Cultura e Música Psicodélica

Raphael Denny
17 min readMar 21, 2020

Psicodelia (do grego psique ψυχή — alma e delein δηλειν — manifestação) é uma manifestação da mente que produz efeitos profundos sobre a experiência consciente.

A experiência psicodélica é caracterizada pela percepção de aspectos da mente anteriormente desconhecidos, inusitados ou pela exuberância criativa livre de obstáculos. É um conjunto de experiências estimuladas pela privação sensorial, bem como por efeito no sistema nervoso de substâncias psicodélicas que, do ponto de vista jurídico, podem ser consideradas lícitas como muitos dos psicotrópicos ou ilícitas. Essas experiências incluem uma produção visionária semelhante a alucinações, mudanças de percepção, sinestesia, estados alterados de consciência semelhantes ao sonho, psicose e êxtase religioso.

Para sondar o inferno ou elevar-se angélico, tome uma pitada de psicodélico

Rock: Psicodélico

Nos anos 60 a onda do estado alterado de consciência como forma de expansão mística, artística e intelectual da mente abalou toda a paisagem social. Milhões de estudantes, artistas e intelectuais, embasados na literatura beat de Kerouac e Ginsberg e no livro “As Portas de Percepção” (termo emprestado de William Blake) de Adous Huxley, foram levados pela esperança de que agentes químicos e drogas como o LSD poderiam abrir o cérebro mortal para um reino onde “tudo parece infinito”, nas palavras de Blake. Ou seja, os hippies dos anos 60 foram uma espécie de evolução dos beatniks dos anos 50.

Uma década de guerras, ditaduras, mas também de hippies, Hell’s Angels, popstars, moldando um novo sonho americano. Envoltos numa espessa nuvem de fumaça, e em viagens cujo combustível tinha as siglas LSD ou STP. Grande foi o papel de destaque de artistas como The Beatles, Bob Dylan, Phil Ochs, Johnny Cash, Jim Morrison, Grateful Dead, Leonard Cohen. Sem esquecer os beats Ken Kesey, Allen Ginsberg, Jack Kerouac. Grande parte destes personagens vivia, ou viveu, em San Francisco. Haight-Ashbury, era um bairro da cidade onde se localizava o epicentro do furacão hippie que iria influenciar toda uma concepção de vida, não apenas dos americanos, mas do mundo inteiro. Como também o mito do “Verão do amor”, em 1967, em San Francisco.

Haight Street and Ashbury Street, 1969

A ida dos hippies para o bairro de Haight-Ashbury teve motivo prosaico. Deveu-se ao aumento dos aluguéis em North Beach, onde moravam várias das estrelas da geração beat. Lá estavam Ken Kesey, com o Warlock, depois Grateful Dead realizava as experiências com LSD, os lendários acid tests. “Hippie” era um termo pejorativo criado pelos beats, corruptela de hipster (no jargão beat, o cara antenado e contestador). Coincidiu de nesta mesma época surgir um intenso movimento musical em torno da Baía de San Francisco e bandas como o Jefferson Airplane, Country Joe & and the Fish, Big Brother and the Holding Company e Quicksilver Messenger Service. Em 1967, a comunidade hippie já era ponto turístico. Uma companhia de bondes de San Francisco explorava a linha San Francisco/Haight-Ashbury District Hippie-Hop Tour. As intenções dos hippies eram as melhores possíveis, as drogas, nem tanto. Seu consumo em escala industrial apressou o fim do sonho, três anos antes que John Lennon denunciasse seu fim.

Em 1967, na comemoração do solstício de verão (o dia mais longo do ano), cerca de cinco mil pessoas celebraram com doses cavalares de STP (uma nova droga), e grande parte delas acabou nas clínicas de urgência de San Francisco. “Haight-Ashbury pode ter sido o maior laboratório de experimentos com drogas da América, mas ninguém o monitorava com objetividade. A escritora Joan Didion, no livro Slouching towards Bethlehem, conta ter encontrado uma menina de cinco anos, Susan, lendo uma história em quadrinhos, chapada de LSD, que há um ano a própria mãe lhe dava”. No final de 1967, lembra Mikail Gilmore (autor de Ponto Final), Haight-Ashbury havia acabado. E não apenas por causa das drogas, mas porque o país radicalizava-se politicamente. O ano de 1968 foi a ressaca do Verão do Amor. Porém, não foi uma experiência inócua. San Francisco deixou uma grande herança de música e ideais libertários que, de uma forma ou de outra, ainda influencia pessoas mundo afora.

O Festival de Woodstock (1969) aconteceu entre os dias 15 e 18 de agosto na cidade de Bethel, interior de Nova York, e foi o maior festival de música de todos os tempos. Teve como combustível muita música folk, muito rock psicodélico, drogas alucinógenas e nudez descompromissada.

Se na Califórnia tínhamos uma cena hippie onde a cultura psicodélica e lisérgica estava fundamentada em velhas crenças comunais, esotéricas e religiosas (astrologia, tarô, magia, taoismo, etc.) e o som baseado no blues amplificado, elétrico, gritante e sem polimento, na Londres onde o Pink Floyd dava os primeiros passos, o psicodelismo tinha algumas características a mais: um mix de blues, com referências da “music hall”, guitarras overdrive e wah-wahs, feedbacks amplificados, experimentações dissonantes, e muitas referências literárias de Lewis Carroll. E o centro de tudo isso, a casa noturna UFO onde em 1966–67 a banda Pink Floyd realizou suas primeiras apresentações com Syd Barrett, compositor da maioria das músicas.

Cartazes de shows caracterizados pela Arte Psicodélica e Arte Visionária

Na cena Londrina não existia “hippies”, mas “freaks” que se reuniam nas noites de sexta e sábado na UFO Club para as verdadeiras apresentações “multimídias”: performances do Pink Floyd combinadas com a projeção de filmes de vanguarda, show de luzes estroboscópicas, projeção de slides com imagens caleidoscópicas fractais, tudo projetado sobre as roupas de setim dos integrantes da banda para acentuar ainda mais o ofuscamento mesclado com o som de improviso e viajante. Era como se a experiência multi-sensorial quisesse produzir estados alterados de consciência, como Alice caindo através do buraco do coelho. Não havia solos de guitarra, mas sons com ritmos hipnóticos produzidos por um isqueiro Zippo atritando o braço de uma guitarra Fender de Syd Barrett produzindo atmosferas acompanhadas por uma interminável linha de baixo. Os freaks eram um misto de pós-hippie com proto-punk, em uma cena chamada de UK Underground.

Ligar-se, sintonizar-se, libertar-se”, era a palavra de ordem do papa do LSD, o psiquiatra norte-americano Thimothy Leary. Mas parece que toda uma geração não compreendeu a advertência feita por ele no livro “A Experiência Psicodélica – Um Manual Baseado no Livro Tibetano dos Mortos”:

“a droga não produz a experiência transcedental. Ela apenas age como chave química – ela abre a mente, liberta o sistema nervoso de seus padrões e estruturas ordinários. A natureza da experiência depende quase inteiramente do arranjo e do cenário.” (LEARY, Thimothy. “The Psychedelic Experience: A Manual Based on the Tibetan Book of the Dead”. NY: Kensington Publishing Corp., 1995, p. 11).

Acreditando que nas drogas encontrariam o atalho para o Nirvana, a cultura psicodélica se esvaiu em overdoses, “bad trips” e pesadelos encontrados no mergulho no interior da própria inconsciência. No rescaldo dessa cultura, o psicodelismo dividiu-se em dois grupos bem definidos. Usando o jargão do pesquisador Umberto Eco, o primeiro grupo é o que poderíamos chamar de “integrados”: o “ligar-se e sintonizar-se” foi traduzido em termos de rede de computadores e cibernética. “O computador é o LSD do mundo dos negócios”, disse certa vez McLuhan. Os mais ilustres desenvolvedores de softwares do Vale do Silício foram hippies no estilo psicodélico e viram no ciberespaço a oportunidade da abertura espiritual da mente.

Do outro lado os “apocalípticos”: as drogas psicodélicas resultaram no mergulho solipsista para o interior da própria mente e o que encontraram não foi o “verdadeiro Eu”, mas pesadelos, esquizofrenia, alienação e paranoia. A tradução cultural foi a concepção da política como conspirações e os fatos como obscuros resultados de fabulações de sociedades secretas ou alienígenas “greys”. E a tradução estética pode ser encontrada, por exemplo, na banda Pink Floyd pós Syd Barrett: a recorrência dos temas da alienação e paranoia cujo ápice encontramos na trilogia dos álbuns “Animals”, “The Wall” e “Final Cut”.

Primeira edição do Glastonbury Festival em 1970 na Grã-Bretanha

O cantor folk Phil Ochs, o criador do jornalismo gonzo, Hunter S.Thompson, Jim Morrison e os Doors, Allman Brothers, Led Zeppelin, e The Jimi Hendrix Experience, foram pessoas (bandas, artistas) que ajudaram a moldar uma época e um movimento.

No Brasil: Tropicalismo

🇧🇷 Tropicália, tropicalismo ou movimento tropicalista foi um movimento cultural brasileiro de ruptura cultural que, na música, tem como marco o lançamento, em 1968, do disco "Tropicália ou Panis et Circencis". Surgiu sob a influência das correntes artísticas da vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira, misturando manifestações tradicionais da cultura brasileira à inovações estéticas radicais. Seus participantes foram os cantores-compositores Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, a cantora Gal Costa, a banda Os Mutantes e o maestro Rogério Duprat. A cantora Nara Leão e os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto completaram o grupo, que teve também o artista gráfico, compositor e poeta Rogério Duarte como um de seus principais mentores. Destaque também para Jorge Ben Jor.

Nascidos sob o regime militar brasileiro, os tropicalistas tinham, inclusive, objetivos políticos e sociais, mas acreditavam que a experiência estética era um instrumento social revolucionário independente de uma prática que promovesse mudanças políticas. Isso provocava críticas de outros artistas, abertamente engajados, que consideravam os tropicalistas muito vagos em suas manifestações contra a ditadura existente no Brasil naquela época.

Com o Tropicalismo (surgido como um movimento vanguardista ideológico e cultural de contramão ao formalismo extremo, temática burguesa e elitizada da Bossa Nova dos anos 50), a introdução da guitarra elétrica e a vinda do iê-iê-iê foram alguns elementos importados para nossa música da época. De tal maneira, também foi trazida a cultura do rock como um todo, na qual era a do Psicodelismo fortemente vigente nos EUA e Reino Unido — fonte maior da absorção da cultura do rock para o Brasil.

Com isso, Os Mutantes foi a principal banda do estilo em terras brasileiras. A banda apresentava um som bem característico do psicodélico dos países de fora e ainda adicionava um toque brasileiro que a fez famosa internacionalmente e, até hoje, é uma das bandas brasileiras mais citadas, respeitadas e adoradas por lá.

Disco: anos 70

Os anos 70, apresentava as referências visuais da Disco: moda, comportamento e, principalmente, os espaços multi-sensorias que eram as discotecas. Luzes estroboscópicas, pistas de dança com luzes em movimento criando formas geométricas randômicas, gelo seco, etc. Em termos de comportamento, sabemos que, ao longo das décadas as drogas acompanham cada tendência dentro da cultura pop. Na era da Disco acompanhamos a decadência das drogas lisérgicas e a ascensão das drogas “speed” como a cocaína. Diante de tanto estímulo sensorial, o importante era ficar ligado e dançar a noite inteira. Em ambientes como a discoteca já não eram mais necessárias as drogas lisérgicas: os aparatos multisensorias já reproduziam os efeitos das viagens dos ácidos. Portanto, o mais importante era se manter ligado para estender a “viagem” promovida pela tecnologias sensoriais.

Em seu livro Music in Hospitals (1946), Van de Wall, explica: “Vibrações de sons que atuam sobre e através do sistema nervoso dão impulsos em seqüência rítmica para os músculos, levando-os a se contraírem e a colocar nossos braços e mãos, pernas e pés em movimento. Por causa desta reação muscular automática, muitas pessoas fazem um pouco de movimento quando ouvem música; para que elas permaneçam imóveis seria necessária uma restrição muscular consciente.”

Todo ser humano funciona de acordo com um tempo rítmico. Isto está, em parte, relacionado ao ritmo do coração que trabalha entre 60 e 120 batidas por minuto. Uma pulsação normal varia entre 70 e 80 batidas por minuto. Alguns estudos indicam que as pessoas parecem trabalhar melhor quando se associam com outras que têm um “tempo” rítmico semelhante. Tendemos a reagir desfavoravelmente a pessoas que ou tenham uma pulsação muito rápida ou são muito lentas.

A música disco (também conhecida em inglês disco music ou, em francês, discothèque) é um gênero de música de dança cuja popularidade atingiu o pico em meados da década de 1970. Teve suas raízes nos clubes de dança voltados para negros, latino-americanos, gays e apreciadores de música psicodélica, além de outras comunidades na cidade de Nova York e Filadélfia durante os anos 1970. Mulheres abraçaram bem o estilo, sendo consideradas “divas”, vários grupos também foram populares na época. O estilo é conhecido por ser o primeiro abraçado por casas de dança, denominados “discotecas” e posteriormente apenas clubes.

As principais influências musicais incluem o funk, a música latina, psicodélica e a soul music. Arranjos de música clássica como acompanhamento são frequentes no estilo, criando um som cheio de colcheias e fusas mas ao mesmo tempo muito repetitivo. A introdução de arranjos orquestrais é uma herança do som da Motown. As linhas de baixo elétrico vindo do funk, e os cantores geralmente preferiam cantar em falsete. Na maioria das faixas de disco, cordas, metais, pianos elétricos e guitarras criam um som de fundo luxuriante. Ao contrário do rock, a guitarra é raramente usada em solos.

Dub: reggae eletrônico psicodélico

🇯🇲🇬🇧 Na verdade, a música eletrônica psicodélica surgiu na Jamaica entre os anos 60 e 70: Dub, sub-gênero de remix do Reggae, foi o criador (paralelamente ao Kraftwerk e Giorgio Moroder com o Eurodisco nos 70 na Europa) da música eletrônica em si; e consequentemente criador também do Hip-Hop/Rap: não pela sonoridade em si, ou pelo fato de Hip-Hop ser eletrônico, mas pela arte do DJ (Selectors) e do Rapper (Toaster).

Um baile soundsystem nos anos 60

Acid House: a fusão da Psicodelia com a Música Dance Eletrônica e, o surgimento das Raves

🇬🇧🇺🇸 O Acid house é um estilo da música eletrônica, sub-vertente da house. A Acid house teve sua primeira aparição no meio dos anos 80, com a decadência da disco music e com o boom da house music, num trabalho chamado “Acid Traxx”, feito pelos produtores de Chicago DJ Pierre, Adonis, Farley Jackmaster Funk e Phuture (esse último que levou nome da música que virou clássico). O Acid House é a mistura de elementos da house com o som pesado e graves fundos da Drum Machine Roland TR-808. O termo “acid” deriva da utilização do sintetizador de baixo Roland TB-303 que com seus efeitos de filtros reproduzem um “som ácido”.

The Hacienda, Manchester, 1984

Esse estilo era exclusivamente um fenômeno de Chicago, mas em 1987 virou febre no Reino Unido e na Europa Continental, sendo muito tocado por Djs. O smiley, um sorriso dentro de uma bola amarela, virou emblema dos adeptos do acid house e era estampado em camisas. Em 1989, devido principalmente ao álbum Technique do grupo New Order e a casa noturna do próprio New Order, The Haçienda, o estilo teve seu auge, chegando ao mainstream mundial. Este período começou o que alguns ainda chamam de ‘Segundo Verão do Amor’ — um movimento que leva o nome do famoso Verão do Amor nos EUA nos anos 60— creditado com uma redução do vandalismo no futebol: em vez de lutas, os fãs de futebol iam aos clubes e juntavam-se aos outros participantes sob efeito de algumas drogas.

“A coisa toda não foi apenas com base em drogas, isso é um equívoco”, disse Danny Rampling para o The Guardian, em novembro de 2017. ‘Sim, havia uma música nova e revolucionária, acid house, e com isso veio um estimulante, ecstasy. Eles meio que andaram de mãos dadas e foi uma experiência muito positiva e profunda para muitas pessoas. Mas para mim, principalmente, era sobre a música”, disse ele, em defesa de um dos principais períodos da cena da música eletrônica e sua forte conexão com a sociedade britânica.

No começo dos anos 90 o estilo perdeu a força, mas deixou uma grande influência na Cultura popular, principalmente na Dance Music, considerando o grande número de faixas de música eletrônica que fazem referência a acid house com o uso de seus sons, incluindo Trance, Goa Trance e Psytrance, breakbeat, big beat, techno, trip-hop e na própria house music.

Paralelamente ao Acid House, surgiu o Madchester, um movimento de rock alternativo de Manchester, Inglaterra, nos finais da década de oitenta e inícios da década de noventa. A música dance eletrônica misturou-se com as guitarras de rock e acrescentou aí uma mistura de funk, dando lugar ao nascimento do movimento “Madchester”, despreocupado, perfeito para dançar e combinando à perfeição os estilos descontraídos da época. Reunia camisetas de futebol, chapéus e calças boca de sino ou “baggy”, adjetivo com o qual etiquetaram a música que produziam, chamando-a música “baggy”.

Quase da noite para o dia, os primeiros grupos deste novo estilo musical converteram-se em estrelas, primeiro na cidade e depois em todo o Reino Unido. As duas bandas mais importantes, The Stone Roses e Happy Mondays, saltaram para o sucesso ao aparecerem no maior programa musical da televisão, o “Top of the Pops”. Assim como o Acid House e no mesmo The Haçienda, quase de forma tão rápida quanto havia aparecido, o Madchester voltou ao underground, abrindo caminho para um sub-gênero do Rock bem mais conhecido: o marcante Brit Pop.Trance Psicodélico: Cultura Psicodélica Underground

Trance Psicodélico na Índia e Israel e, o surgimento dos Festivais

🇮🇳🇮🇱 Psychedelic Trance é um gênero de música eletrônica, desenvolvido na virada dos anos 80 para 90 a partir do Goa Trance (de Goa, Índia). O Goa Trance foi bem desenvolvido nos anos 90 em Londres, e então difundido pela Europa. Foi desenvolvido simultaneamente em Israel. Por volta de 1996, o estilo Goa passou o seu pico. As melodias rebuscadas e estruturas complexas de origem indiana deram lugar a um estilo mais dançável, simples e rápido, com a inclusão de amostras áudio de vozes e efeitos nas músicas. Com essa mudança, deixou de ter sentido o nome Goa, o qual foi substituído por “Psicodélico”. Caracteriza-se por uma batida rápida, entre 132 e 200 batidas por minuto (bpm), além da batida forte de kick, num compasso 4x4, que algumas vezes difere da batida do techno por ter um alcance de freqüência um pouco mais alto além dos sons graves.

Raja Ram e Goa Gil, precursores do Psytrance

Sub-gêneros: Full On, Progressive e Dark.

Com influência do Techno europeu, surgiu o Prog (Progressive), e o Nitzhonot em Israel, que tornou-se o consolidado Full On (principal sonoridade de Psy Trance). Inspirado no Full On, com influência do Industrial, surge na Europa o Dark Trance.

  1. Full On (140 à 149 bpm),
    Sub-vertentes: Morning, Night e Groove.
  2. Progressive (130 à 139 bpm).
  3. Dark (150 à 170 bpm),
    Sub-vertentes: Hi-Tech, Psycore e Forest.

O trance psicodélico é freqüentemente tocado em festivais ao ar livre (longe de grandes centros urbanos), que podem durar vários dias, com a música tocando 24 horas por dia, mais conhecidos como raves. O movimento do Trance Psicodélico gira à volta de uma ligação estreita à cultura oriental e às religiões budista e hinduísta. Tal não é de estranhar, visto que já no seu gênese esta contracultura deriva da migração do movimento “hippie” para o Oriente. É natural também que, por se relacionar com rituais xamânicos, o ambiente criado à volta das festas e festivais leve os participantes a iniciar-se em experiências com substâncias alucinógenas, algo que “ajuda” a viagem ambicionada e fundada nas bases de Goa. Toda a decoração das festas e as próprias roupas de grande parte dos indivíduos que nelas participam têm como principal objectivo promover a experiência psicodélica, potencializá-la além do som na pista de dança.

Normalmente, as festas estruturam-se da seguinte forma: o som começa ao anoitecer, iniciando-se com um “Full On Hi-Tech” e passando rapidamente para o noturno. Atualmente e cada vez mais, as festas tendem a “chamar” mais projetos de “Dark Trance”, pois a noite é parte fulcral de toda a experiência e essa sonoridade é a que demonstra maior potencialidade para a experiência psicodélica. Ao amanhecer, as sonoridades variam entre o “Full On Nocturno” e o “Hi-Tech”, passando rapidamente para o “Morning” e, caso a festa tenha uma maior duração, o Trance Progressivo ao entardecer. Paralelamente a tudo isto, é usual encontrar-se um palco onde a música ambiente ou “Chill Out” “acolhe” as pessoas mais cansadas ou que necessitam de uma pausa da “viagem” da noite. Caso seja um festival e não uma festa com a duração de um dia, existem, comummente, outros palcos com sonoridades alternativas, que variam desde o “Techno Minimal” ao “Breakbeat”, passando por sonoridades mais Tribais e por vezes, até ligadas ao Dub e à música mais diversificada e específica do país da banda em questão.

Boom Festival

Quanto à sua localização, tendem a ser maioritariamente ao ar livre, muitas delas transmitidas por sítios na internet ou mesmo via oral. Esta escolha no local é muito importante, visto que um melhor local é, em si, uma maior ligação à natureza transmite um misticismo à experiência. Claro que, as organizações com menos posses econômicas ou nos países em que as legislação assim o obriga, organizam festas em bares, nunca esquecendo a decoração com cores fluorescentes e um espetáculo de luzes que pode variar entre algumas luzes negras a um conjunto enorme de iluminação, com lasers e luzes estroboscópicas. O que começou por ser um fenômeno local, transformou-se lentamente num movimento global, cada vez maior, de países que organizam festivais anualmente, muitas vezes dois ou mais em simultâneo, conferindo uma opção nos cartazes de artistas que apresentam.

Livro: Goa — 20 anos de Psychedelic Trance

Neo-Psicodelia: Pop-Rock, Indie-Mainstream

Rock psicodélico: a onda que não passou

🇦🇺🇺🇸 O novo rock psicodélico vem de longe. O estilo que marcou o fim dos anos 1960 e o início dos 1970 é renovado agora do outro lado do globo, na Austrália. Vêm de lá quatro das principais bandas do gênero: Tame Impala, Jagwar Ma, King Gizzards and the Lizard Wizard e Pond. Na esteira dos caras, muitas bandas indie surgiram ou ganharam força na neo-psicodelia — Unknown Mortal Orchestra, Temples, Thee Oh Sees e tantas outras. Até Miley Cyrus resolveu dar uma viajada com seu disco feito junto ao onipresente na cena, The Flaming Lips, em “Miley Cyrus & Her Dead Petz” (2015). Outros importantes e populares artistas: Khruangbin (mais instrumental), MGMT (talvez, o nome mais mainstream), Metronomy (um grupo mais pop psicodélico), Mac DeMarco (folk) e Animal Collective (os mais experimentais e na cena desde o início dos 2000). O Tame Impala, principal banda do revival do rock psicodélico é escoltada por Kevin Parker ao topo das paradas de sucesso desde a estreia de InnerSpeaker (2011). Desde então, ele conquistou os olhares do público e colaborou com artistas como Mark Ronson, Lady Gaga e Travis Scott. Em InnerSpeaker, Parker se baseou no som do passado. Pessoas familiarizadas com os Beatles, Pink Floyd, The Doors, entre outros, certamente apreciam as músicas produzidas pelo Tame Impala no álbum de estreia. Embora as letras e melodias sejam mais simples, aqui a banda retoma o rock psicodélico clássico. Na sequência, Lonerism (2013) trouxe um tema relevante no título, e as faixas expressam sentimentos de isolamento e solidão. Apesar de explorar mais o sintetizador e sons ambientes, este álbum mantém as raízes psicológicas do Tame Impala com os riffs de guitarra, a bateria sólida e muita reverberação. Ainda, ele traz o espírito progressivo e experimental do rock psicodélico. O álbum que então realmente levou o Tame Impala ao topo foi Currents (2015), uma obra-prima única, trazendo referências tanto ao techno pop e à disco quanto ao rock psicodélico. Linhas de baixo e vocais crescentes misturam-se com o cenário sintético da tracklist. E então, em The Slow Rush (2020), há um movimento de afastamento em relação às estruturas pop e refrões cativantes do Currents, e uma recordação das texturas opacas com as quais o Tame Impala se firmaram em InnerSpeaker e Lonerism. “É muito mais do que apenas um retorno sólido”, afirmou a banda. Portanto, o Tame Impala e seu produtor e líder Kevin Parker, sintetizaram enfim a Neo-Psicodelia.

🇬🇧 O Alternativo ou Neo-psicodelia é um sub-gênero que se originou no fim da década de 1970 como uma conseqüência da cena britânica do post-punk, vide algumas bandas como Echo & The Bunnymen e Siouxsie and the Banshees. Houve uma influência da cena Acid House, com o New Order (banda pós Joy Division) em "Technique" (1989) e o Primal Scream com sua obra-prima "Screamadelica" (1991). A Neo-psicodelia pode também incluir pop psicodélico e jangle pop. Uma onda britânica de rock alternativo no início de 1990 gerou os subgêneros dream pop e shoegazing ou shoe-gaze, com bandas como My Bloody Valetine e Cocteau Twins, e artistas mais recentes como The XX e Beach House. O sub-gênero na vertente mais dream pop aborda uma preocupação com as atmosferas sonoras e texturas ambientais, tanto quanto à melodia doce e romântica.

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