Com atitudes que vão do céu ao inferno, talento de Sophie Charlotte destaca Eliana em Renascer
Em Renascer, novela das 9 da Globo, uma das personagens mais icônicas da galeria de personagens originais, Eliana, vivida em 1993 por Patrícia Pillar e agora representada por Sophie Charlotte, também vem se destacando na versão atual. Sem filtro, a personagem voltou com mais nuances, carregando consigo, de forma melhor trabalhada, a dualidade entre o bem e o mal. Numa instabilidade constante de emoções pelas quais transita a personagem, a atriz, no remake, faz jus à intérprete original e dribla muito bem as nuances da vilã, capitaneada por um texto que enaltece as suas qualidades. Muito embora seja antagonista da novela, Eliana se limita a perseguir personagens que estejam naquela que ela põe como sua linha de frente. Nisso, ela passa por cima de todos aqueles que estejam atrapalhando seus planos. Vivendo todo o tempo no Rio de Janeiro, se aventurou pelo Sul da Bahia para alcançar seus interesses e lá, em uma sórdida relação de amor e ódio, encontrou Damião (Xamã), uma de suas grandes paixões.
São as paixões que movem a vilã. A paixão por Damião, a paixão por seus interesses, a paixão pelo dinheiro e a paixão, quase obsessiva, que ela desenvolve pelas terras do ex-marido, Venâncio (Rodrigo Simas), de quem ela tornou-se viúva, em uma emboscada armada por Egídio (Vladimir Brichta), com quem ela vem a se envolver, novamente guiada por um interesse. Nos últimos capítulos, a personagem demonstrou seu lado mais pérfido ao expor a transexualidade de Buba (Gabriela Medeiros). A atitude de Eliana, condenável, não teve panos quentes do roteiro, que utilizou de Kika (Juliane Araújo) e de Sandra (Giullia Buscacio), para alertar que a violação dessa informação era um crime: transfobia.
Contudo, não foi a isso que a personagem ficou limitada. A violação, indigna e absurda, logicamente, movimentou o roteiro, no que concerne ao propósito de uma vilã: movimentar a narrativa para satisfazer aos seus ideais, como se fossem peças de um jogo. Nesse movimento, os vilões, armados delas para que possam usá-las, precisam apelar para que conflitos se encerrem e outros surjam. Eliana podia parar por aí, já que estaria cumprindo seu propósito de vilã. Porém, talvez devido ao brilho e à presença cênica louváveis de Sophie Charlotte, ela transita em um verdadeiro carrossel de emoções, no qual movimenta outros personagens e abrilhanta a história. Ótimas foram as sequências em que a personagem interagiu com Norberto (Matheus Nachtergaele, também muito bom em cena), ao longo da última semana. E ela não para por aí: o envolvimento com Egídio, o grande vilão, deve trazer novos trunfos à complexa personagem.
Tamanha intensidade e necessidade de movimento dão para Eliana um dinamismo que contrasta ao teor psicológico e mais analítico que perpassa pelo painel de ricos personagens que atravessam Renascer. É uma peça a que o autor, Bruno Luperi, pode ter a certeza de poder recorrer sempre. Graças ao trabalho de Sophie, que vem de composições de alto nível, na TV, no streaming e no cinema, Renascer ganhou um trunfo para movimentar sua história, seja através de conflitos originais, que o autor mantém, ou a partir de novos conflitos, que ele confiou a alguns personagens e pode fazer tranquilamente com essa. Inclusive, a ótima química cênica demonstrada entre Sophie Charlotte e Theresa Fonseca, intérprete da protagonista, Mariana, pode ser aproveitada pelo autor, que, segundo notícias recentes, quer transformar Mariana numa grande vilã.