Qual é o recurso mais precioso que você pode dar para o usuário mobile?

Renata Lopes
4 min readDec 4, 2016

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Quem lembra quando a web 1.0 chegou e todos os sites eram extremamente parecidos uns com os outros? Quem lembra daqueles sites piscantes, ou mesmo do Flash. Pobre Flash, ainda bem que quando comecei minha jornada no design em 2008 ele já estava para morrer, não perdi muito tempo com ele.

Lógico que o tempo passou e assim chegou a web 2.0, a evolução das linguagens de programação e o principal, o marketing digital, dessa forma, a estética passou a ser um elemento importante em uma web cada vez mais competitiva.

Em 2016 muito se falou, se criou e se transformou em Flet Design, para quem não sabe, é aquele design que apresenta quase a ausência de efeitos, é planificado, sem sombras, entalhes, gradientes, é bastante focado na tipografia, nas cores primárias, secundárias e em vetores. É aquela coisa de que mais é menos, design minimalista e bla-bla-bla. Sinceramente, ok é bonitinho, e apresenta uma carga alta de visibilidade, mas ninguém ganha daquele layout bem construído com profundidade, aquele que o usuário tem vontade de entrar dentro da tela para desbravar, surfar, navegar.

Se tudo fosse resolver virar flet, é o mesmo que regredir para a web 1.0, nem tudo combina, mas também não dá para se trabalhar só com relevos e efeitos, como se estivesse dentro de um powerpoint de mal gosto no windows 95. Como todo final de ano, muito já tem se especulado sobre quais serão as tendências para 2017. Falam da volta dos gradientes e das cores vibrantes, mas eu mesma, aposto são nas micro interações, coisa que o Facebook, o Google e outros grandões já vêm praticando.

Micro interação é tudo aquilo que faz você sentir que um site ou app é mais humano, pessoal e divertido, são aqueles efeitos que fazem seus olhos ficarem grudados na tela pois o feedback que está te dando de uma ação traz uma carga cognitiva bacana. Chega de trabalhar com design de interface como se ele fosse apenas um design estético, hoje design está muito mais relacionado sobre o tipo de interações que ele vai abordar entre o usuário e a aplicação.

“The difference between a product you love and a product you tolerate is often the microinteractions you have with it.” DAN SAFFER

O Design como um todo já deixou a muito tempo de ter a ver apenas com botões, cores e onde estão localizados no layout, agora se trata muito mais de como escolher as ferramentas certas para que trabalhem bem, ou seja, não se trata de como um sistema parece, mas sim de como ele funciona.

Clareza, concisão, familiaridade, capacidade de resposta, consistência, estética, eficiência (economizar o tempo do usuário), perdoar (não punir os usuários pelos erros), são algumas das questões que devem ser pensadas no desenvolvimento de uma aplicação mobile ou desktop. Em uma explicação macro, muito se resume na affordance percebida.

Da semiótica pura, affordance é a capacidade do ser humano em perceber as propriedade de uma ação dentro de um ambiente, seja virtual ou não, trata-se da capacidade do objeto em se comunicar conosco, é o que permite que um indivíduo realize uma ação. Um call to action por exemplo (link), trata-se de uma affordance percebida, é um elemento de interação que fala por sí, ele gera e nos dá uma ideia de ação. Isso está em todos os lugares, inclusive na maçaneta de uma porta ou no ligar de um fogão.

O que eu quero dizer sobre as affordances, é que ela pode ser uma affordance percebida, falsa ou escondida, agora a pior de todas é a quebra no padrão. Um exemplo: não tomar o devido cuidado para que os itens clicáveis pareçam clicáveis, como também com aqueles que não são clicáveis não ter o mesmo aspecto dentre os que são. Trata-se da relação de ação do usuário com o objetivo.

A affordance é o que guia o usuário naturalmente a alcançar o objetivo dele, uma pergunta simples quando estiver desenvolvendo algo, é: o que você pensa que isso faz? Sabe aquelas cadeiras estranhas, que não dá para saber se é pra sentar ou se é pra enfeitar, tipo isso, na navegação de um sistema é imperdoável.

Como uma amante da semiótica, eu poderia ficar parágrafos falando sobre affordance, mas aonde eu quero chegar é na importância de respeitá-las para construir um design eficiente e o quanto que as micro interações podem ajudar neste quesito, principalmente nos dispositivos móveis.

Uma coisa que ajuda bastante também, é refletir sobre como estão as suas affordances e micro interações na vida pessoal? As pessoas estão entendendo qual ação elas devem tomar com você? As suas micro interações de feedback, como responder uma mensagem em um tempo legal, estão boas? Nós queremos e estudamos para que nosso sistema seja o melhor, mas não nos preocupamos se somos apenas aturados pelos nossos usuários, a experiência está em tudo, não apenas nas coisas.

Dispositivos móveis podem ser usados em qualquer hora e lugar e o design precisa ser flexível e se ajustar a todos os cenários potenciais. Dessa maneira, a affordance passa a ser elemento chave a ser respeitado. O mobile apresenta telas pequenas e estímulos rudimentares como o toque/tap, tem que ser fácil! Não se esqueça, o recurso mais precioso que você pode dar para o usuário mobile é uma falsa ou real economia dos dados de kilobytes transferidos (quando não estiver no wifi), ele quer sinais de que ali mora a ação de um caminho rápido para as respostas dele, mas ao mesmo tempo, dar feedbacks e manter os olhos dele compenetrados naquela telinha é importante!

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