‘FAZER O CORONA É BATER AS ASAS E TER GOSTINHO DA TROCA’

Regiane Bochichi
4 min readSep 3, 2021

--

https://clubederealizadores.com/wp-admin. Para muitos, esse link na internet não leva a lugar nenhum e é apenas uma sopa de letrinha. Para mim, era a porta que me transportava para o maravilhoso mundo do jornalismo.

E o jornalismo pode ter saído da minha vida, mas não saiu de mim. A profissão que abracei e me trouxe inúmeras alegrias, também, me expeliu. Mas como uma boa amante de malandra, mesmo assim não deixei de amá-la. Por isso, vibro quando vejo ressurgir a sua importância no meio de tempos tão sombrios. Se por um lado, sentia inveja dos meus colegas que estavam na linha de frente, do outro, tinha um espaço livre para escrever, prestar serviço, contar estórias.

Do ponto de vista macro, o jornalismo teve um papel vital de informar à população sobre uma doença nova; educar para evitar ao máximo o nível de contato; denunciar a falta de preparo e a corrupção das autoridades; emocionar com relatos das famílias atingidas; alimentar esperanças com tratamentos e vacinas; cultivar a empatia; dar a dimensão global do problema nos fazendo sentir menos sozinho e humanos.

Já no meu universo particular, uma pontada de dor aparecia de não estar em um grande veículo, apurando, produzindo, escrevendo, compartilhando, opinando. Não era um sentimento novo. Acontece toda a vez que há um grande evento e não estou lá. Nas próximas eleições, por exemplo, tenho certeza que voltará.

Sendo da geração X, mesmo não sendo uma nativa, sou uma early adopter de tecnologia. Comecei a trabalhar com internet em 1999 para criar a NetEstado, primeiro portal do jornal “O Estado de São Paulo” e logo em seguida, fazer o lançamento da AOL no Brasil. Portanto, ela não me assusta. Só que, mesmo hoje, tendo essa enorme facilidade de todos sermos criadores de conteúdos e nossos próprios canais, ainda, devo admitir que, ainda, tenho dificuldades de um voo solo e saudades da boa e velha redação.

Fazer parte do projeto Especial Corona do Clube dos Realizadores foi uma forma de começar a bater as asas e também ter o gostinho da troca com as minhas colegas que embarcaram nesta à convite de Vê Machado.

Me agarrei com todas as minhas forças e saí em desabalada corrida na produção de matérias. Tanto que sou responsável por cerca de 2/3 do material publicado. Na divisão das editorias, coube a mim a Resenhas para falar dos eventos on-line e a CoronaFlix, uma curadoria de filmes, séries, palestras oferecidas na internet.

As lives que nasceram timidamente virou uma febre que mal tinha tempo e espaço de noticiar todas. Fazia listas com as 10 melhores e uma porção delas ficavam de fora. Assim, como o jornalismo, a cultura mostrou a sua força e vitalidade. Se a grande mídia se tornou um farol, os eventos culturais foram verdadeiros fogos de artíficios no meio do caos.

Uma recente pesquisa do Itaú Cultural e do Datafolha apontou que para 67% o acesso à cultura ficou mais democrático nos últimos meses, por conta da pandemia, graças à explosão de ofertas de atrações pela internet e 54% dos entrevistados disseram que se sentiram menos sós com esse acesso aos eventos culturais on line. E das atividades realizadas, a música sai na frente: 84% dos entrevistados relataram ouvir canções pela internet; 73% assistem a filmes e séries; 60% veem shows. Ou seja, meus textos e posts atendiam a uma demanda para ajudar os usuários em suas escolhas.

Inumeráveis e outras descobertas

Além disso, com total liberdade na escolha dos temas, escrevia para as nossas outras editorias como sobre o tocante trabalho do site Inumeráveis — um memorial para as vítimas da Covid 19; o retorno dos brasileiros do exterior; a vida em países como Portugal e Qatar que enfrentavam com mais tranquilidade a crise sanitária; o sufoco dos microempresários; a criatividade de líderes comunitários para ajudar na sanitização das favelas; a atuação da indústria pornográfica; o preconceito vivido pelas mais velhos que se tornaram grupo de risco e para finalizar, como último assunto, fui investigar se a onda de generosidade ainda vai permanecer.

Aliás, falando em generosidade, vale ressaltar o trabalho de mentoria que realizamos com jovens jornalistas que nos rendeu sete matérias no especial Foca Realizador e a atitude do grupo que participou desta aventura.

Sendo assim, neste caso, acredito que sim, continuaremos generosos. Encontrei aqui pessoas que gostam de compartilhar o que têm, o que sabem, o que aprendem. Pessoas que entendem as necessidades do outro, como a minha de ter usado este especial com uma tábua de salvação. Pessoas que acrescentam algo ao próximo.

Foi o que fizemos por nós mesmas e por todos os nossos leitores que por um breve momento partilharam conosco sua atenção e tempo. Muito obrigada!

--

--

Regiane Bochichi

Profissional de comunicação e transmídia com sólida experiência em ações de marketing e conteúdo jornalístico, adquirida em mais de 30 anos de atuação em empres