Não busque “amar o que faz”. Busque fazer valer a pena.
Trabalho não é sacrifício. Mas o sacrifício faz parte do trabalho.
“Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida.” — Confúcio.
Romântico… mas na prática não é bem assim, Confúcio.
Essa onda de “Faça o que você ama e não terá que trabalhar nunca mais” nunca funcionou bem para mim — por mais que tenha acreditado nela por um tempo. E percebo, cada dia mais, que essa teoria de fato não funciona para ninguém.
Trabalho é trabalho. Você pode amar ou odiar o que faz, mas ele continuará te exigindo executar tarefas chatas e te colocando em situações mais chatas ainda.
Trabalho não é sacrifício. Mas o sacrifício faz parte do trabalho — não só do trabalho, o sacrifício faz parte da vida. E você vai se encontrar com ele semanalmente, seja qual for o seu trampo.
A única possibilidade de fugir disso seria contratar/arrumar alguém para fazer as partes chatas para você.
O problema é: quando você faz (ou cogita fazer) isso, você também faz pensa na possibilidade da outra pessoa também achar essa tarefa um saco?
Poisé. Terceirizar o sofrimento talvez faça menos sentido ainda. Não? Afinal de contas, se você está em crise por fazer um trabalho chato e sem sentido porque seu chefe manda, porque diabos você estaria fazendo o mesmo papel com uma outra pessoa? — pense nisso na próxima vez que for reclamar da pessoa que lava seus pratos.
Motivar-se pelo resultado, pelo processo ou pelo significado.
Não, essa conversa toda sobre aprender a lidar com o sacrifício não é uma filosofia Rocky Balboa. Não tem nada de “No pain, no gain” (ainda bem). A grande diferença é que a filosofia maromba coloca o resultado do trabalho acima do significado do trabalho. E, se você investigar bem, talvez o problema esteja aí.
Sob esse ponto de vista, existem basicamente 3 formas de se motivar pelo trabalho:
Você pode se motivar pelos resultados ou se motivar pelo processo do que você faz:
O problema é: tanto as tarefas do processo quanto os resultados são frágeis. Você não só receberá tarefas agradáveis no dia-à-dia. E você também não terá sempre resultados positivos.
E essa é talvez a maior fonte de frustração que enfrentamos com o trabalho: acreditamos que o sentido do trabalho está em fazer o que amamos; ou receber os resultados que nos agradam.
Aí entramos em crise. Colocamos em xeque: o sentido de fazer o que fazemos; a nossa credibilidade para fazer o que fazemos; e até mesmo o nosso talento para fazer o que fazemos — quando na verdade somos super talentosos naquilo. Mas o problema na verdade é outro.
Você pode se motivar pelo significado que você dá para o que faz:
Talvez a nossa verdadeira missão seja aprender a “significar” o trabalho, mais do que aprender a “amar” as tarefas e resultados do trabalho.
Significar é dar/encontrar uma causa para o que você faz. Essa causa pode ser um propósito ideológico; pode ser uma oportunidade imperdível; ou pode ser a necessidade de ganhar uma grana justa.
E se chegar ao ponto de não existir significado nenhum: aí tudo bem entrar em crise — c’est la vie.
Não busque amar tudo o que faz. Busque fazer algo que valha a pena.
“Amar” sempre trás uma aura de unicórnios & arco-íris para o processo e para os resultados do trabalho. Mas, no fundo, nós sabemos que isso nada mais é do que uma forma de mascarar o sofrimento e sacrifício que acompanham o dia-à-dia de qualquer trampo — alô facebook/instagram!
Significar o trabalho não vai fazer o sacrifício diminuir. Mas fica mais fácil conviver com o sacrifício quando você enxerga e entende o porquê dele.
O valor de se encontrar um significado para fazer algo e fazer algo que faça sentido é exatamente esse: se o trabalho faz sentido, o sacrifício fará sentido também — seja a tarefa/resultado da semana apaixonante ou não.
Não busque amar tudo o que faz. Busque um sentido que faça valer a pena fazer o que você faz.