O inesquecível “beijo” da Chama Olímpica

Por Andrea Lopes, jornalista

Rede Nacional do Esporte
4 min readMay 6, 2016
Foto: Arquivo pessoal

Fiquei sem dormir e anestesiada por umas 24 horas, eu acho. Foi difícil conseguir colocar em ordem todas as emoções que vivi no dia 3 de maio de 2016. Um simples depoimento, em um site, se transformou na condução da chama olímpica — algo tão grande, tão mundial, tão surreal que é difícil acreditar que a conduzi por 200 metros.

Até chegar a esse momento, muita água foi movida — literalmente! Minha paixão pelo esporte começou ainda pequena, na natação. A partir dos 13, competindo pelo Minas Brasília, tive a oportunidade de absorver do esporte, das viagens, das equipes pelas quais passei e dos técnicos que me acompanharam os valores que me compõem: como a disciplina, o respeito ao próximo e o aprendizado após as derrotas. Esses valores me conduziram até o dia de hoje. Seja nadando, entrevistando ídolos, durante minha atividade como jornalista, seja na minha jornada como mãe, na vida em família ou nos trabalhos voluntários.

Foto: Arquivo pessoal

Nas mais de 4 horas em que fiquei esperando para o “beijo da chama”, aquele em que o fogo passa de um objeto para outro, aproveitei para revisitar esses momentos na memória. E era inevitável não chorar (logo eu que nem choro…hehe). Fiquei imaginando quem eu representaria no momento em que corresse com a flama que tanto significa para o mundo há anos. Pensei nos meus pais, pensei nos meus filhos e no meu marido, pensei em todas as pessoas que conheci em quase 10 anos de voluntariado esportivo e pensei nas crianças da Abrace (instituição que auxilia no tratamento de crianças com câncer e que ajudo por meio de um projeto social). Foi por todas as experiências vividas com essas pessoas que cheguei até esse momento.

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Lembrando de tudo isso, horas antes, na concentração para meu grupo, veio a Nayara (do Comitê Rio 2016) e perguntou como eu estava me sentido, pois estava mais calada que o resto do grupo, e o que consegui responder foi: “Esse é um dia de coroação de uma linda fase da minha vida. Fiz 30 anos, me dediquei pelo menos metade desses anos à natação e ao esporte e hoje estou aqui, emocionada, vivendo esse momento com pessoas incríveis”. E incríveis mesmo! Conheci pessoas que trabalham pela educação de crianças e jovens, uma coordenadora de um abrigo, estudantes e reencontrei o querido João José Viana, o Pipoka, que já tive a honra de entrevistar algumas vezes antes de ele se aposentar. Um dos caras mais sensacionais do basquete brasileiro. Nosso grupo teve a honra de escutar dele como foi disputar três edições de Jogos Olímpicos!

“Esse é um dia de coroação de uma linda fase da minha vida. Fiz 30 anos, me dediquei pelo menos metade desses anos à natação e ao esporte e hoje estou aqui, emocionada, vivendo esse momento com pessoas incríveis”

Jornalista gosta de história, né? Então, ouvi atentamente cada narrativa apresentada e, juntos, vibramos todos uns pelos outros na hora de sair do ônibus para a tão esperada “corridinha”. E quando chegou a minha vez, não teve como. Eu tremi. Eu chorei. Sai do ônibus e as pessoas me abraçavam, me beijavam, tiravam fotos. A rua estava lotada de crianças, de pais, de pessoas que estavam esperando algo que a chama tem para dar: esperança! Eu tive a sensação de que estava flutuando. Eu e a tocha! Naquele momento, vi a maioria das pessoas despreocupadas e curtindo o momento como eu. Foi lindo! Eu não quis correr. Queria que aqueles 200 metros se tornassem 1km. Queria que meu filho me visse realizando mais um sonho (e ele viu! ❤), queria congelar tudo para que, daqui a alguns anos, eu pudesse contar aos meus netos que eu tinha vivido esse momento histórico no meu país! E que tudo tinha dado certo!

“Quando chegou a minha vez, não teve como. Eu tremi. Eu chorei. Sai do ônibus e as pessoas me abraçavam, me beijavam, tiravam fotos. A rua estava lotada de crianças, de pais, de pessoas que estavam esperando algo que a chama tem para dar: esperança!”

Foi rápido, mas tenho a certeza de que foi o suficiente para me marcar, para me transformar mais um pouquinho. E foi ainda mais sensacional entrar no ônibus extasiada, boba, olhando para aquele objeto queimado! hehe. Ver tanta gente se mobilizar por um símbolo, é muito louco! E até agora, olho para a tocha e volto a pensar: que louco!

Foto: Arquivo pessoal

E se não bastasse toda a emoção, terminei ouvindo uma declaração do Pipoka para o nosso grupo de condutores: “Estou inebriado com o que aconteceu com a gente, extremamente feliz por ter compartilhado um momento curto mas bastante intenso de muita alegria”. Ele conseguiu resumir! É exatamente assim que me sinto! Valeu a pena cada segundo dessa experiência! Agora é acompanhar os outros mais de 11 mil condutores até a chegada ao Rio e assistir aos Jogos mais sensacionais da história! #Orgulhosa #Feliz #Inebriada #Anestesiada

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Perfil oficial do Governo Federal sobre a preparação dos atletas brasileiros rumo a Tóquio 2020.