteses). Eles estão lá apenas para ilustrar a importância de um único dia em algo que cresce exponencialmente. Você pode ver que o atraso de um dia atinge o pico mais tarde e mais alto, mas depois os casos diários convergem para zero.

Mas e quanto aos casos cumulativos?

Nesse modelo teórico que se parece com Hubei, esperar mais um dia cria 40% mais casos! Então, talvez, se as autoridades de Hubei tivessem declarado o bloqueio em 22/1 em vez de 23/1, elas poderiam ter reduzido o número de casos em 20 mil.

E lembre-se, aqui estamos falando apenas de casos. A mortalidade seria muito maior, porque não apenas haveria diretamente 40% mais mortes. Também haveria um colapso muito maior do sistema de saúde, levando a uma taxa de mortalidade até 10 vezes maior, como vimos anteriormente. Portanto, uma diferença de um dia nas medidas de distanciamento social pode acabar explodindo o número de mortes em sua comunidade, multiplicando mais casos e maior taxa de mortalidade.

Esta é uma ameaça exponencial. Todo dia conta. Quando você atrasa uma decisão por um único dia, você não está talvez contribuindo com apenas alguns poucos casos. Provavelmente já existem centenas ou milhares de casos em sua comunidade. Todos os dias em que não há distanciamento social, esses casos crescem exponencialmente.

Compartilhe a Palavra

Esta é provavelmente a única vez na última década em que compartilhar um artigo pode salvar vidas. É preciso entender isso para evitar uma catástrofe. O momento de agir é agora.

--

--