O que você sabe sobre a água?
Dia 22 de Março, instituído como o dia mundial da Água após a Declaração dos Direitos da Água em 1992 pela ONU.
Segundo esse documento a água é um patrimônio do planeta e deveria ser valorizado como tal.
Apesar das notícias alarmantes sobre a falta de água, secas, volume morto e racionamento.
A água não vai acabar no nosso planeta. Acredito que todos nós, quando pequenos, aprendemos o ciclo da água, desde a evaporação, a chuva e as demais etapas desse sistema que sustenta a vida, se revisitarmos esses ensinamentos e enxergarmos o ciclo da água conectado com os demais sistemas ecológicos do planeta, veremos que a água somente muda de lugar ou forma. Seja no rio, no mar, nas geleiras, em aquíferos subterrâneos ou no esgoto, a quantidade de água no planeta continuará a mesma.
É um fato que o consumo vem aumentando nas últimas décadas e o desafio de captar, purificar e distribuir água potável tem se tornado cada vez mais difícil.
Porém, a falta de uma percepção sistemática do ciclo da água tem prejudicado ainda mais essa tarefa.
As matas ciliares e florestas são responsáveis por boa parte da transpiração e umidade que se concentra no ar, o que consequentemente aumenta o volume de chuvas e reabastece diversos sistemas hídricos, além disso, as árvores nativas conseguem armazenar no solo até 80% da água da chuva, permitindo que reservatórios subterrâneos sejam abastecidos, aumentando também o volume nos rios.
Analisando essas conexões entre os sistemas ecológicos, podemos dizer que é possível “plantar água”.
A Permacultura é sistema de planejamento de espaços humanos sustentáveis e propõe diversas técnicas de manejo dos recursos hídricos, o desenvolvimento de sistemas Agroflorestais, que combinam o cultivo de alimentos e a formação da floresta, permitem que esses ciclos hídricos se restabeleçam mantendo o equilíbrio ambiental e ainda fornecendo alimentos. Outros exemplos são a utilização das curvas de nível do terreno para favorecer o armazenamento de água, garantindo condições para o plantio, aquicultura e outros benefícios.
Portanto, existem diversas maneiras de solucionar as crises hídricas, o que tem faltado realmente não é água, mas sim essa percepção integrada dos sistemas ecológicos.
Analisando a atual situação da água, e o valor desse recurso, podemos notar que não temos sido muito atenciosos. A maioria dos problemas relacionados envolvem a infraestrutura deficitária para captação, tratamento e distribuição, além da falta de consciência no uso.
De acordo com a ONU, existem 783 milhões de pessoas no mundo que vivem sem água potável. Em 2025, a estimativa é que esse número chegue a 1,8 bilhão de pessoas. A disparidade no consumo da água, em diferentes países, também é algo a ser destacado, enquanto nos EUA as pessoas gastam, em média, 370 litros de água por dia, no Brasil, a média é de 165 Litros, já a realidade de diversos países africanos é de cerca de sete a dezenove litros.
Segundo a ONU, 110 litros por dia é o suficiente para atender as necessidades básicas de uma pessoa.
O Instituto Trata Brasil apresenta dados de que 37% da água coletada e tratada no Brasil perde-se devido à vazamentos, roubos e ligações clandestinas, falta de medição ou medições incorretas no consumo de água, resultando em um prejuízo de R$ 8 bilhões.
É impossível falar de água sem falar de saneamento básico, contaminar água potável com nossos dejetos é uma alternativa pouco inteligente para o uso desse recurso precioso, além disso, calcula-se que 80% das doenças que afetam as populações de países em desenvolvimento, têm sua transmissão através da má gestão da água e pela falta de saneamento básico. Tais doenças provocam, em média, 25 mil mortes por dia, sendo 60% delas de crianças.
No Brasil, somente 42,6% dos esgotos do país são tratados, além disso, somente 50,3% da população tem acesso à infraestrutura para coleta de esgoto, 3,5 milhões de brasileiros despejam-nos irregularmente contribuindo para a poluição de rios e oceanos.
Um grande problema ocorre devido à falta de consciência na destinação do lixo, boa parte vai parar nos oceanos e já existem registros de ilhas de plástico maiores que o estado de São Paulo.
O plástico degrada-se no oceano, formando micropartículas nas quais estão presentes diversas substâncias tóxicas, que entram na cadeia alimentar quando são ingeridas por microrganismos e ficam acumuladas, esses organismos são a base da alimentação de outros seres marinhos e assim sucessivamente, através do processo de bioacumulação, essa substâncias tóxicas chegam até nós quando comemos alimentos provenientes do mar. Prevê-se que em 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos.
Outra disparidade que chama a atenção envolve o uso e a finalidade que é dada a esse recurso, estima-se que 70% da utilização da água potável do mundo seja destinada para a Agricultura, a indústria representa 22% e o uso residencial contribui em 8%.
A política de uso agrícola da água no Brasil varia de acordo com a região, mas em muitos casos há isenção dos custos da água aos agricultores. Ainda, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), não há estimativas oficiais do desperdício de água no setor, porém a organização SOS Mata Atlântica traz estimativas que dizem que o desperdício pode chegar à 70%.
Outro setor responsável por consumo expressivo de água é a pecuária, se calcularmos a quantidade de água utilizada para produzir 1 quilo de carne, chegaremos ao impressionante número de 15.415 litros utilizados.
Os dados são da organização Water Footprint Network, uma fundação que busca resolver as crises hídricas no mundo, propondo maneiras mais justas e inteligentes para o uso da água.
A organização desenvolveu um teste no qual você pode calcular a quantidade de água consumida por ano, incluindo a utilizada na produção dos alimentos, produtos e bens que consumimos, é o cálculo da pegada hídrica. Acesse o site (em inglês), calcule sua pegada e aprimore seus hábitos de utilização da água!
Nesse dia 22, valorize cada gota que chega até você, Água é Vida!
Gustavo Ritzmann — Cofundador da Rastro, inspirado por despertar a essência da sustentabilidade conectando diferentes conceitos para criar uma visão integral do mundo.
