A Gourmetização da inovação
Certamente você já se deparou por artigos ou já foi abordado por consultores e gurus que apresentaram métodos milagrosos de inovação e agilidade que são usados em startups e centros de excelências como a solução para tudo, da ideação a experiência de consumo.
E mais ainda, orientados por uma imensa concorrência e disputa pela percepção do consumidor dentro de uma economia de atenção, diversas técnicas com base em neurociência para auxiliar no processo de conversão que entram como uma bula de sucesso nos mercados.
Tudo é muito interessante e um possível bom diferencial, porém quando muitos fazem mesmo o crème de la crème um diferencial exclusivo de solução, ela passa de divino para commoditie num espaço muito curto de tempo. E ainda mais, quando para ser coerente com tais métodos se faz necessário transformar a cultura organizacional, a cadeia de valor e o posicionamento da marca para um alinhamento lógico entre processo e entregáveis o encantador universo agile começa a ficar mais complicada e muitas vezes mais sem sentido do que de fato aparece.
Por isso, será que a gourmetização do processo é mais importante do que o processo em si?
E fazer parte desta onda é mais interessante do que a autonomia crítica e criativa típica de que se faz relevante?
Na ânsia de ser diferente do resto do mercado, existe sempre um grande risco de nos tornarmos mais do mesmo, como todos os que buscam ser exclusivos, trilhando o mesmo caminho, orientados pelas mesmas regras de ouro, entregando o que todos já entregam e fadado ao mesmo fracasso.
E, isso acontece por que muitas vezes esquecemos que o simples (não o simplório) pode ser sim, a mais adequada das respostas para os mais complexos desafios de inovações e experiência de consumo que temos hoje em dia.
Logo, nada substitui a potencia analítica da empatia e a assertividade de tratar gente como gente, não importa quão gourmet seja a nomenclatura da tecnologia, método ou ciência que você usa ou admira.A ação e a reação de respeitar, emergir e se transformar a partir de mundos que não são os nossos, ainda são as melhores ferramentas de inovação que sempre existiram. E caso você tenha alguma dúvida sobre isso, apenas se atente no volume de empresas ou startups que não passam de um ano de existência, nas que são simplesmente irrelevantes na sua atuação, ou na imensa quantidade de produtos e propostas de experiências que você já vivenciou e já se esqueceu.
No mais, é simplesmente as soluções para problemas reais de pessoas inteligentes, vulneráveis e plurais que deveriam ser a maior conquista a ser alcançada por qualquer marca, independente fábula enlatada dos coroados ditames processuais que distanciam a realidade cotidiana, do bom senso e da empatia.
Especialista e consultor de Design de Conceito, palestrante e professor universitário, graduado em Gestão Pública (FGV); pós-graduado em Design Estratégico (IED) e em Psicologia Analítica (IJEP).