Com ‘Brat’, Charli XCX tem o seu melhor e mais honesto álbum

Rafael Lima
3 min readJun 12, 2024

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Capa de ‘Brat’ (Imagem: divulgação)

Ao longo da última década, Charli XCX alcançou um lugar muito particular na música pop. Mesmo sendo considerada uma “artista de nicho” pela indústria, a cantora britânica se tornou um dos nomes mais influentes para o gênero nos últimos anos. Com “Brat”, seu mais novo álbum, ela abraça essa posição e a expande.

Se no antecessor “Crash” (2022), a artista que se tornou o grande nome da PC music e do hyperpop utilizava de referências nostálgicas para fazer um pop acessível e contagiante, no seu oitavo disco ela utiliza o experimentalismo e a inquietação como ferramentas para construir sua obra mais íntima.

Curiosamente, quando Charli parece estar mais despreocupada em atingir o mainstream, vira um hit viral da internet. A capa de “Brat”, simplesmente o título escrito sobre um fundo em um tom de verde vibrante, apelidado de “verde brat” virou meme e foi reproduzida incansavelmente por anônimos, famosos e marcas nas redes sociais.

O sucesso deu força ao lançamento do álbum que não decepcionou em termos de conteúdo. Em 15 faixas, a britânica apresenta um universo de sons eletrônicos que se cruzam das maneiras mais inventivas e bebem na fonte do EDM, synth-pop e da eurodance, só que sempre atualizados, desconstruídos e reconstruídos apontando para o futuro.

Apesar de ser um álbum altamente dançante e personificado no alter-ego da Party Girl “Brat” também traz muita vulnerabilidade. Aqui, a artista fala com muita honestidade sobre seus medos, suas frustrações e questionamentos sobre a vida, a carreira, e a música pop como um todo. É uma habilidosa sessão de reflexões na pista de dança.

Na abertura com “360”, a Party Girl ganha vida e a rave criada por Charli, baseada em suas próprias experiências na adolescência, ganha força para que ela possa expor temas mais complexos em seguida. Em “I might say something stupid” e “talk talk” ela versa sobre suas inseguranças e a forma caótica como se enxerga.

“I think about it all the time” traz confissões sobre medos e o desejo de ser mãe. Em “Girl, so confusing” ela faz confissões sobre ser uma garota e ser comparada com outra. “So I” é uma homenagem a Sophie, cantora morta em 2021 que foi um dos grandes expoentes do hyper pop e segue sendo grande influência no gênero.

Em “Brat”, Charli XCX abraça suas contradições e apresenta um pop eletrônico afiado, com boas doses de ousadia e honestidade, coisas que estão rara no cenário pop atual. fazendo reflexões e contando sobre suas vulnerabilidades como quem conta segredos a um amigo, a artista traz o seu melhor álbum até aqui.

(Foto: divulgação)

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Rafael Lima

Jornalista. Apaixonado por música, televisão e cultura pop.