Quando deixei de ser UX no Brasil para ser um Designer na Africa
A 700 dias atras, eu era só mais um cara, um designer faca nos dentes procurando desafios, salários altos e projetos relevantes, para que um dia eu pudesse sentar meus filhos na frente da lareira e contar meus feitos nas empresas. Quem nunca sonhou em trabalhar no Google, Facebook ou Microsoft ? Pois então
Até que sou surpreendido com um e-mail me convidando para trabalhar na Africa, mais específico em Angola, em projetos do governo.
Como esse mundo é pequeno, como alguém a 7500km de distancia me encontrou? Pois então, voce leitor também esta sujeito a isso!
Por mais encantadora que fosse a proposta, jamais passou em minha cabeça ir trabalhar com TI em Angola, e imagino que nenhum brasileiro sonha em trabalhar em uma empresa TI lá.
Nunca conheci, nem vi propagandas e nem ninguém falar nada de Angola, que tenha sido criado no Miolo da Africa e exportado para o mundo. De fato, nunca fomos estimulados nem motivados a fazer algo onde precise, sempre queremos estar no meio dos lideres, jamais entre o grupo de acesso ;)
Um dia, a pessoa que viria se tornar meu gerente me liga, após 45 minutos de conversa e uma ampla pesquisa de tudo a respeito da empresa e seus funcionários, resolvi aceitar.
A empresa tinha 2 dos 5 profissionais mais qualificados da Oracle, alem de que cada pessoa que eu achava no LinkedIn tinha mais certificações do que qualquer outra pessoa que um dia eu achei foda na minha vida.
Ainda que inseguro quanto ao País e ao trabalho que executaria sendo o primeiro designer da fabrica de software, resolvi aceitar e rever meus conceitos, pois ali estavam um núcleo de pessoas altamente capacitadas :)
A adaptação cultural foi instantânea, Angola é quente, e quase tudo vem do brasil, musicas, comida, costumes, até o jeitinho brasileiro eles tem, só que muito mais aperfeiçoado ;D. Poucos dias e muitos sorrisos sinceros que recebi foram o suficiente para me deixar a vontade.
Angolanos amam brasileiros e farão de tudo para te deixar a vontade :)
Porem o trabalho do dia a dia era assustador! A cada dia eu via que precisava estudar muito mais um setlist de coisas do que User Interface e muito Java!
Eu ja tinha trabalhado com diversas tecnologias, e todos por aqui me deram muita força e material para fazer interfaces em Java, porem veio me a tona algo do inicio da carreira:
- O designer de interface tem que saber programar mesmo?
- Java é um diferencial para um designer ?
- Deixarei de ser Designer para virar um programador?
Ja era tarde para voltar a traz e falar “Wow eu não nasci para isso”. Os projetos de fatos eram fascinantes, importantes para empresa e para o País. Eu só pensava em uma coisa:
“Esse é o ponto onde o meu antigo eu vai ter que evoluir”
Com o passar do tempo e estudo descobri o que traz todos para Angola. De fato os benefícios são maravilhosos, mas a sensação de relevância social, amadurecimento professional e a experiência de vida, aqui o senso de bem comum é algo muito grande, a relação win-win é gigantesca!
A dificuldade nunca foi técnica, contamos com inúmeros profissionais altamente qualificados. Existe a carencia de mercado, mas oque falta é de profissionais com approach para saber oferecer soluções, para educar os clientes sobre boas praticas e solucionar problemas de forma simples.
Ou seja, não importa como, faça, resolva, teste, entregue, documente, avalie, melhore. No final das contas tecnologia sempre muda, e em Angola não é diferente, sempre estamos fazendo formações para sermos melhores partners.
Nesse momento eu me vi que de fato, que mais importante que UX que só pensa em pesquisa e wireframe é ser um Designer, ser um facilitador alguem que pense no produto e no business.
O trabalho deixou de ser algo pesado massivo quando percebi que uma conversa com um desenvolvedor e outra com o cliente que nunca teve uma consultoria, as vezes, vale mais que um milhão de soluções escritas em Helvetica Light ou no nova features no sistema.
O país ao contrario de que muitos pensam é muito rico e qualquer mudança é muito impactante para todos por aqui, então o Designer tem papel fundamental em qualquer instituição. Com a empatia certa, o designer vira agente transformador muito fácil aqui :)
Angola tem diversos problemas, o mercado de TI aqui é escasso, quase todos somos expatriados. Já o intercâmbio cultural é gigantesco, tudo é aprendizado, voce absorve conhecimento de todos os lados e o tempo todo.
Talvez ter ido trabalhar em outras empresas Gigantes de TI não me dariam a humildade e capacidade de ver o business como um todo. A Africa precisa de gente como nós para desenvolver os anos perdidos.
Se quizer saber um pouco mais, tem esse EP do dev que compartilho a experiencia com meus amigos @raymonsanches e femontanha
http://devnaestrada.com.br/2016/03/04/devnaestrada-brasileiro-angola.html…701 dias e contando.
