Covid-19 e a Guerra as Drogas

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Tropas do Exército passam pelo bairro de Anchieta, na zona norte do Rio de Janeiro, durante intervenção federal de 2018 (RJ).

Há semanas ouvimos falar praticamente sobre um único assunto, e todos os projetos de conscientização social visam: conter ondas de contaminação do COVID-19 e evitar sobrecarga do sistema de saúde. Isso sabemos — e esperamos — que você já tenha entendido.

A guerra contra o Corona Vírus escancarou a necessidade da pesquisa universitária, a veracidade de estudos científicos e principalmente, as grandes falhas no sistema socioeconômico que têm colocado tudo isso em risco. Estamos falando sobre a desinformação em massa com uma pitada de ignorância à argumentos científicos junto à FAKE NEWS ou comportamentos contraditórios de quem deveria nos servir de exemplo.

Enquanto uma parcela já bem estabilizada da população pede o retorno das atividades econômicas, grandes veículos de comunicação e boa parte dos governantes conseguem dar o devido valor à evidências científicas cada dia mais, se preocupando e protegendo a saúde pública.

Entendemos nessa crise que a informação e pesquisa TRANSFORMAM uma sociedade.

Basicamente, a pandemia junto com a informação tem nos ajudado a afrontar interesses preconceituosos e conservadores, nos permitido questionar autoridades e nos reconstruir em cima do que lemos e aprendemos. Imagina quantas pessoas já não se arrependeram de CERTAS escolhas durante esse período? Mas ainda assim, imagina quantas pessoas relutam sem motivos contra as mesmas evidências?

O que isso tem a ver com a cultura cannábica?

Pois bem, se tem uma coisa que a pandemia nos mostrou é que os políticos, as leis, as medidas provisórias, são SIM capazes de seguir evidências científicas. E sabe uma coisa que a guerra ao corona e a guerra às drogas tem em comum? APOROFOBIA e ANALFABETISMO CIENTÍFICO.

O medo do pobre, preconceito com as classes mais baixas e a desmoralização de pesquisas e recomendação de autoridades de saúde. O descaso do alto escalão com a saúde e segurança pública gritam nas duas guerras (biológica e estrutural).

Hoje o Brasil já é considerado um dos países mais retrógrados em termos de política e legislação antidrogas e cravou uma guerra sem fim contra um inimigo invisível, com um número de mortes anuais que é absurdamente maior do que os mortos por dependência de drogas ilícitas.

Só no ano de 2019 foram 5.804 mortes na guerra ao tráfico (fonte: Atlas da Violência/IPEA), enquanto o número de mortos por uso de substâncias ilícitas foi 351 no mesmo período (fonte: Sistema de Informações Sobre a Mortalidade).

Durante a pandemia do COVID-19, o distanciamento e isolamento social no Rio de Janeiro, por exemplo, tem aumentado desde o início de Abril. Com isso, as operações policiais nas comunidades, que tem como premissa a luta ao tráfico foram cortadas em 74% trazendo uma baixa no número de mortos por violência nesse período de pouco mais de 60%. Isso não significa que a favela tem respirado nos últimos meses; apenas o 14° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi responsável em Abril por 44% das mortes da Zona Norte do Estado mesmo em meio à crise. Além de as taxas de apreensão de drogas nas fronteiras entre os estados brasileiros terem praticamente dobrado nesses últimos meses.

Quando comparamos os dados, percebemos que a guerra não tem como objetivo o fim do tráfico ou do uso de drogas, é evidente que o interesse por trás é o ataque à uma população que carece de oportunidades e infraestrutura básica, consequentemente, dando continuidade ao caos no sistema carcerário e colocando uma cortina de fumaça em quem realmente faz o mal nesta guerra: grandes barões do tráfico, chefões da milícia, políticos e policiais corruptos.

A BRISA É: Se relutamos para aceitar a ciência mesmo com evidências em assuntos primordiais para o nosso desenvolvimento e sobrevivência como sociedade, como convencer uma população inteira que suas crenças e costumes não caminham junto à proteção da saúde pública?

A empatia com o próximo precisa vir de todos os âmbitos senão, só reafirma que as mortes que impactam são as do ricos que voltaram do exterior e não dos trabalhadores taxados de traficantes que residem em áreas mais pobres.

Pesquisa e texto: Kyalene Mesquita e Isabela Gomes Gil.

Fontes

Debate com especialistas Casa do Saber: Pandemia e Guerra as Drogas com Julita Lemgruber, Sidarta Ribeiro, Flávio Lobo e Mario Vitor Santos https://www.youtube.com/watch?v=8Tn1vJwaeoM

Monitor da Violência: http://especiais.g1.globo.com/monitor-da-violencia/2018/mortos-por-policiais-no-brasil/?_ga=2.152756985.1321792130.1588974672-1341616859.1588974672

Atirgo El País: https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-04-21/a-guerra-as-drogas-a-luz-da-pandemia.html

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Antiproibicionismo e Redução de Danos

Apenas mais uma fonte de informações e diálogos sobre Antiproibicionismo e Redução de Danos | Por Isabela Gil & Kyalene Mesquita reduzindodanoscontato@gmail.com