Dias após lançar “Pátria Amada, Brasil”, presidência exibe logo “Governo Bolsonaro” na NBR
É a primeira vez que é usada uma referência nominal ao presidente da república. Antes, a TV estatal usou textos como “Agenda do Presidente”, “Discurso Presidencial” e “Atividades do Presidente”.
Mais uma ação inédita do novo presidente! Parece que pouca gente reparou, mas na transmissão ao vivo do discurso de Jair Bolsonaro, durante a posse de presidentes de bancos estatais nesta segunda-feira (7), observei que a NBR, emissora estatal de televisão do Governo Federal, usava um novo gerador de caracteres, popularmente conhecido como GC, que estava acompanhado de uma logomarca, em que se lia “Governo Bolsonaro”.
Recurso tradicionalmente usado para incluir legendas que evidenciam o tema alvo da transmissão ou do programa de TV, o GC, quase sempre, vem acompanhado de um logo. Na televisão comercial, geralmente o símbolo usado junto ao letreiro é o do programa exibido naquele momento.
No caso do Governo Federal, observo ser a primeira vez que é usado uma referência nominal ao presidente da república. Antes, os recursos comuns eram “Agenda do Presidente”, “Discurso Presidencial”, “Atividades do Presidente” ou coisa do gênero. Isso valeu especialmente para os Governos FHC, Lula, Dilma e Temer, como todos podemos constatar em pesquisa pela internet. Ou seja, nunca antes na história deste país, a TV oficial criou um logo “Governo Fernando Henrique”, “Governo Lula”, “Governo Dilma” ou “Governo Temer”. O normal é fazer referência a figura do presidente, se for o caso, na própria legenda escrita no gerador de caracteres. Outro detalhe: embora em destaque, num bloco separado, os títulos que citamos acima, nas outras gestões, não eram montados em logomarca com recursos de design mais trabalhados como ocorre agora.
O uso do slogan “Governo Bolsonaro” em um logo numa TV oficial do país soa ainda mais estranho quando lembramos que os governos brasileiros já adotam logo e slogans de mandato. Inclusive, a aparição da nova marca acontece três dias depois do próprio Bolsonaro lançar o símbolo de sua gestão: “Pátria Amada, Brasil”, que já ressaltava um discurso de tom ufanista, nacionalista e pseudo patriótico, comum aos governos de extrema-direita.
Mas a nova imagem pintada num pronunciamento presidencial em TV estatal soa de forma autoritária, levando a uma mensagem, inclusive, absolutista, na linha do “O Estado sou eu”! Mas o Brasil não é uma monarquia, nem um império. Bolsonaro não é um rei, ungido ao trono.
Esta é mais uma prova de que o comportamento do novo presidente flerta, de forma simbólica e pragmática, com a tirania, o despotismo e a autocracia. Já não bastava os discursos, sejam do próprio, dos três filhos políticos, ou do vice, em que ameaçaram adversários, suscitaram hipótese de golpe institucional ou a derrubada do Supremo Federal? Como muitos vêm dizendo, o novo mandatário dá sinais muito claros de que não é adepto de um comportamento democrático.
Isso soma-se ao fato de Bolsonaro já ter se mostrado feroz contra os críticos e adversários políticos, além de ser também intolerante ao trabalho da imprensa. Nesta mesma cerimônia, voltou a ameaçar a mídia comercial e os jornalistas, ao dizer que vai impor mudanças na distribuição das verbas publicitárias e ao acusar os veículos de disseminarem mentiras contra ele.
Enquanto opera uma agenda econômica entreguista e anti-nacional, o “Governo Bolsonaro”, assim como no logo estampado em um fundo negro, de onde surge em degradê a bandeira nacional, é de fato sui generis. É preciso estar atento e forte!
Confira o vídeo em reprodução do UOL: https://tvuol.uol.com.br/video/bolsonaro-elogia-paulo-guedes-apos-vaivem-sobre-aumento-de-imposto-04028C983268E4A96326