A Inteligência Artificial pode nos deixar mais burros

Raoni Henrique
3 min readMay 15, 2024

À medida que a tecnologia avança e se torna cada vez mais inteligente e presente no dia a dia, vamos delegando tarefas rotineiras a ela e corremos o risco de nos tornarmos cada vez mais dependentes. Como então mudar o jogo a nosso favor?

https://www1.folha.uol.com.br/tec/2024/05/nova-versao-do-chatgpt-faz-acreditar-que-era-do-filme-ela-chegou.shtml

Qual é a tabuada do 7? Quando usamos crase? Qual é o telefone de um parente próximo? Coisas que sabíamos de cor e tarefas simples são apenas alguns exemplos de como estamos cada vez mais delegando nosso cotidiano às inteligências computacionais. Automatizamos grande parte das nossas atividades diárias, alimentando de dados as inteligências generativas, que se tornam mais inteligentes enquanto podemos estar nos tornando menos espertos.

https://casapino.com.br/viver-bem/saude-e-bem-estar/dependente-do-waze-e-outras-tecnologias-cuidado-com-a-sua-memoria/

Para lembrar de como chegamos aqui, em junho de 2022, menos de dois anos atrás, a internet foi apresentada ao DALL-E, uma Inteligência Artificial capaz de criar imagens realistas a partir de qualquer descrição fornecida pelo usuário. O surrealismo e a inovação das imagens, juntamente com a surpresa de uma máquina criar algo tão inusitado, viralizaram e demonstraram o poder das Inteligências Artificiais.

Imagem gerada pelo Dall-e

Já em novembro do mesmo ano, um lançamento de grande impacto aconteceu: o ChatGPT da OpenAI, a mesma empresa responsável pelo DALL-E. Diferente das aplicações anteriores, ele conseguia fornecer respostas contextualizadas. Com 1 milhão de usuários cadastrados em apenas cinco dias, o ChatGPT popularizou as IAs, que começaram a ser incorporadas em diversas ferramentas de trabalho.

Hoje, no meu emprego, a IA do Miro me auxilia na clusterização de insights, organização de post-its e sugestão de temas para direcionamentos. O mesmo ocorre com outras ferramentas como Notion, Teams, Google Workspace, entre outras. Estamos não apenas treinando a Inteligência Artificial, mas também aprendendo a lidar com ela, descobrindo seus potenciais e limitações e adaptando nosso trabalho a essas novas capacidades.

Exemplo de como a AI já vem sendo incorporada por utilitários de trabalho, como o Miro.

Recentemente, a OpenAI lançou o GPT-4, sua nova versão. Um dos avanços inclui a possibilidade de consultas em tempo real na internet e interações por voz, texto e imagem. Como mencionou Ronaldo Lemos no Twitter, este é o primeiro passo para que a IA se torne uma espécie de “sistema operacional” do mundo, integrando-se cada vez mais ao nosso cotidiano. O Google, buscador mais utilizado no mundo, também anunciou que cada vez mais usará IA nos resultados das buscas, transformando a internet num lugar de conversa intermediada.

Pode ser muito bom delegar coisas para as inteligências e deixar espaço na nossa mente para tarefas mais complexas. Mas, na busca por aumentar nossa produtividade e eficiência, começamos a abandonar atividades que, apesar de simples, afetam o funcionamento do nosso cérebro e estão definindo um novo padrão de inteligência humana.

Assim como muitas empresas vêm sendo acusadas de “AI Washing”, isto é, lançar novidades relacionadas a esse campo da tecnologia sem de fato ter um produto relevante, profissionais podem, no afã de se mostrarem atualizados, buscar ferramentas e produtos que nada ou pouco irão ajudar na sua carreira ou dia a dia, ou até mesmo descaracterizar o que vem sendo cada vez mais valorizado nesse mundo pós-ChatGPT: a criatividade e o lado humano.

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Raoni Henrique

Consumer Insights e especialista em Ux e Design no Grupo Consumoteca. Fundador do @movimento ímpar. Autoridade em memes e polêmicas.