O que o Thunder precisa fazer?

Rafael Freire
6 min readDec 15, 2017

--

Two and a half (All Star) men. (Layne Murdoch Sr./NBAE via Getty Images)

Esse texto foi provocado principalmente pela minha falta de paciência. O Thunder é o time mais feio que eu já vi jogar em 2017, e olha que eu parei uma noite pra assistir Kings x Hawks (com prazer, diga-se de passagem). Como espectador neutro, o Thunder consegue me irritar. Sabe aquela comédia que você pagou 15 reais pra ver no cinema, mas não lhe provoca uma risada? E aquela sensação que você tem quando tá apertado, mas tem uns safados na porta que querem que você pague pra usar o banheiro? Então, são essas duas sensações somadas. É como se o Thunder subestimasse nossa inteligência.

Era de conhecimento geral, desde sempre, que não iria ter um meio-termo. Ou seria uma nova força no West, ou um completo flop. E cá estamos com quase 30 jogos na temporada; o Thunder está 13–14, atualmente na oitava posição, mais pela pouca competitividade da conferência do que por mérito próprio. Contudo, mais do que resultados, esse texto fala de performance. Times como Jazz, Knicks, Pistons, Sixers, fazem campanhas similares ao OKC, mas todos tem um padrão de jogo sólido e consistente, interessantes de se assistir. O Thunder é totalmente o contrário. Parece que até quando ganha é com ressalvas. A gente não sabe o tipo de jogo que eles propõem, e por vezes, nem eles parecem saber.

Quem me acompanha pelo twitter percebe na prática o que eu falo aqui. O time é consistente defensivamente (terceira melhor defesa da NBA em eficiência e média de pontos cedidos), mas é aleatório no ataque, uma verdadeira montanha russa de inconsistência na mesma partida. Em uma posse, conseguem trabalhar a bola e desenhar uma jogada, mas nas próximas três eles partem pro mano a mano. Você pode tentar argumentar que realmente é difícil para um supertime se manter entrosado, sabendo exatamente o que fazer nos primeiros jogos, que precisa de uma adaptação e ambientação. E eu até concordo. Mas se você for analisar os últimos inícios de supertimes:

Timberwolves Atual: 16–12. Miami Big Three :18–8. Celtics Big Three: 23–3 Cavs Big Three: 16–10. O início do Thunder nesses primeiros 27 é curiosamente igual ao famoso flop do Lakers de Kobe, Howard, Nash e Gasol em 2012.

Na última partida, por exemplo, Melo, Russ e George juntos acertaram 10 em 45 tentativas. Tinham uma liderança de onze pontos no último quarto e conseguiram ceder em menos de cinco minutos pro fim. Precisaram contar com o sempre eficiente Adams e uma boa atuação do banco para ganhar o jogo.

Muito desse pobre aproveitamento se dá pela infrutífera movimentação de bola. Westbrook é o 4º de TODA A NBA em jogadas de Isolation (mano-a-mano). Melo é o 6º. George é o 19º. Você pode me dizer: “Mas Rafa, eu tenho 3 All Stars no meu time, quero que eles partam pra cima dos caras mesmo”. Beleza, quando você tem todo esse talento no seu time, de vez em quando as bolas vão cair e você pode até sair com umas vitórias, mas em geral, não é isso que acontece. Outro número pra ilustrar este argumento: o OKC é o time que mais chuta pull-up jumpers (arremessos em movimento, saindo do drible) e é o terceiro pior no aproveitamento desses jumpshots. O sistema hero-ball ainda é presente demais e mais atrapalha do que soma. O resultado: O Thunder é o terceiro pior ataque da NBA. Figura entre os cinco piores nos seguintes quesitos: média de passes, média de assistências, aproveitamento de arremessos gerais, aproveitamento de três pontos, aproveitamento de lances livres. Isso não é basquete eficiente.

Muito se fala sobre o Westbrook e como ele seria o principal responsável dessa temporada decepcionante. Acho injusto colocar a culpa de todo um sistema em cima de um homem, mas eu preciso me ater aos fatos: o atual MVP vem chutando a pior média da carreira. Melo também. Paul George tem a segunda pior média de sempre. Do outro lado da conversa, temos Oladipo, Sabonis, Kanter, que depois de irem embora de Oklahoma, estão começando a fluorescer em números e em performance (e olha que eu não citei Durant e Harden, mas eles podem ser mais dois grandes exemplos). Até que ponto podemos preservar Russell das críticas? Ele realmente falha em envolver seus colegas de time, independente das assistências que consegue? Pra fazer justiça, pensar o jogo e tomar as decisões certas nunca foi o forte do Westbrook, mas isso não atrapalhou a sua jornada pra MVP, por exemplo — isso se deu justamente por precisar carregar o time sozinho. E agora que ele tem mais dois All Stars (ou um All Star e meio) que precisam da bola nas mãos? Como redesenhar um sistema baseado apenas nele para chegar ao caminho das vitórias?

Aqui um flash do último jogo. George está aberto, mas Russell prefere ter mais trabalho, clareando o espaço para o próprio arremesso, desequilibrado. Airball. Essa não foi a primeira vez.

São três homens acostumados a serem os principais nomes das suas franquias, os que passam mais tempo com a bola nas mãos, as primeiras opções de ataque. E me parece que nenhum dos três quer ceder completamente em favor de um bem comum. Steven Adams é uma realidade à parte, sendo uma alternativa boa, principalmente em jogadas de pick and roll com o Big 3. Até o Roberson tenta ao máximo criar espaço para os astros do time, batalhando em bloqueios. Às vezes eu tenho a impressão que Russ e George ainda conseguem conectar, de vez em quando, em algumas jogadas de definição rápida:

Uma das jogadas bastante prolíficas de OKC. A maioria delas acontece com Russ, George e um bloqueio simples, sem tomar tanto tempo do relógio.

Em contrapartida, vejo bem menos a participação efetiva do Melo. É constantemente visto forçando arremessos no garrafão, ou tentando a sorte contra PFs mais fortes, mais altos e mais atléticos. A previsibilidade de jogadas isoladas no post continua e suas escolhas de arremessos forçados atrapalham demais a dinâmica ofensiva. Ele por vezes evita contato nas screenplays que podem abrir espaço pros companheiros. Sobre “ceder por um bem comum”, talvez ele seja o mais complicado nesse quesito. Em setembro, ele riu quando foi perguntado sobre iniciar do banco.

Vamos ser francos. Já tem algum tempo que Melo não produz como um verdadeiro All Star, sem contar que já tem 33 anos. Sua capacidade atlética já é bastante limitada para iniciar numa posição de garrafão, jogando 33 minutos em 82 jogos na NBA atual. Ele é uma mismatch. Se viesse do banco como a principal opção de ataque, jogando contra a reserva dos outros times, na sua posição de origem, podendo efetuar sua ISO com mais liberdade, ele e o Thunder ganhariam mais. Jogadores como Wade já fizeram isso, e foi um passo enorme para o renascimento dos Cavs. Na última sequência de vitórias do Thunder, Melo tentou menos arremessos do que sua média na temporada. É um sinal.

Como era de se esperar, Donovan também foi tomado como bode expiatório, pela sua incapacidade em fazer suas peças funcionarem. Pra ser sincero, não sei até que ponto dá pra culpar a equipe técnica, nesse caso. De fato, os erros ofensivos estão sendo repetidos a todo jogo e se isso continuar, vai ser difícil não questionar o comando. Mas as peças não se ajudam na execução, mesmo quando as jogadas já estão desenhadas. Westbrook raramente se movimenta sem a bola. Melo não procura real contato quando faz bloqueios. O time se perde dentro da lentidão das decisões e posicionamentos. Muitas das ISOs e pull-ups se dão justamente por quebras nas jogadas treinadas, facilmente neutralizadas pelas defesas adversárias. O time não consegue manter a produtividade pós intervalo. Eu me recuso a acreditar que nenhuma pessoa dentro de uma equipe técnica profissional na maior liga de basquete do mundo esteja vendo isso acontecer e que não há nada sendo feito nos bastidores.

Oklahoma City precisa achar o caminho, independente se ele virá dentro de quadra, ou nos escritórios de Sam Presti. Se nada der certo de verdade, a permanência de George e Melo vai ser muito improvável, já que viram Free Agents ao final desta temporada. Ainda temos mais de 50 jogos pela frente, mas se continuar assim até a trade deadline, pode ativar as notificações do twitter do Woj. O Thunder vai precisar se mexer de verdade. O futuro da franquia estará em jogo nas próximas semanas.

--

--