“Mas você está viajando sozinho?”

Dicas para quem precisa ou quer viajar por conta própria

Rodrigo Maués
10 min readNov 5, 2015

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Já faz alguns anos desde que comecei a me aventurar pelo mundo, não apenas quando preciso a trabalho como também sempre que posso a lazer, pois amo viajar! E algo que não mudou até hoje, apesar de já estar mais velho, é ouvir a pergunta que estampa o título deste post, especialmente em viagens internacionais.

E, quando minha resposta é “sim”, em geral a atitude de quem perguntou é no mínimo de espanto, o qual é seguido ou não de congratulações por minha bravura ou mais perguntas sobre o porquê de eu estar fazendo isso ou como irei me virar em certas situações.

O curioso é que já escutei esta pergunta e testemunhei estas reações de tudo quanto é tipo de gente: velhas, jovens, do mesmo país ou não, viajadas ou não. E, naturalmente, a maioria delas sequer tentou viajar sozinha antes. Preferiu esperar quando algum parceiro, familiar ou amigo pudesse participar.

Mas a verdade é que eu não deveria receber nenhum parabéns por minha “coragem”, pois viajar sozinho não é nenhum bicho de sete cabeças como muitos imaginam. E depois de ouvir novamente várias vezes esta pergunta na minha última viagem internacional sozinho (na qual fui ao México), decidi responder coletivamente através deste texto as dúvidas que naturalmente seguem depois de eu confirmar que estou viajando sim sozinho. Começando por:

“Mas e se você se machucar ou ficar doente?”

Antes de mais nada, faça um seguro de viagem. Meu pai me deixa esquecer o passaporte mas não me deixa esquecer de fazer o seguro. Eles não são caros, cobrem muita coisa (que vai além de saúde) e com sorte você jamais terá que usá-los assim como eu até então nunca tive. Eles são importantes mesmo quando se viaja acompanhado, mas muito mais valiosos quando se está sozinho. Nem todo país tem sistema de saúde público, sabia? Cuidado com o barato que depois pode lhe sair caro!

Fora isso, sempre leve alguns remédios básicos. Melhor do que eu nomear alguns aqui, é você perguntar da sua mãe, mulher ou médico. Eles provavelmente saberão dizer melhor o que você tem que levar. É sempre mais fácil levar remédios conhecidos aqui do que ter que comprar outros no país que você estiver (especialmente se você não dominar o idioma).

“Mas e se a mala extraviar? E se perder algum documento importante durante a viagem?”

Minha mala já extraviou uma única vez e foi logo na minha segunda viagem internacional. E pense em uma situação chata. Mas, além de manter a calma e se conformar que de fato isto aconteceu, o que você deve fazer sempre é:

  1. Leve uma roupa extra na sua bagagem de mão. Não tem uma bagagem de mão? Deveria! Sempre! Uma camisa, roupa de baixo e meia são o básico e garantem que você terá outra coisa para vestir enquanto sua mala não aparece. Claro que dependendo do tamanho da sua bagagem de mão e do clima do país que você vai vale a pena colocar mais roupas ou roupas para o frio ou calor.
  2. Coloque os itens mais importantes sempre na bagagem de mão. Dinheiro? Aparelhos eletrônicos? Documentos? Jamais na bagagem que você vai despachar! E não me venha de novo com esse papo de que você não tem uma bagagem de mão. Tenha!
  3. Tire fotos da sua mala. Se a mala extraviar sempre será mais fácil mostrar às autoridades qual ela é através de uma foto do que tentar descrever (especialmente se você possui uma bagagem padrão preta de rodinhas que nem metade do mundo). Isso também serve para os casos da mala ser danificada, pois você pode mostrar qual era o estado dela antes de despachar.

A última dica também vale pros documentos: tire foto deles com seu celular e até mesmo tire xérox e tenha uma cópia física deles. Passagens, confirmações de hospedagem, cartões, carteira de vacinação e passaporte. Sempre é bom ter uma cópia extra a disposição caso você perca algum deles ou caso você prefira usar a cópia que o original para andar por aí (dica valiosa para o passaporte). Quer ser mais paranóico? Tenha estas fotos e cópias salvas em algum armazenamento online, assim você não terá risco de perder ou não poder mostrar em determinada situação só porque danificou o celular ou porque está sem bateria.

“Mas e como você vai tirar fotos suas?”

Esta é bem simples: peça de alguém na rua. Com medo de pedir de alguém que possa sair correndo com sua câmera depois? Peça de alguém em família. Com medo de pedir e ser rejeitado? Peça de uma mulher (elas são mais prestativas) ou de um homem se ele estiver em casal (ele vai querer parecer educado na frente da mulher). Com medo de que as fotos sairão péssimas? Não peça de alguém com pressa e peça de alguém que ou tem uma câmera profissional a tira colo ou que é asiático (é sério). As chances da pessoa de fato se importar em tirar uma boa foto pra você aumentam bem mais! Logo se você pedir para uma mulher asiática em família com uma câmera profissional a tira colo tirar suas fotos, provavelmente você não terá com o que se preocupar!

Não quer ficar sempre pedindo de alguém ou já está frustrado que não estão tirando as fotos como você queria? Selfie. Pau de selfie. GoPro. É o jeito.

“Mas e se você se perder?”

Eu particularmente sempre me perco durante minhas viagens. Na realidade, não digo que me perco, digo que estou apenas “explorando”. Mas termos a parte, seu melhor amigo pra se localizar sempre será um bom mapa.

O mapa pode ser tanto um físico conseguido no hotel (alguns são bem completos e é sempre legal anotar neles e guardar eles depois que acaba a viagem) quanto um digital (Google Maps, por exemplo). Na minha última viagem o mapa digital foi o que mais utilizei, mesmo sem ter acesso à internet boa parte do tempo. Basta baixar o mapa offline da cidade que você está, salvar nele os pontos de interesse ou importantes (como seu hotel) e usar o GPS que funciona que é uma maravilha.

Porém, mesmo com um bom mapa, assim como com os documentos, é bom você ter uma cópia física e digital dos endereços de onde você vai se hospedar, dos contatos das pessoas que você conhece no local ou dos contatos de emergência no seu País (como familiares e amigos próximos). Não deixe apenas no celular porque se você o perder ou ele descarregar você não conseguirá fazer muita coisa (quase ninguém mais lembra números de cabeça hoje em dia). Assim, se você não conseguir se localizar sozinho, tente ligar ou pedir ajuda de alguém com base nos endereços e telefones que você tem a mão. E não se desespere, você só está “explorando”.

“Mas e se não souber o que visitar ou fazer?”

Essa é a pergunta feita principalmente por aqueles que gostam que o parceiro de viagem planeje tudo por eles. Mas esta também é fácil de resolver: pesquise online ou peça ajuda no hotel ou albergue em que você estiver hospedado.

Quanto mais turístico o local, maior a quantidade de dicas que você vai achar em sites como TripAdvisor, e maior o número de tours já prontos para você contratar online ou na recepção do seu hotel. Mas é sempre bom pesquisar e perguntar antes de quem já visitou o lugar, pois muitas vezes dá pra visitar vários locais com maior liberdade e gastanto menos sem pagar por tours fechados. E mais: dá pra visitar locais não tão turísticos que são às vezes muito mais legais que os convencionais.

“Mas e se você se sentir solitário?”

Claro, em geral é muito bom ter companhia. Eu particularmente adoro socializar. E de fato existem alguns passeios e tours que são mais divertidos ou fazem mais sentido fazer se acompanhados de um amigo ou parceiro amoroso. E também quando se já tem companhia garantida fica até mais fácil de reservar passeios online (pois muitos exigem ao menos 2 pessoas para reservar). Porém, companhia se acha mais fácil do que se imagina (na última viagem, até no ônibus eu conheci gente para sair!). E viajar sozinho ainda permite que você conheça gente de fato nova, pois quando se viaja em dupla ou grupo vocês acabam socializando mais apenas entre vocês mesmos. Então se conhecer gente nova é o que você procura, aqui vão algumas dicas:

  1. Fique hospedado em albergues. Além de serem em geral mais baratos que hotéis, as chances de você encontrar outras pessoas que também querem conhecer gente nova é muito maior. E você não precisa sequer ficar em dormitórios se não quiser, pois mesmo em quartos individuais você pode conhecer pessoas depois nos bares ou áreas comunais que em geral os albergues possuem. E não se engane: tem muito albergue de qualidade e atendimento melhor que muito hotel.
  2. Tente se enturmar durante tours fechados. Se você avistar durante algum passeio outra pessoa sozinha ou até mesmo um grupo que pareça sociável, tente puxar assunto e quem sabe você não garante uma companhia pelo menos até o final do dia (e com sorte por mais tempo). Uma boa forma de quebrar o gelo é pedir pra outra pessoa tirar uma foto para você e logo em seguida oferecer para tirar uma para ela também.
  3. Procure pessoas em sites de viagem ou grupos no Facebook. Existem sempre pessoas anunciando quando irão viajar sozinhas para determinados roteiros e você pode anunciar também ou responder a estas propostas. Esta é uma boa maneira de garantir companhia antes mesmo de começar sua viagem. E essa opção é boa também se você não se considera tão sociável, pois provavelmente vai achar mais fácil iniciar diálogos com desconhecidos online do que pessoalmente.

Claro, esses são apenas alguns modos que já usei ou que já vi amigos usarem e funcionarem bem. Porém nenhum deles é garantido. E, mesmo que funcione, não quer dizer que a companhia vai durar mais que um ou alguns dias. Mas não tema, fazer as coisas sozinho tem suas vantagens, e eu destaco três:

  1. Você consegue ter tempo para refletir. Às vezes é bom ter esse tempo de reflexão. E durante as viagens você consegue fazer isso admirando paisagens ou a cultura local, o que é bem melhor e diferente do que se trancar em casa sozinho (você vai ou dormir ou só ver Netflix ao invés de refletir que eu sei).
  2. O que acontece na viagem de fato fica na viagem (se você quiser). Seja algum mico, problema ou o que for, quando você está viajando sozinho ninguém te conhece. Então, com o perdão da expressão, não importa muito a merda que você acabe fazendo (que não seja crime, lógico). Relaxe, se quiser correr pelado na praia ou viver alguma outra experiência louca ou diferente assim, faça (repetindo: ao não ser que seja crime!). Provavelmente ninguém vai ficar sabendo! Ninguém (que te conheça) vai poder te julgar! E ninguém vai contar (pelo menos não para alguém que você conheça).
  3. Você não deve satisfação a ninguém. Esta é a maior vantagem de se viajar sozinho. Acordou tarde? Quis fazer um passeio diferente ou caro? Não quis fazer nada durante o dia todo? Decidiu ficar mais tempo em uma cidade ou viajar pra outra que não estava antes nos seus planos? Não importa. Você realmente não deve satisfação a ninguém! Você não tem ninguém que vai te brigar ou te cobrar, ou com quem você vai ter que negociar como aproveitar determinado dia da viagem. Isso, meus caros leitores, é a mais pura independência!

Agora só falta você viajar sozinho!

Antes de concluir este texto é importante frisar que esta lista de perguntas não é exaustiva e as respostas não são verdades absolutas: são perguntas e respostas baseadas nas minhas próprias experiências e são coisas que de fato faço nas minhas viagens sozinho e que funcionaram bem até então. Eventualmente posso atualizar e melhorar esse post ou escrever um novo. Enquanto isso, se você, leitor, tiver outras dúvidas ou maiores questionamentos sobre alguma das dicas que eu descrevi, por favor comente pois vou adorar responder. Se tiver outras dicas, comente também, assim aprendo novas táticas para futuras viagens.

Espero que você após ler este post decida também viajar sozinho caso não o tenha feito ainda. Viajar com amigos, parceiro amoroso ou família é ótimo, e sempre que posso eu o faço também. Assim como também em algumas viagens parte delas estou sozinho, parte estou acompanhado. Mas viajar sozinho em algum ponto é muito bom pois te deixa mais preparado e você cresce muito mais, pois não fica dependente de outros pra conseguir se virar. E apesar de ter dado várias dicas, não é difícil mesmo fazer tudo isso. Basta você tentar que com o tempo você aprende também e desenvolve suas próprias técnicas. Porque seja sozinho ou acompanhado, o importante mesmo, é viajar!

Pirâmides de Teotihuacan no México

Curiosidades

  1. Minha primeira viagem internacional foi aos 20 anos de idade, e logo na primeira acabei tendo que ir sozinho.
  2. Já passei mal em algumas viagens e os remédios básicos foram essenciais. Precisei inclusive na minha viagem mais recente. Então não os subestime. Sua mãe agradece.
  3. Não é estereótipo: de fato as melhores fotos que tiraram pra mim foram asiáticos que tiraram. Porém não tente explicar pra eles como se usa a sua câmera ou celular pra tirar as fotos porque alguns podem se ofender (já aconteceu comigo duas vezes!).
  4. Eu gosto de me desconectar um pouco quando viajo internacionalmente. Logo nunca compro chip local para poder fazer ligações ou acessar a internet na rua. Mas se você quiser alguns países às vezes tem planos que valem a pena.
  5. Posso ou não já ter corrido pelado na praia durante alguma viagem. Ou este foi apenas um exemplo aleatório que dei. Fica o mistério no ar. 👀
  6. Este post foi escrito enquanto eu estava no avião para São Paulo voltando da minha viagem de 20 dias no México.

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