Dissecando a Draft Class 2017: Armadores

Rafael Freire
8 min readNov 1, 2017

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Foto de Nathaniel S. Butler /NBAE via Getty Images

Ano após ano, em todo período que antecede a temporada da NBA, vemos o mesmo frenesi. Jornalistas, analistas, técnicos, atletas e torcedores iludidos fantasiam com a qualidade de novos talentos que a Draft Class pode lhes presentear. Alguns quebram a cara com as escolhas do seu time (Hello, Portland). Outros se surpreendem com os calouros que não prometiam nada, mas erupcionam ao decorrer dos jogos (Hello, Spurs). Na verdade, independente de franquias, todo NBA nerd antecipa esse momento. Fuçamos stats dos times universitários, garimpamos vídeos dos melhores prospects, caçamos jogos para acompanhar na March Madness. E depois da March Madness ainda estamos assistindo os jogos que não conseguimos ver ao vivo. A ideia de acompanhar a carreira de um atleta desde o início e imaginar o que ele pode se tornar é um dos passatempos preferidos do aficionado por basquetebol.

Então, chegamos a 2017 no que promete ser uma das melhores fornadas da década. Como eu já disse uma vez, estamos sempre nos dispondo a queimar a língua quando analisamos este esporte. Mas beleza, tragam os maçaricos. Parece que esse é o ano de finalmente acreditar na hype. Com a constante profissionalização do basquetebol universitário, o nível técnico, tático e físico dos atletas vem sendo aprimorado. Aparentemente, 2010 e 2015 vão ganhar uma forte concorrência.

Nessa série de três capítulos, analiso os atletas mais empolgantes nos grupos de Big Men, Wing Men e Armadores. Curiosidade: das 10 primeiras escolhas desse ano, 6 foram Point Guards. Entenda:

Frank Mason III — Kansas — 23 anos. 1,82. 84kg. Envergadura 1,92. (Jamie Squire/Getty Images)

Frank Mason III #34 (Kings)

Trata-se de um dos jogadores mais experientes dessa classe cheia de freshmen. Já tem até filho. O primeiro atleta da Big 12 a ter médias de vinte pontos por jogo e cinco assistências. Com quatro anos de Kansas na bagagem (inclusive uma final de NCAA), Mason desbancou seu colega Josh Jackson e outros prospectos cheios de hype, faturando nada menos do que OITO prêmios individuais de melhor atleta universitário do ano. Não foi o bastante para levar Kansas além do Elite 8, ou então chamar a atenção dos primeiros escolhedores no NBA Draft desse ano. O fato de já ter 23 anos e possuir um porte físico minimalista (é mais ou menos da mesma altura do Isaiah Thomas) fez com que caísse para o segundo round de escolhas, mas mesmo assim, creio que o Kings tenha conseguido um steal. Tem força física, com explosividade e inteligência. Sabe infiltrar com qualidade, tendo condições de criar o próprio arremesso e gerar chances aos colegas de time. Por estar na sombra de De’Aaron Fox e George Hill, é possível que ele fique esquecido por um tempo. Mas não estamos com pressa, estamos?

Derrick White — Colorado — 23 anos. 1,96. 91kg. Envergadura 2,01. (Ethan Miller/Getty Images)

Derrick White #29 (Spurs)

Mais um late first rounder para o San Antonio. Trata-se de uma das franquias de exemplo ao se tratar de minuciosos steals de draft e desenvolvê-los. Ano passado, o discreto Dejounte Murray chegou na mesma pick #29 e surpreendeu nos minutos que teve. Kyle Anderson foi a pick #30 em 2015 e já se prova útil. Cory Joseph, um dos melhores armadores reservas da liga, já foi pick #29. George Hill, a escolha #26 de 2008, foi trocado em 2011 por uma modesta pick #15 que se tornaria Kawhi Leonard. Dragic já foi o #45. Tony Parker #28. Manu #57. Enfim, o histórico da franquia também diz muito sobre o prospect draftado. O combo guard tinha apenas um ano de Colorado, onde conseguiu as médias de 18 pontos, 4 rebotes e 4 assistências. Só 13 jogadores em toda NCAA conseguiram essas médias. Sua altura e envergadura acima da média da posição são diferenciais nos dois lados da quadra. É eficiente do médio perímetro e tem um ótimo footwork defensivo. Mais Spurs que isso, impossível. Pop gosta muito.

Dennis Smith Jr. — NC State — 19 anos. 1,91. 88kg. Envergadura 1,90. (William Howard/Icon Sportswire)

Dennis Smith Jr. #9 (Mavericks)

Até demorou para escolherem o Rookie do ano da ACC. Dennis Smith Jr. talvez seja um dos mais habilidosos jogadores dessa lista. É bom handler, rápido, explosivo, compilando os atributos necessários para criar pontos para si. E faz isso de maneira plástica, que o expectador adora assistir. Teve uma das melhores médias de pontos, assistências e roubos de bola da NCAA e vem repetindo esse sucesso no seu breve início de NBA. Apesar de ainda não ser exímio defensor, um deadeye shooter ou o armador que dita o ritmo do ataque, dá sinais que Dallas é realmente um dos melhores lugares em que ele poderia estar para desenvolver essas características. A franquia passa por um processo de reconstrução, mas que é bem gerido por Rick Carlisle. É um time de cultura bem definida, liderança, administração diferenciada e que conta com uma lenda do esporte no vestiário. Dennis chega como titular, mas sem a pressão de carregar a franquia nas costas.

Frank Ntilikina — France — 19 anos. 1,97. 82kg. Envergadura 2,13. (Elyxandro Cegarra/NurPhoto via Getty Images)

Frank Ntilikina #8 (Knicks)

Uma das principais sensações da Europa nesse draft, o belga/francês Ntilikina parece ter sido uma ótima aposta de New York. Eleito duas vezes melhor jovem do Francesão, tem potencial para ser o ponto de equilíbrio que o Knicks precisa nos dois lados da quadra. A verdade é que ele vai de encontro à nova escola de point guards. Poucas vezes você vai ver Ntilikina ser explosivo, forçar arremessos mirabolantes ou mandar aquele crossover maldoso. Frank é cerebral, com a paciência de organizar o ataque. É leve, dinâmico, com boas reações e feel for the game. Já é ótimo defensor de perímetro e leitor de jogadas adversárias. Embora ainda franzino, ele tem uma assustadora vantagem de altura e envergadura, se for comparado com a média dos guards da NBA. No Knicks, ele pode ser crucial para as rotações defensivas e a movimentação de ataque, já que trata-se de um plantel que necessita das suas maiores características.

De’Aaron Fox — Kentucky — 20 anos. 1,93. 79kg. Envergadura 1,99 ( Brian Spurlock-USA TODAY Sports)

De’Aaron Fox #5 (Kings)

Elétrico. Talvez o jogador que mais me empolgue em toda essa Draft Class (E isso não tem nada a ver com meu enorme apreço por Kentucky). De’Aaron já entra na NBA com uma velocidade de elite e uma mentalidade de vencedor. É bastante alto e leve, o que faz com que suas passadas sejam absurdamente complicadas de acompanhar, até pra os melhores defensores da liga. Seu equilíbrio, controle corporal e noção de espaço também contribuem para a capacidade de flutuar pela quadra. Canhotinho, com facilidade de carregar a bola, ler e efetuar pick and roll, defender o perímetro e ser bastante competitivo quando enfrenta adversários fortes (Por exemplo, quando ele entregou 39 pontos no UCLA de Lonzo Ball). É scorer efetivo, distribuidor de jogo e bom defensor. Lembra muito o também wildcat John Wall, até mesmo nos pontos fracos: assim como ele, entra na liga com um arremesso ainda inconsistente. Nesses primeiros 6 jogos, ele mantem um aproveitamento abaixo de .350 em midrange, mas acertou metade das poucas bolas de 3 que tentou. É um ótimo achado do Kings, de qualquer maneira.

Lonzo Ball — UCLA — 20 anos. 1,98. 86kg. Envergadura 2,03 (JOE ROBBINS/GETTY IMAGES)

Lonzo Ball #2 (Lakers)

A hype tem nome. Até porque na família Ball a fama chegou cedo. Os vídeos de Lonzo, LiAngelo e LaMelo Ball em Chino Hills viralizaram antes mesmo da Universidade. O pai deles, Lavar, é dono de uma marca própria de material esportivo, além de ser uma metralhadora de declarações polêmicas. Nascido e criado na Califórnia, Lonzo continuou sua estrada de Chino Hills para UCLA e depois para o Lakers, uma das franquias de maior torcida no mundo. Parece destino. E pode ser. O Lakers mandou o também #2 pick D’Angelo Russell para Brooklyn em troca de Brook Lopez, dando indícios de uma reconstrução na qual Lonzo é peça chave. O armador é instintivo, safo, chama atenção por sua inteligência, handle e facilidade de achar companheiros em boas posições. É um ótimo break starter, porque sua envergadura lhe dá vantagem nos rebotes e box-out defensivos, sabendo articular rápidos contra-ataques. Não à toa, o Lakers se encontra no top 3 da NBA em pontos de fastbreak. Não é um jogador para forçar chutes ou comandar as ISOs do time, mas é um autêntico líder em quadra. Só fez 6 jogos e já teve um quase-triple-double na carreira. Ainda lança rap de vez em quando. Se ainda falta físico, ele já foi criado pra ter uma mindset de elite. Difícil imaginar que não viva para ser um All Star.

Markelle Fultz — Washington — 19 anos. 1,93. 88kg. Envergadura 2,00 (Jesse Beals/Icon Sportswire via Getty Images)

Markelle Fultz #1 (76ers)

Sempre o primeiro prospect em todos os mock drafts que eu vi. Vem de uma temporada universitária em que só faltou fazer chover em D.C. 23 pontos, 6 assistências e 6 rebotes por jogo, num aproveitamento de 47%. Isso tudo em um time que terminou 9–22 na NCAA. Fultz é um combo guard completo, que já tem um nível técnico e físico bem desenvolvidos. Talvez o mais pronto de todos os armadores para já ser determinante desde o primeiro minuto na NBA. Quando tudo desenhava que iria para Boston rotacionar com Isaiah Thomas, Celtics e 76ers protagonizaram uma troca inesperada. Boston abriu mão da pick #1 desse ano em troca das escolhas #3 de 2017 e #1 de 2018, ambas de Philadelphia. Win-win, trust the process, Fultz is a Sixer. Infelizmente, iniciou a temporada com uma lesão, que foi bastante negligenciada pela franquia, portanto deve ficar mais umas semanas sem mostrar serviço. Essa maneira estranha de lidar com lesões já aconteceu antes em Philadelphia, desde a época de Bynum, até recentemente com Simmons e Embiid. É esperar que a falta de clareza e profissionalismo do departamento médico do time não atrapalhem essa carreira promissora, para que todos os jornalistas, analistas, técnicos, atletas, torcedores iludidos e NBA nerds possam acompanhar o processo se estabelecendo. Eu espero que dê pra confiar de verdade nele.

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