O Papel do Pensamento Sistêmico na Evolução da Inteligência Emocional

Thiago Raydan
5 min readMar 30, 2024

“Você raramente melhora uma organização como um todo melhorando o desempenho de uma ou mais de suas partes”

- Russell L. Ackoff, em Systems Thinking for Curious Managers

Ampliando Horizontes:

Nos últimos anos, a inteligência emocional (IE) emergiu como uma competência essencial tanto na vida pessoal quanto no ambiente corporativo. Capacidades como autoconhecimento, autogestão, empatia e habilidades sociais não apenas aprimoram a forma como interagimos uns com os outros, mas também influenciam na nossa liderança, capacidade analítica e clima organizacional.

No entanto, à medida que o mundo se torna cada vez mais complexo e interconectado, surge a necessidade de evoluirmos para uma compreensão mais ampla de nossas interações e impactos: um chamado para o pensamento sistêmico.

O pensamento sistêmico, em sua essência, é a prática de compreender sistemas — conjuntos de elementos interconectados que funcionam como um todo. Esta abordagem nos permite ver além das partes isoladas e apreciar as complexas cadeias de causa e efeito e as interações que moldam nossos ambientes de vida e trabalho.

Mas, qual é a relação entre pensamento sistêmico e inteligência emocional? Como o primeiro pode ampliar e enriquecer nossa compreensão da IE?

Da Inteligência Emocional ao Pensamento Sistêmico

“Para todo problema complexo existe uma resposta que é clara, simples e errada.”

- H. L. Mencken

A inteligência emocional nos ajuda a navegar no terreno complexo de nossas emoções e das emoções dos outros. Nos capacita a reconhecer, entender e gerir sentimentos de maneira eficaz, tomando decisões mais conscientes e empáticas.

No entanto, a IE tem um alcance que, embora profundo, é frequentemente confinado aos limites da experiência individual e das interações imediatas.

Em outras palavras, a perspectiva individual é simplista e enviesada.

Olhar para uma parte do problema e diagnosticar o todo pode ser um erro de viés.

Ao adotarmos uma perspectiva sistêmica, começamos a reconhecer que cada ação individual reverbera através de uma rede de relações e estruturas, influenciando e sendo influenciada por um ecossistema mais amplo. Esse reconhecimento nos habilita a ver não apenas as emoções em jogo, mas também como essas emoções e ações estão inseridas em contextos maiores que moldam e são moldados por elas.

Hugh Dubberly’s presentation at AIGA SF Compostmodern.

Ampliando a Visão da Inteligência Emocional

O pensamento sistêmico enriquece a inteligência emocional ao nos fornecer as ferramentas para:

  1. Compreender a Interconexão: Reconhecer como nossas emoções e ações influenciam o ambiente ao nosso redor e vice-versa, promovendo uma abordagem menos individualista à IE.
  2. Identificar Padrões: Ver além dos eventos isolados para identificar padrões de comportamento e emoção, tanto em nós mesmos quanto nos sistemas dos quais fazemos parte.
  3. Promover Mudanças Sustentáveis: Usar nossa compreensão dos sistemas para efetuar mudanças positivas, não apenas em nível individual, mas também em nível sistêmico, impactando positivamente as organizações e comunidades.

Rumo a uma Competência Integrada

Ao integrar o pensamento sistêmico com a inteligência emocional, atravessamos a noção de IE como uma competência puramente individual e abrimos caminho para uma nova dimensão de compreensão e ação, onde somos capazes de lidar não apenas com as complexidades de nossas próprias emoções e das interações interpessoais, mas também com as complexidades dos sistemas dentro dos quais nossas vidas estão entrelaçadas.

Esse dobradinha entre IE e pensamento sistêmico nos prepara melhor para os desafios do século XXI, permitindo-nos liderar, inovar e prosperar em um mundo cada vez mais interconectado e mutável.

Hugh Dubberly’s presentation at AIGA SF Compostmodern.

Conclusão: A Sabedoria de Conectar os Pontos

Na jornada de nossa evolução pessoal e profissional, a transição da inteligência emocional para o pensamento sistêmico nos lembra de uma verdade fundamental: somos mais do que as somas de nossas partes isoladas.

Ao abraçarmos tanto a nossa capacidade de sentir e entender as emoções quanto a habilidade de perceber as complexas teias de relações em que estamos inseridos, somos convidados a uma dança entre o íntimo e o sistêmico.

A moral da história, portanto, transcende a simples aquisição de competências individuais. Reside na compreensão de que nosso maior potencial humano é alcançado não apenas ao olharmos para dentro, em busca de autoconhecimento e autogestão emocional, mas também ao expandirmos nossa visão para fora, reconhecendo nossa parte no todo maior.

Ao conectar os pontos entre o individual e o coletivo, entre o emocional e o sistêmico, descobrimos nosso verdadeiro lugar no mundo — um lugar onde cada ação nossa ressoa no tecido da realidade organizacional, contribuindo para um futuro mais coeso, sustentável e emocionalmente inteligente.

Percebemos que nossa jornada precisa ser guiada não só pela razão ou pelas emoções, mas também pela visão ampla que reconhece e celebra a nossa interdependência.

No final das contas, a sabedoria verdadeira reside em saber que, ao evoluirmos em nosso entendimento de nós mesmos e dos sistemas dos quais fazemos parte, estamos de fato tecendo a malha de um amanhã mais consciente de nossas ações e de seus impactos.

Fonte usada para estudo e curadoria de conteúdo:

📚 Livro “Systems Intelligence in Leadership and Everyday Life” de Raimo P. Hämäläinen e Esa Saarinen

Isso é um diário de bordo. Se não fez sentido para ti: não tem problema. [logbook ~ 30/03/24]

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Thiago Raydan

Escrevo sobre educação, autoconhecimento e desenvolvimento humano.