A cor e suas propriedades

Rafael Frota
7 min readJan 10, 2018

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O que é Cor

Para entendermos o que é cor, é necessário que conheçamos o fenômeno da luz, que é o maior responsável pelas nossas sensações cromáticas. A luz é uma onda eletromagnética e, assim sendo, possui frequências e comprimentos variados. Inicialmente acreditava-se que nossa visão se dava pela incidência da luz sobre nossos olhos, permitindo a visualização de superfícies, quando na verdade hoje sabe-se que a luz incide sobre uma superfície e esta a reflete nos olhos do observador.

A luz branca, como a do sol, é a totalidade dessas ondas visíveis e todas as cores que conhecemos estão contidas nela. Cada comprimento de onda da luz branca na faixa de 400 até 700 nanômetros é responsável por uma cor distinta, apresentando as seguintes variações: vermelho, laranja, amarelo, verde, ciano, azul e violeta. A esse conjunto de sete cores visíveis conseguidas pela decomposição da luz branca damos o nome de espectro de luz visível.

Toda superfície tem a propriedade de absorver e refletir determinados comprimentos de onda conforme sua estrutura físico-química. As ondas que não são filtradas chegam a nossos olhos criando a sensação de cor, significando, portanto, que as superfícies não possuem qualquer tipo de cor própria. Uma superfície só terá a cor verde se ela absorver todas as outras frequências de cores e refletir apenas as ondas correspondentes ao verde.

Tendemos a pressupor que os objetos possuem uma cor natural, própria e imutável, mas isso não é verdade. Dependendo do tipo de luz que incide em um objeto, este pode assumir as mais variadas tonalidades. Se iluminarmos uma folha de papel branco com uma lâmpada amarela, os dois terão a mesma cor, porém nossa percepção tende a ignorar este fato e continua a entendê-la como branca.

Elementos da cor (métrica da cor)

Toda cor possui três características principais responsáveis por medi-las e identificá-las:

Matiz — É a própria cor em sua máxima intensidade. Vermelho, verde ou azul, por exemplo, são matizes. As mudanças nos matizes são obtidas pelo acréscimo de outros matizes

Saturação — Grau de pureza de um matiz, ou seja, a capacidade de preservação de sua intensidade máxima. Uma cor tem a máxima saturação quando corresponde a seu próprio comprimento de onda no espectro. A dessaturação de uma cor pode se dar pela proporção de um matiz em relação ao preto, branco, cinza ou à sua cor complementar.

Luminosidade — Trata-se da capacidade da cor de refletir a luz branca, tornando o matiz mais claro ou mais escuro, independente de sua saturação.

Sínteses cromáticas

Chamamos de sínteses cromáticas os tipos de sistemas com os quais conseguimos gerar o espectro de cores, a fim de possibilitar reproduzi-las.

Síntese aditiva

É formada pelas cores obtidas através de feixes luminosos, chamadas cores-luz. Essas cores não possuem corpo material, existindo apenas quando as projetamos sobre uma superfície com o auxílio de alguma fonte luminosa, como um refletor.

Nesta síntese partimos da ausência total de luz, caracterizada pelo preto, e vamos adicionando luminosidade até obtermos ponto máximo, ou seja, a luz branca.

A síntese aditiva é aplicada em televisão, cinema, iluminação cênica e, claro, na fotografia.

Síntese subtrativa

Aqui as cores são obtidas por corantes que tem maior ou menor capacidade de absorver luminosidade, obtendo as cores-pigmento.

Quando temos uma superfície branca significa que ela é capaz de refletir 100% dos raios luminosos. Ao aplicar um pigmento sobre esta superfície, ele subtrai luminosidade até conseguir um índice máximo de absorção, caracterizado, teoricamente, pelo preto. Na prática, a impureza dos pigmentos faz com que cheguemos até um cinza neutro, sendo necessário o reforço do preto nos processos gráficos.

A síntese subtrativa é largamente usada na indústria gráfica, indústria química, indústria têxtil, nas artes plásticas, dentre outros.

Síntese partitiva

Uma Tarde de Domingo na Ilha de Grande Jatte (detalhe), por Seurat

É a soma fisiológica das sínteses aditivas e subtrativas, resultando na cor-óptica. Neste caso, as cores não são misturadas materialmente, mas através da impressão que causam ao se agruparem numa maior ou menor proporção sobre uma superfície.

Um bom exemplo desta síntese são os trabalhos dos pintores impressionistas. A ilusão de uma vasta combinação de cores se dá não pela mistura das tintas, mas pela sensação que a justaposição de cores puras causa.

Classificação das cores

As cores são divididas conforme as os efeitos que causam à percepção:

Cores primárias

São cores que não podem ser decompostas e que através delas são criadas todas as outras cores.

Cores-luz primárias: vermelho, verde e azul.

Cores-pigmento primárias: ciano, magenta e amarelo.

Obs1: Durante muito tempo usou-se como cores-pigmento primárias o azul e o vermelho, em vez de ciano e magenta. Isso se deu pela semelhança entre eles e pela dificuldade de se achar esses pigmentos na natureza.

Obs2: O magenta, ao contrário das outras cores, não se encontra no espectro de luz Isso porque é criado pela sobreposição dos dois extremos do espectro, ou seja, violeta e vermelho.

Cores secundárias

São as cores formadas pela mistura de duas cores primárias

Cores-luz secundárias: Ciano (verde+azul), magenta (vermelho + azul), amarelo (vermelho + verde).

Cores-pigmento secundárias: verde (ciano + amarelo), vermelho (magenta + amarelo), azul (magenta + ciano).

Obs1: As cores secundárias de um sistema resultam nas primárias de outro.

Obs2: Aqui vemos que na cor-pigmento o vermelho e o azul vêm do ciano e do magenta, logo, são cores secundárias e não primárias.

Cores terciárias

São cores obtidas pela mistura de uma primária e uma secundária. São ao todo seis, independentes da síntese: laranja, oliva, turquesa, celeste, violeta e rosa

Cores complementares

São as cores opostas que, se misturadas, resultam no ponto final de cada síntese. Ou seja, branco na aditiva e preta na subtrativa.

Cores quentes e frias

O psicólogo alemão Wilhelm Wundt percebeu que as cores podem provocar diversas sensações térmicas, estabelecendo a divisão delas em dois grupos:

Cores quentes — São o magenta, amarelo e todas em que essas predominem. Sugerem luz, calor, fogo, proporcionando uma sensação de atividade e dinamismo.

O grito, de Edvard Munch

Cores frias: São o ciano, verde e todas as demais relacionadas. Transmitem sensação de conforto e tranquilidade, associando ao frio e a água.

Velho judeu com um menino, de Pablo Picasso

Obs.: Embora as cores possam sugerir uma determinada sensação térmica, essa em nada tem a ver com a real temperatura da cor, sendo apenas um efeito psicológico. Na verdade cores de temperatura elevada tendem ao azul e as mais amenas ao vermelho.

Cores neutras

São cores que não são influenciadas nem influenciam nenhuma outra devido a pouca energia que possuem, como o preto, o branco e todas as cores que, por dessaturação, tendem a essas duas.

A carta de amor, de Jean Honore Fragonard

Cores análogas

São as cores que têm uma cor base em comum, estando lado a lado no espectro de luz, possuindo, assim, pouquíssimo contraste entre elas.

Um jogo de críquete, de Édouard Manet

Monocromia

Refere-se a graduação em termos de saturação e luminosidade de um único matiz

Autorretrato, de Leonardo da Vinci

Círculo Cromático

Trata-se de uma representação das cores do espectro visível, mostrando suas formações através das primárias e as relações entre si.

Legenda:

1–12: Matizes

3, 7, 11: Cores-luz primárias / Cores-pigmento secundárias

1, 5, 9: Cores-pigmento primárias / Cores-luz primárias

2, 4, 6, 8, 10, 12: Cores terciárias

A: Cores Complementares

B: Cores quentes

C: Cores frias

D: Cores análogas

E: Escala de neutralização

Originalmente publicado em Fotografar, Vender Viajar, 2009

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