Não deixe o medo de jogar impedir que você jogue

Ame o que você faz, erre bastante e faça tudo com uma pitada de ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve.

Raphael Amorim
5 min readApr 12, 2015

Em setembro de 2013, eu tinha 17 anos e estava trabalhando para a uma empresa extremamente grande. Num lugar onde ninguém queria crescer, onde pessoas apenas queriam fazer a parte delas, por mais medíocre que fosse e ficar por isso mesmo.

Então fiquei extremamente decepcionado comigo mesmo, não havia me tornado desenvolvedor para ficar estagnado em uma vida inteira. Mesmo com um excelente salário, eu queria era aprender, fazer coisas novas. Nunca trabalhei pensando em dinheiro. Ganhar dinheiro é bem bacana, mas não é a minha principal motivação.

Acabei então por pedir demissão e fui procurar outro emprego, que no mínimo motivasse pessoas a usar tecnologias novas, ou algum tipo de treino, qualquer coisa. Apenas não dava para continuar parado fazendo a mesma coisa sempre.

Nessa busca por trabalho. Fiz uma entrevista e fui extremamente mal. Como falei no último artigo eu não tinha confiança nas coisas que sabia. E no final, foi inevitável não ter pego a vaga. Sai da entrevista motivado e estudei ainda mais.

Então em um dia pelo final de novembro de 2013, eu estava de bobeira no facebook e vi uma postagem do Bernard (@bernarddeluna) falando sobre uma vaga para backend usando PHP. Na hora eu achei legal, porque PHP foi minha primeira linguagem. Mas nunca me aprofundei. Porém, em segundos depois bateu um desanimo. Pensando em não ser bom o suficiente para preencher a vaga.

Sai do computador e fiquei pensando naquilo, fui tomar banho para dormir e veio a seguinte frase na minha cabeça:

"Não deixe o medo de jogar impedir que você jogue"

Frase que já tinha escutado várias vezes, mas na hora fez bastante sentido. Então comecei a escrever um email para o Bernard me aplicando para a vaga. Na hora escrevi um email formal, porém parei e pensei; "O que eu estou fazendo aqui? Fugi do formal, fugi do mundo estagnado das grandes corporações. Estou rebobinando a fita?". Apaguei o email inteiro e escrevi tudo de novo. O resultado foi esse:

Email "descolado" que enviei para poder pegar a vaga

Se eu tinha alguma ideia do que estava falando ali? Sim eu tinha, mas fui bem sincero, eu não sabia mais do que aquilo. Queria ir na entrevista, mesmo que fosse para tomar um belo não e aprender alguma coisa com isso.

Então Bernard passou meu perfil para o CTO da empresa, o Bruno (@dulcetti) e trocamos informações para marcar o bendito dia da entrevista.

Antes de ir na entrevista eu já havia feito alguns exercícios usando PHP para poder lembrar dos códigos que fazia quando tinha uns 15–16 anos. Cheguei na entrevista, o Bernard me atendeu super de boa. Estava usando chinelo e bermuda, o ambiente totalmente leve, não parecia um escritório normal. Na hora eu pensei; esse é o lugar certo.

Tentei ser eu mesmo durante toda entrevista, respondia as perguntas da forma mais sincera possível. Então o time técnico me deu um desafio para ver como eu saia. Resolvi a tarefa em questão de 2 para 5 min, mas para ser sincero isso só foi possível porque percebi que já havia uma outra estrutura no código que fazia praticamente a mesma coisa, então apenas desenvolvi a resposta baseada naquela estrutura.

Então o Bruno passou outro desafio, porém esse eu fiquei horas fazendo. Desafio que era para ter resolvido em minutos. Eu já não acreditava mais na vaga, só estava fazendo para poder aprender mesmo. Fiquei por volta de umas 3–4 horas por lá fazendo uma tarefa que nem era tão complexa. Eu pedi então para me deixarem resolvendo e aprendendo por lá. Não estava ligando se eles iam me chamar ou não, queria era saber como resolvia o bendito do problema. No final eu consegui ☺

Mas acho que de alguma forma, essa determinação da minha parte por aprender cativou eles. A vaga que era apenas pra senior dev, estendeu-se para um estagio.

Fiquei meses trabalhando lá, conheci muita gente fantástica. Trabalhei com uma das pessoas mais iluminadas que já conheci na vida, o Israel (@israelst). Me ensinou boas praticas do desenvolvimento e me deu uma direção para o open source.

Por causa desses incentivos do Israel fiquei extremamente motivado a ficar engajado na comunidade e ajudar o open source. E pintou uma oportunidade para palestrar e compartilhar algo. O problema era o medo, tinha medo de ser julgado erroneamente. De errar em algo, de falar besteira, de não ser bom o suficiente para isso.

"Não queira que a vida seja fácil, queira que você seja sempre melhor"

Aceitei então o desafio de ir em Porto Alegre palestrar meio receoso. Antes de ir eu treinei e me apresentei várias vezes para alguns amigos. Fui mal, extremamente mal. Mas essa negatividade ia ser boa futuramente.

Lá em PoA, no evento. Na hora que subi para pegar o microfone. Já não estava mais tão preocupado, tinha na cabeça a ideia de que ia ser um apresentação ruim. Então me apresentei sem querer saber de nada. Brinquei, nervoso, mas brinquei. Por fim, eu nem fui me dando conta que a sala da palestra estava lotando. No final da palestra que havia começado meio vazia, já não existia mais lugares para sentar e havia gente em pé da porta até os corredores.

O mais engraçado foi a reação do público ao ouvir essa frase

Com o tempo, percebi que se você supervalorizar qualquer coisa e se cobrar por isso. Você realmente nunca será bom o suficiente. Não importa o esforço que você coloque. Você nunca será bom para compensar a sua maldita ideia do que é o perfeito ou o suficiente. Claro que isso depende também do seu grau de humildade ou conhecimento.

E baseado nessa revelação, comecei a fazer e criar coisas. Mesmo sabendo que não estão perfeitas, elas estão lá. E servem para ajudar outras pessoas, pois é isso que me move atualmente.

Se tivesse continuado com aquela mentalidade de nunca ser bom o suficiente para fazer coisa x e ter medo de criar para compartilhar. Nunca teria o aceitado o desafio de "commitar" pelo menos um commit por dia ou em ajudar projetos open source. Ou as viagens que fiz para palestrar. Ou ter conhecido tantas pessoas incríveis em apenas um ano. Ou ter conhecido meus heróis da programação pessoalmente. Nunca teria feito boa parte das coisas que fiz até hoje e provavelmente eu estaria lá naquela mesma empresa. Fazendo a mesma coisa até hoje.

Consegui um ano inteirinho de contribuições, estou emocionado haha

Saia da sua zona de conforto, sempre.

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