Resenha Capitão Fantástico: a importância da liberdade de escolha.

Raquel B. K.
4 min readMay 3, 2022

O filme “Capitão Fantástico” de Matt Ross tem uma jogada de Marketing muito interessante ao fazer uso de um estilo heróico como título em tempos onde Marvel e DC tem ganhado um destaque muito grande. Apesar de o título remeter a algum grande super herói, a história do filme não gera em torno de um herói, mas nos leva a refletir sobre quem somos e qual o nosso lugar no mundo.

Essa obra cinematográfica tem objetivo realmente fantástico, já que busca “criticar” um modelo de vida capitalista, que é o que tem regido boa parte da sociedade atual. A partir de uma narrativa que mostra de forma curta diversos estilos de vida, sendo eles próximos da natureza, mas contendo conhecimentos e integrações com alguns conhecimentos modernos e uso de tecnologias da atualidade. Por mais que não estivessem inseridos na sociedade, eles estudavam sobre o mundo e suas transformações políticas, físicas e sociais.

Esse filme conta a história de um pai que vive com seus 6 filhos em uma floresta, logo no começo do filme é descoberto que a mãe não está morando com eles pois está lidando com problemas de saúde, sendo assim o responsável por ensinar e educar os filhos, é o pai. Após o falecimento da mesma, a família enfrenta um dilema, já que a família materna é considerada “rica” e vai contra os ideais da família que sua filha constituiu, além disso a vontade de fazer parte do funeral de sua esposa e para os filhos, mãe, faz com que eles tenham um choque de realidade ao se inserir de forma “bruta” na civilização, criando assim um real contraste de criação e conhecimento.

Como objetivo da família era ensinar os filhos sobre as diversas situações da sociedade e como elas influenciam diretamente nas escolhas e na consciência de cada um, os pais preferiram fortalecer os filhos em diversas áreas que são pouco exploradas na sociedade civil e capitalista, com isso os filhos desenvolvem habilidades brilhantes, como o senso crítico, gastronomia/culinária e caça. Para que as crianças desenvolvessem tais competências, foi necessário um ensino rígido e reservado, com isso, seus pais criaram para eles uma realidade que para muitos era fantasiosa e impossível.

Por mais que a vida longe da cidade e do sistema pudesse ser produtiva em alguns aspectos, não podemos nos esquecer do fato de que esse modelo de vida cria algumas barreiras para a responsabilidade, socialização e aprendizado em uma universidade, por exemplo. Ao longo do filme podemos ver também os mínimos e os máximos da privacidade e do poder de escolha. Quando falamos da responsabilidade, não podemos nos esquecer que ela é fundamental em qualquer momento da vida. Com a criação privada e com momentos de abuso de autoridade, vemos que as crianças e principalmente os adolescentes, não têm a liberdade e a possibilidade de realizar suas próprias escolhas.

Esse estilo de vida retira um pouco da autonomia fundamental para o desenvolvimento dos adolescente, visto que ele precisa tomar decisões para que aprenda de maneira prática que toda ação corresponde a uma reação, como nos explica Newton -apesar de trazer isso para a física, podemos utilizar tais conceitos quando falamos de humanidade, já que a física é a nossa vivência diária-, sem essa possibilidade de escolha, é comum ver que no futuro isso vai gerar uma dependência gigantesca dos pais.

Ao abordar a socialização, devemos levar em consideração a importância dela e como ela interfere na vida do indivíduo. A socialização tem por objetivo auxiliar na formação de personalidade e obter um conhecimento e vida social. Apesar de aprenderem sobre a sociedade e de formarem suas personalidades centradas nas da família, observa-se a falta do contato coletivo e da possibilidade de evoluírem em inúmeros aspectos.

Compreende-se que esse era o desejo da família, criar uma realidade onde o coletivo e o exterior não interfiram nas escolhas e personalidades de seus filhos. Naquele ambiente a tendência é imitar os pais e segui-los cegamente sem questionar. Porém observamos essa quebra com Ben, o filho mais velho. Por estar na adolescência, uma fase regada de dúvidas e necessidades de viver o diferente, ele quer descobrir outras coisas, ter sua autonomia e tentar entender como tudo funciona, mas por vontade de seu pai isso torna quase impossível. Logo, observa-se que não há a existência de um certo “equilíbrio social”, já que a não vivência exterior se torna a base para tudo. O equilíbrio social seria o ideal, ou seja nem muita exposição, nem muito isolamento.

Quando falamos do poder de escolha, partimos para a liberdade de escolha, algo que todos devemos ter. Nesse ponto, vemos uma contradição dentro da própria obra, mas como assim? Bem, se pararmos para pensar e retomar o escrito e o assistido, veremos que os pais tiveram toda liberdade e poder de escolha para viver em um local “excluído” da sociedade indo contra tudo e todos, mas os filhos não têm a possibilidade de escolher se querem viver ali ou não. Apesar de os filhos terem a necessidade de se submeter aos pais durante boa parte da vida, essa submissão não deve extrapolar os limites e retirar por completo esse poder de escolha que nós devemos ter e desenvolver ao longo da vida.

Por ser um filme com caráter crítico, ele gera confrontos e alguns desconfortos nos telespectadores. Ele põe o espectador em dúvida e o convida a refletir se aquela seria a situação ideal, se falta algo, se está errado, com isso pode ajudar, se isso não ajuda em nenhum momento.

Bem diferente de filmes de herói que apresenta uma história com foco em um que salva todos, “Capitão Fantástico” te leva a questionar, duvidar e refletir sobre quem somos, quem queremos ser e onde estamos inseridos. Será que queremos salvar todos? Será que queremos ser salvos? Como posso ser fantástico? Como posso ser Capitão da minha vida? Será que posso ser capitão da vida alheia? Muitas dúvidas e questionamentos surgem e cabe a nós sermos os guias de nossas escolhas para respondê-los ou não.

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Raquel B. K.
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Estudante da área da saúde, apaixonada por filmes e amante da saúde social.