Os sinais não mentem. O East está voltando.

Rafael Freire
6 min readDec 9, 2017

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Por rafcl

OS QUATRO CAVALEIROS DO APOCALEAST (via youtube)

Não parecia tão óbvio.

O West domina a NBA desde que eu aprendi o que é basquete. Isso provavelmente não vai mudar por algum tempo, devido ao grande número de superstars que inflam a conferência. Mas vamos com calma.

Volte um pouco no tempo e se imagine em setembro deste ano. A temporada 17–18 se avizinha. Warriors de Splash Brothers e Durant celebram o título. Chris Paul assina com o Rockets, que já era bastante forte sem ele. Você vê nomes como Millsap, Melo, Butler e Paul George fazendo o caminho inverso, reforçando times de outra conferência. Dos 30 melhores jogadores da NBA, pelo menos 20 começaram a competição em algum time do West. O que pensar se não num total e absoluto domínio? Além de LeBron e do Celtics, não dava para considerar uma real disputa dentro da conferência.

Mas a NBA nunca foi previsível. Nesses vinte e poucos jogos iniciais, o East vem surpreendendo: tem o time de melhor campanha da liga; Todos os oito primeiros colocados têm campanhas acima dos 50%; No West, o quinto e sexto colocados fazem campanhas similares ao oitavo colocado do East; Seis times do oeste ainda não conseguiram 10 vitórias, enquanto no leste, a disputa pela sétima e oitava vagas parece mais viva. Não me entenda mal, não é por isso que a diferença técnica entre as conferências deixou de existir. Tam muito jogo pela frente, é claro. O ponto é: você com certeza não esperava o desempenho positivo da maioria dos times do East neste ponto do campeonato.

Eu também não.

Ninguém esperava.

Nem eles mesmos.

Mas de fato, o que presenciamos agora é algo que já vem se desenhando há um certo tempo. A competitividade que tem sido apresentada parece ser fruto da boa gestão administrativa das franquias, em conjunto com trabalhos técnicos interessantes (OK. Em alguns casos, nem tanto). Times que finalmente estabeleceram sua base, grupos em processo de reconstrução que começam a achar suas peças centrais, apostas que vêm dando certo, perspectivas de futuro. O East pode voltar a disputar de igual para igual, e essa temporada pode ser o ponto de partida para isso.

Só para contextualizar: o East tem 14 dos 20 times mais jovens da NBA. Tirando o Cleveland — único time de toda a NBA que supera a média de 30 anos — todos os times da conferência não passam da média de 27. Enquanto os times do oeste, mais experientes e estelares, passaram os últimos anos no caminho das vitórias, o leste acabou precisando de estratégias para acumular talento jovem e potencial. Se você acompanhou algum texto desta série, vai ver que já tem calouro roubando o protagonismo em alguns times. E mesmo os que ainda não roubaram, podem vir a ser dominantes no futuro, assim como muitos times que serão citados aqui.

Agora que eu cresci, você quer me namorar. Baba, baby. Baby, baba. Baba. (Andy Lyons/Getty Images)

Pra começar, trago Bulls, Hawks e Magic, times em pleno início de rebuild, que ainda são saco de pancadas da liga. Embora fracos, têm perspectivas interessantes: o Bulls conseguiu um dos melhores calouros desse ano, é um dos poucos times com espaço para trazer nomes grandes na Free Agency e promete ter uma escolha Top 3 no Draft de 2018. O Magic caiu drasticamente nas ultimas semanas, mas o crescimento de Payton e Gordon e os bons números do ataque devem ser destacados — melhores pontuadores do que times como Blazers, Spurs e Celtics, por exemplo. Em Atlanta, bem… eu acho que independente do que aconteça, eles vão continuar sem incomodar ninguém. Não obstante, estão projetados para três escolhas de Primeiro Round no próximo Draft, e assim como o Bulls, é um dos poucos times confortáveis para contratar. Quem sabe?

Embora o Charlotte Hornets esteja decepcionando, de certa maneira — considerando o seu bom plantel, eu esperava que conseguissem vaga nos playoffs com mais tranquilidade — é impossível deixar de mencionar outras franquias emergentes dentro da conferência:

O Nets, por exemplo, finalmente conseguiu acertar nos negócios e não é mais um coitado. Tem um interessantíssimo plantel jovem, físico e pontuador. Russell e Okafor, respectivamente #2 e #3 no Draft de 2015, estão ávidos para provar seu real valor em uma nova franquia; Sem Phil Jackson e Melo, Porzingis assumiu a postura de Franchise Player em New York, o que lhe colocou inclusive na briga dos 10 mais cotados a MVP. Frank Ntilikina também mostra sinais de que vai ser muito útil ao desenvolvimento do time; Philadelphia vem praticando um basquetebol lindo de se assistir, com Ben Simmons (Petit LeBron aqui na Bahia) mostrando porque merece ser calouro do ano. Quando ele joga com Embiid, Saric, Covington e Redick, o Sixers tem um dos quintetos mais eficientes ofensivamente em toda NBA. E ainda tem um tal de Markelle Fultz para ser encaixado; Embora falte talento jovem e contratos maleáveis, o Heat também tem boas peças e um treinador de elite, que sabe as limitações e virtudes do seu plantel. Dos times citados, talvez o menos emergente.

Em questão de surpresa, podemos destacar Indiana Pacers e o Detroit Pistons, times que souberam mixar muito bem o talento jovem com a rotação de veteranos. O primeiro tem como destaque a grande evolução de Turner e, principalmente, a breakout season de Victor Oladipo. Pela primeira vez, ele vem entregando com consistência o que que se espera desde que chegou à NBA, atingindo as maiores médias da carreira em praticamente todas as estatísticas principais (Chupa, Thunder). Detroit tem um jogo bastante throwback, com muita participação dos homens grandes na criação ofensiva. Conta com atuações sólidas de Bradley e Harris, tendo em Andre Drummond um jogador chave. Ele lidera a NBA em rebotes, contribuindo bastante nas jogadas de ataque e sendo parte imprescindível de uma das melhores defesas do campeonato. Ainda por cima tá acertando os lances livres.

Em notícias que todo mundo já sabe: Bucks, Raptors, Wizards, Cavaliers e Celtics constituem a parte mais sólida e pronta para o combate, no que diz respeito a playoffs. Giannis Antetokounmpo, filho do próprio Zeus, promete brigar por MVP por incontáveis anos, tendo em Bledsoe um novo e ótimo nome para completar um elenco entrosado e primaveril; Provavelmente estamos presenciando o auge do Lowry e mais uma ótima temporada de DeRozan, que só faz crescer. Raptors tem o terceiro melhor ataque da NBA e primeiro colocado em aproveitamento geral de arremessos; Wall e Beal, que protagonizam uma das 5 melhores backcourts da NBA, contam com uma sólida temporada do despontante Otto Porter. É um time que se conhece há muito tempo, inteligente taticamente e forte demais em casa; Mesmo com bom elenco, o Cavs teve um início lento. Mas aí LeBron James aconteceu e eles ganharam 12 seguidas. Simples assim. Imagino que o entrosamento que ele terá com Isaiah Thomas venha a ser ainda mais prolífico e interessante do que com Kyrie Irving.

Aqui está LeBron dizendo que tá estudando >NO NBA 2K18< maneiras de jogar junto com o Isaiah Thomas na vida real.

Por falar nisso, já discorri aqui sobre o Kyrie e sua nova alma em Boston. Desde então, ele só mostra indícios de melhora na sua produtividade, com o melhor Player Efficiency Rating da liga nos momentos decisivos (Me pergunto como o Dion Waiters não está na frente, mas tudo bem). Com uma temporada excepcional de Horford e com jovens mostrando talento, o time de melhor campanha e melhor defesa da liga já parece uma real ameaça à dominância de LeBron James na conferência. Quem sabe até mais do que isso. Às vezes a gente esquece que ainda tem o Hayward pra entrar aí.

Mais uma vez arrisco queimar a língua, mas parece que, esse ano, a semente foi plantada. O West ainda tem a prevalência, mas no East, diversos diamantes estão sendo lapidados. Nomes como Tatum, Brown, Irving, Beal, Porter, Simmons, Fultz, Embiid, Antetokounmpo, Brogdon, Oladipo, Turner, Drummond, Harris, Gordon, Markkanen — entre outros que eu devo ter esquecido de citar — têm entre 19 e 25 anos. E olha o estrago que já fazem. Os anos de dominação de LeBron James na conferência leste podem estar chegando a um final, ou pelo menos a uma pausa. Também não será surpresa que, junto com outros grandes nomes consagrados da conferência, esses jogadores voltem a ressignificar a batalha entre os dois lados do basquete americano.

A verdade é que, mesmo que não sejam tão competitivos em termos de luta pelo título, os times do East atual são bem mais divertidos de assistir do que os de outrora. Quem sabe, esses times em formação façam esquecer aquela história de unir as duas conferências, classificando os melhores dezesseis. Quem sabe a gente realmente esteja vendo o início do fim da hegemonia do West. Talvez daqui a 5 anos a gente olhe para trás e pense que realmente “não parecia tão óbvio”.

Mas os sinais não mentem.

Esperemos.

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